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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Flórida investiga sumiço de 58 mil cédulas; sensação de fraude domina Estados considerados chave na disputa, como a Pensilvânia
Irregularidades e suspeitas tomam eleição
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À FILADÉLFIA
Parece um grotão perdido no
Brasil, mas é a Pensilvânia, o segundo mais importante Estado
dos 18 que a revista "Time" diz
que estão equilibrados demais para apontar antecipadamente um
ganhador: desde 1995, a Pensilvânia perdeu 13% dos seus habitantes, mas o número de eleitores
que se inscreveram para votar na
terça-feira aumentou 24%.
Fraude à vista? Não necessariamente, porque votar não é obrigatório, o que significa que muita
gente pode simplesmente não ter
se interessado até agora por se
inscrever. Como a eleição de 2004
mobilizou mais que qualquer outra recente, pode ter havido um
exponencial aumento do interesse pelo voto, o que levou 438 mil
pessoas a se inscreverem.
Mas a suspeição permanece
porque o número total de eleitores inscritos (8 milhões) é mais ou
menos igual ao da população
maior de 18 anos (idade mínima
para votar). Logo, ou há inscrições irregulares, ou ninguém na
Pensilvânia deixou de se inscrever
para votar, mesmo sendo o voto
voluntário, o que seria uma tremenda novidade.
Como, em outros Estados, foram encontrados registros em nome, por exemplo, do jogador de
basquete Michael Jordan ou do
pugilista George Foreman, há razões para supor que a primeira hipótese seja a mais provável.
Vencedor ilegítimo
Aliás, 48% dos norte-americanos acham que pode prevalecer
um ganhador ilegítimo, conforme
pesquisa encomendada também
pela revista "Time".
Ontem, por exemplo, autoridades da Flórida anunciaram que
estão à procura de 58 mil cédulas
para voto pelo correio que foram
perdidas no condado de Broward.
A supervisora da eleição do Estado, epicentro do caos eleitoral de
2000, disse que se trata apenas de
"um atraso extraordinário dos
Correios" -que negaram.
As inscrições com cheiro de maracutaia não são a única coincidência com os velhos métodos no
fundão do Brasil: os republicanos
tentaram mudar de local 63 seções eleitorais da Filadélfia, a
principal cidade do Estado (a capital é Harrisburg), alegando que
estavam em bairros perigosos.
A comunidade afro-americana
gritou na hora: "Querem cassar o
nosso voto", reclamou J. Whyatt
Mondesire, chefe local de uma
das principais entidades de defesa
dos negros, maioria nos bairros
que seriam afetados pela mudança, brecada pela Justiça.
Os afro-americanos são fortemente pró-John Kerry, o candidato democrata: 69% deles pretendem votar nele contra apenas 18%
para o presidente George W.
Bush, conforme pesquisa do Centro Conjunto para Estudos Políticos e Econômicos de Washington, especializado em temas da
comunidade negra.
Campos de batalha
Fraude à vista ou não, o fato é
que a Pensilvânia tornou-se um
dos Estados considerados decisivos, com seus 21 "grandes eleitores". Entre os tidos como indefinidos, só a Flórida tem mais (27).
O voto nos Estados Unidos não
é direto. O eleitor elege, na verdade, um Colégio Eleitoral de 538
membros que, este sim, elege o
presidente, em um sistema polêmico, o do "vencedor-leva-tudo".
Ou seja, mesmo que Kerry tenha apenas um voto a mais que
Bush na Pensilvânia, fica com os
21 "grandes eleitores" do Estado.
Foi por isso que, em 2000, o democrata Al Gore ganhou de Bush
no voto popular, mas perdeu no
Colégio Eleitoral.
Gore venceu na Pensilvânia, assim como Bill Clinton nas suas
duas eleições (1992 e 96), mas, nos
anos 80, o Estado votava pelos republicanos.
Por isso, está em duas listas da
mídia norte-americana: a dos
"swing states" (os Estados que
mudam de voto) e dos "battlefield
states" (os campos de batalha que
decidirão a eleição).
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