São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Duas fábricas perto de Bagdá são visitadas na abertura dos trabalhos; equipe fica satisfeita com a colaboração

Inspetores elogiam iraquianos no 1º dia

Hussein Malla/Associated Press
Jornalista iraquiano dorme sob retrato gigante do ditador Saddam Hussein, do lado de fora de fábrica de grafite vistoriada ontem pelos inspetores de armas da ONU


DA REDAÇÃO

Os inspetores de armas da ONU no Iraque iniciaram ontem seu trabalho com duas vistorias de surpresa nos arredores de Bagdá -numa indústria suspeita de servir como local de testes de mísseis e numa fábrica que poderia estar sendo usada para desenvolver armas nucleares. As vistorias foram as primeiras desde 1998, quando os inspetores da ONU foram expulsos do país após terem sido acusados pelo Iraque de espionar para os EUA. A volta das inspeções foi garantida por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU aprovada no dia 8.
Os EUA, que propuseram a resolução, ameaçam atacar militarmente o Iraque se o país não cooperar com as inspeções. O governo americano acusa o ditador iraquiano, Saddam Hussein, de desenvolver armas de destruição em massa. O Iraque nega.
Os inspetores não comentaram o resultado das vistorias, mas elogiaram a cooperação iraquiana no primeiro dia. "Esperamos que a reação iraquiana de hoje represente o padrão futuro de cooperação", afirmou Jacques Baute, líder da equipe de inspetores nucleares.
Durante o dia, sirenes de aviso para bombardeios aéreos soaram em Bagdá, poucas horas após o início das inspeções, mas foram seguidas por outras sirenes que indicavam que estava tudo bem.
Um funcionário da Defesa Civil iraquiana, que pediu anonimato, disse que o aviso soou após a identificação de um "vôo hostil" sobre a capital. Um porta-voz militar americano da base aérea Príncipe Sultan, na Arábia Saudita, não quis comentar o incidente.

Questões respondidas
As inspeções transcorreram sem incidentes. O chefe da fábrica militar Al Tahadi, Haitham Mahmud, disse que foi "surpreendido" pela chegada dos inspetores, mas que os atendeu plenamente. "Eles nos fizeram perguntas e nós respondemos a todas elas", disse. O complexo, a cerca de 20 km de Bagdá, mantém bombas de água e maquinário, segundo ele.
Os inspetores chegaram ao local em três jipes brancos da ONU, seguidos por um grande comboio de cerca de 50 carros de jornalistas, que foram mantidos do lado de fora, perto de um retrato de Saddam com o slogan "Deus proteja o Iraque e Saddam".
Outros cinco jipes com inspetores seguiram para o complexo de Al Rafah, a 40 km de Bagdá. Baseados em fotos de satélite, analistas de inteligência dos EUA dizem que uma base para teste de mísseis maior que o permitido pelas resoluções da ONU pode ter sido construída no local. O Iraque é proibido de desenvolver mísseis com alcance superior a 150 km.
Os inspetores passaram cinco horas no complexo, onde verificaram estruturas, conversaram com os funcionários e fotografaram documentos. "Eles não encontraram nada, porque não temos nada de ilegal", disse o diretor do complexo, o engenheiro militar Ali Jassam Hussein.
O embaixador do Iraque na ONU, Mohammed al Douri, disse ontem a uma rádio egípcia que o país não teme as inspeções. "O Iraque não está com medo do trabalho dos inspetores porque não tem nada a esconder. Mas o Iraque teme que os inspetores possam abusar de sua autoridade e provocar problemas que os EUA possam usar como justificativa para bombardear o país", disse.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que a cooperação do Iraque com as inspeções é "a única forma de evitar um conflito na região". O grupo que iniciou o trabalho ontem tinha 17 inspetores, de um total de cem que estarão no país até o final do ano.

Com agências internacionais


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