São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Flórida investiga sumiço de 58 mil cédulas; sensação de fraude domina Estados considerados chave na disputa, como a Pensilvânia

Irregularidades e suspeitas tomam eleição

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À FILADÉLFIA

Parece um grotão perdido no Brasil, mas é a Pensilvânia, o segundo mais importante Estado dos 18 que a revista "Time" diz que estão equilibrados demais para apontar antecipadamente um ganhador: desde 1995, a Pensilvânia perdeu 13% dos seus habitantes, mas o número de eleitores que se inscreveram para votar na terça-feira aumentou 24%.
Fraude à vista? Não necessariamente, porque votar não é obrigatório, o que significa que muita gente pode simplesmente não ter se interessado até agora por se inscrever. Como a eleição de 2004 mobilizou mais que qualquer outra recente, pode ter havido um exponencial aumento do interesse pelo voto, o que levou 438 mil pessoas a se inscreverem.
Mas a suspeição permanece porque o número total de eleitores inscritos (8 milhões) é mais ou menos igual ao da população maior de 18 anos (idade mínima para votar). Logo, ou há inscrições irregulares, ou ninguém na Pensilvânia deixou de se inscrever para votar, mesmo sendo o voto voluntário, o que seria uma tremenda novidade.
Como, em outros Estados, foram encontrados registros em nome, por exemplo, do jogador de basquete Michael Jordan ou do pugilista George Foreman, há razões para supor que a primeira hipótese seja a mais provável.

Vencedor ilegítimo
Aliás, 48% dos norte-americanos acham que pode prevalecer um ganhador ilegítimo, conforme pesquisa encomendada também pela revista "Time".
Ontem, por exemplo, autoridades da Flórida anunciaram que estão à procura de 58 mil cédulas para voto pelo correio que foram perdidas no condado de Broward. A supervisora da eleição do Estado, epicentro do caos eleitoral de 2000, disse que se trata apenas de "um atraso extraordinário dos Correios" -que negaram.
As inscrições com cheiro de maracutaia não são a única coincidência com os velhos métodos no fundão do Brasil: os republicanos tentaram mudar de local 63 seções eleitorais da Filadélfia, a principal cidade do Estado (a capital é Harrisburg), alegando que estavam em bairros perigosos.
A comunidade afro-americana gritou na hora: "Querem cassar o nosso voto", reclamou J. Whyatt Mondesire, chefe local de uma das principais entidades de defesa dos negros, maioria nos bairros que seriam afetados pela mudança, brecada pela Justiça.
Os afro-americanos são fortemente pró-John Kerry, o candidato democrata: 69% deles pretendem votar nele contra apenas 18% para o presidente George W. Bush, conforme pesquisa do Centro Conjunto para Estudos Políticos e Econômicos de Washington, especializado em temas da comunidade negra.

Campos de batalha
Fraude à vista ou não, o fato é que a Pensilvânia tornou-se um dos Estados considerados decisivos, com seus 21 "grandes eleitores". Entre os tidos como indefinidos, só a Flórida tem mais (27).
O voto nos Estados Unidos não é direto. O eleitor elege, na verdade, um Colégio Eleitoral de 538 membros que, este sim, elege o presidente, em um sistema polêmico, o do "vencedor-leva-tudo".
Ou seja, mesmo que Kerry tenha apenas um voto a mais que Bush na Pensilvânia, fica com os 21 "grandes eleitores" do Estado. Foi por isso que, em 2000, o democrata Al Gore ganhou de Bush no voto popular, mas perdeu no Colégio Eleitoral.
Gore venceu na Pensilvânia, assim como Bill Clinton nas suas duas eleições (1992 e 96), mas, nos anos 80, o Estado votava pelos republicanos.
Por isso, está em duas listas da mídia norte-americana: a dos "swing states" (os Estados que mudam de voto) e dos "battlefield states" (os campos de batalha que decidirão a eleição).


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