|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAIBA MAIS
Tolerância marca carreira e obra de Tariq Ramadan
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Muçulmano, o acadêmico
suíço Tariq Ramadan, 42,
tornou-se em agosto protagonista involuntário de um
escândalo internacional,
quando o Departamento de
Segurança Interna dos EUA
cassou, sem explicações, o
visto de residente que ele obtivera em fevereiro para lecionar na Universidade Notre Dame, em Indiana.
Americanos partidários da
liberdade acadêmica classificaram a decisão de "islamofóbica" e disseram que os
serviços de inteligência suíço
e britânico haviam afastado
Ramadan da suspeita de
conspirações radicais.
Não seria nem preciso evocar relatórios de espiões.
Bastaria ler um de seus 11 livros, como o "Ser Muçulmano Europeu" (1998), traduzido em 14 idiomas, para compreender suas posições inequivocamente ancoradas na
tolerância.
Formado em filosofia e em
letras pela Universidade de
Genebra, doutor em filosofia
e islamismo, Ramadan leciona na Universidade de Friburgo e no Colégio de Saussure, em Genebra (Suíça). É
casado e tem quatro filhos.
Sua notoriedade cresceu
rapidamente há pouco mais
de dez anos. Ele tinha uma
proposta nova para descendentes de imigrantes árabes
na Suíça ou na França, que
vivem problema de identidade religiosa e cultural.
Ramadan afirmava, em
síntese, que o islamismo que
cada um trazia dentro de si
era perfeitamente compatível com a sociedade laica e
democrática dentro da qual
esses jovens cresciam.
Ou ainda: não recomendava que se vivesse pendurado
numa ponte que liga duas
culturas nem sempre compatíveis, mas que se saísse
atrás da especificidade que
consiste em integrar uma
comunidade minoritária.
O fato de fazer palestras
em subúrbios muçulmanos
na França deu a Ramadan a
dimensão política de um
pregador. Algo inexistente,
por exemplo, em Edward
Said (1935-2003), intelectual
de origem palestina cujos escritos permanecem influentes no mundo anglófono.
Com isso, Ramadan atraiu
polêmicas enfadonhas. Uma
delas, no ano passado, com
Bernard-Henri Lévy, concentrava-se na política de
Ariel Sharon. Não, não há
anti-semitismo no professor
suíço. Também é ingênua e
fantasiosa a acusação de Daniel Pipes, polemista da extrema direita americana, de
que ele teria simpatias recônditas pela Al Qaeda.
São exemplos talvez de algo derivado do 11 de Setembro. As vozes islâmicas tornaram-se menos toleradas.
Mesmo quando têm o pedigree da moderação.
Texto Anterior: Artigo: Novas estratégias para o Oriente Médio? Próximo Texto: Panorâmica - Reino Unido: Vanessa Redgrave cria partido político Índice
|