São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Comissário denuncia fraude eleitoral na Rússia

Jornal diz que partido de Putin "duplicará" seus votos

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

A cinco dias da eleição parlamentar que deverá garantir uma vitória tranqüila para o partido do presidente Vladimir Putin, começaram a aparecer na Rússia as primeiras denúncias de fraude no pleito.
A primeira surgiu no distrito de Leningrado, que engloba a segunda maior cidade russa, São Petersburgo -a antiga Leningrado. Segundo divulgou a agência oficial RIA-Novosti, o comissário eleitoral do distrito, Vladimir Juralev, identificou um esquema de compra de votos por valores que variavam entre 300 e 1000 rublos (entre cerca de R$ 16 e R$ 80).
Além disso, foi constatada a manipulação do número de votos ausentes -seriam "centenas" de pessoas, segundo ele, envolvidas em desviar cédulas enviadas para as regiões mais remotas. Não foi dito quem seria o beneficiário da fraude.
Em Moscou, o diário de língua inglesa "The Moscow Times" trouxe na manchete a acusação de que chefes de seções eleitorais estão orientados a garantir que o partido de Putin, o Rússia Unida, tenha o dobro dos votos registrados.
A afirmação, feita por uma fonte anônima, foi negada pelo Comitê Central Eleitoral. Segundo a última pesquisa autorizada a ser divulgada antes da eleição, feita na segunda-feira pelo instituto VTsIOM (Centro de Estudos Russo para o Estudo da Opinião Pública), o Rússia Unida deve ter 62% dos votos. Em segundo lugar está o Partido Comunista, com 12%, seguido pelo Partido Liberal Democrata, de Vladimir Jirinovski, com 8%, e pelo Rússia Justa, com 7%. Por uma alteração na Lei Eleitoral em 2006, a cláusula de barreira é de 7% para preencher os 450 lugares da Duma, o Parlamento russo. Com isso, os outros sete partidos não serão representados.
"Sempre é bom lembrar que o instituto é estatal", diz Maria Lipman, do Centro Carnegie de Moscou. "Se por um lado é culpa dos russos a apatia generalizada, não podemos esquecer que tudo conspira por isso. O cidadão comum não está preocupado", afirmou.
Na estação de metrô Tchekovskaia, no centro de Moscou, Viktor Borodin era exemplo disso. Engenheiro aposentado de 74 anos, Borodin lia atentamente as manchetes dos jornais em um grande estande à entrada da estação, um hábito local. "Só falam do Putin desafiando os EUA, e isso é bom. A eleição é uma bobagem, até Putin já disse que o Rússia Unida é um bando de vagabundos", afirmou, enquanto colocava as luvas para enfrentar o frio de 2C -pelo menos.
Referia-se à acusação do presidente de que os EUA querem desacreditar a eleição ao estimular a ausência de monitores internacionais e também ao fato de que Putin já disse que nenhum partido político é bom.


NA INTERNET - Ouça podcast de Igor Gielow sobre as eleições russas www.folha.com.br/073312


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