São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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Tolerância marca carreira e obra de Tariq Ramadan

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Muçulmano, o acadêmico suíço Tariq Ramadan, 42, tornou-se em agosto protagonista involuntário de um escândalo internacional, quando o Departamento de Segurança Interna dos EUA cassou, sem explicações, o visto de residente que ele obtivera em fevereiro para lecionar na Universidade Notre Dame, em Indiana.
Americanos partidários da liberdade acadêmica classificaram a decisão de "islamofóbica" e disseram que os serviços de inteligência suíço e britânico haviam afastado Ramadan da suspeita de conspirações radicais.
Não seria nem preciso evocar relatórios de espiões. Bastaria ler um de seus 11 livros, como o "Ser Muçulmano Europeu" (1998), traduzido em 14 idiomas, para compreender suas posições inequivocamente ancoradas na tolerância.
Formado em filosofia e em letras pela Universidade de Genebra, doutor em filosofia e islamismo, Ramadan leciona na Universidade de Friburgo e no Colégio de Saussure, em Genebra (Suíça). É casado e tem quatro filhos.
Sua notoriedade cresceu rapidamente há pouco mais de dez anos. Ele tinha uma proposta nova para descendentes de imigrantes árabes na Suíça ou na França, que vivem problema de identidade religiosa e cultural.
Ramadan afirmava, em síntese, que o islamismo que cada um trazia dentro de si era perfeitamente compatível com a sociedade laica e democrática dentro da qual esses jovens cresciam.
Ou ainda: não recomendava que se vivesse pendurado numa ponte que liga duas culturas nem sempre compatíveis, mas que se saísse atrás da especificidade que consiste em integrar uma comunidade minoritária.
O fato de fazer palestras em subúrbios muçulmanos na França deu a Ramadan a dimensão política de um pregador. Algo inexistente, por exemplo, em Edward Said (1935-2003), intelectual de origem palestina cujos escritos permanecem influentes no mundo anglófono.
Com isso, Ramadan atraiu polêmicas enfadonhas. Uma delas, no ano passado, com Bernard-Henri Lévy, concentrava-se na política de Ariel Sharon. Não, não há anti-semitismo no professor suíço. Também é ingênua e fantasiosa a acusação de Daniel Pipes, polemista da extrema direita americana, de que ele teria simpatias recônditas pela Al Qaeda.
São exemplos talvez de algo derivado do 11 de Setembro. As vozes islâmicas tornaram-se menos toleradas. Mesmo quando têm o pedigree da moderação.


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