|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mães se unem na dor por filhos mortos ou presos ao optar "pela montanha"
DO ENVIADO A DIYARBAKIR
Mães pela Paz. Para muitos
turcos, o nome dessa organização de mães de guerrilheiros do
PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos) é uma cínica contradição. Como podem ser pela
paz se representam membros
de um grupo terrorista que já
causou tantas mortes no país?
Para as 35 mulheres que se
reúnem diariamente em um
apartamento de dois quartos
transformado em sede da organização, num bairro de classe
média da região central de Diyarbakir, esse pensamento reflete a intolerância que ajuda a
perpetuar o sangrento conflito
entre curdos e turcos.
"Todas aqui perderam um,
dois, até três filhos em confrontos com as forças de segurança
turcas, ou esperam há anos que
sejam libertados da prisão. Mas
continuam a acreditar na paz",
diz Sultan Hamoula, 60, uma
das mais jovens do grupo.
Seu filho tinha 14 anos ao ser
preso quando lutava nas fileiras
do PKK. "Foi torturado, apanhou, foi mantido isolado. Hoje
tem 39 e ninguém sabe direito
se um dia será libertado. Mas
eu espero."
A trágica história de Sultan é
uma das mais amenas entre os
relatos ouvidos no escritório da
organização. Criada há sete
anos em Istambul, dois anos
depois estendeu suas atividades a Diyarbakir. O objetivo era
buscar o consenso através da
dor. Não funcionou.
"Em cinco anos estiveram
aqui dezenas de jornalistas estrangeiros, mas apenas um turco. E o que ele fez? Em vez de
ouvir nossas histórias, tentou
nos convencer de que nossos filhos eram terroristas", diz Dilsah, 68, que prefere não dizer o
sobrenome.
Em seguida ela conta a sua
história. Um ano antes de se
formar na universidade, o filho
mais novo, com pouco mais de
20 anos, concluiu que não
adiantava estudar e que a única
maneira de conquistar direitos
iguais aos dos turcos, sendo
curdo, era "ir para as montanhas" -expressão usada para
alguém que entrou para o PKK.
"Logo começou o assédio do
Exército. Vinham quase diariamente e perguntavam onde estava meu filho, mas nós não sabíamos de nada. Depois passaram a jogar cartas mandando
que deixássemos a região. Como não obedecemos, incendiaram nossa casa", conta Dilsah.
"Mas não parou por aí. Foram
atrás de um outro filho meu e o
espancaram até a morte em Istambul. Depois também mataram meu marido. Agora só me
resta um filho, que saiu há pouco da prisão."
Enquanto descrições de abusos cometidos pelo Exército
prosseguem, um após o outro,
um choro irrompe no quarto ao
lado. Uma das mães acabou de
saber pela internet que seu filho foi morto em um incidente
com o Exército.
Hanim, 65, também perdeu
três filhos "nas montanhas",
um de 16, um de 17 e outro de
20. Ela não guarda ressentimento contra o grupo que seus
filhos morreram defendendo.
"O PKK é a única esperança de
justiça para os curdos", diz ela,
que não vê contradição em
apoiar a guerrilha e lutar pela
paz . "Procuramos mães turcas
que perderam soldados, mas
não fomos recebidas. Só queríamos dizer: sua dor também é
a nossa." (MN)
Texto Anterior: Pobreza e repressão nutrem fileiras do PKK Próximo Texto: Violência é sombra em eleição na Colômbia Índice
|