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Premiê da Índia culpa Paquistão por ataques
Manmohan Singh diz que "haverá custos" se o vizinho e rival não agir contra radicais
Islamabad condena ataques e nega ter envolvimento; inimigos históricos, países disputam a Caxemira e a atenção norte-americana
DA REDAÇÃO
Em seu primeiro pronunciamento sobre os atentados da
véspera em Mumbai, o premiê
indiano, Manmohan Singh,
acusou ontem de forma pouco
velada o vizinho e rival histórico Paquistão pelos ataques.
"Vamos deixar bem claro para nossos vizinhos que o uso do
território deles para lançar ataques contra nós não será tolerado, e haverá um custo caso
eles não tomem as medidas
adequadas", declarou Singh em
discurso televisionado à nação.
"Não estamos envolvidos de
forma nenhuma", rechaçou o
ministro da Defesa paquistanês, Ahmed Mukhtar. Em Islamabad, tanto o premiê Yousaf
Raza Gilani quanto o presidente Asif Ali Zardari condenaram
os atentados. Zardari enfatizou
"a necessidade de tomar medidas rígidas para erradicar o terrorismo da região", e sua Chancelaria ofereceu colaboração
nas investigações.
As declarações não contiveram as acusações indianas. O
general R.K. Hooda, no comando das operações de contraterrorismo no país, afirmou que os
terroristas "vieram do lado de
lá da fronteira". "Talvez de
Faidkot, no Paquistão. Tentaram fingir que eram de Hyderabad [na Índia]", disse o militar.
Para o ministro paquistanês
da Defesa, a divulgação da informação é "precipitada". "Em
casos anteriores, [os indianos]
fizeram acusações como esta e
mais tarde ficou provado que
estavam errados". A Índia atribuiu o atentado a sua embaixada em Cabul, que matou 58 pessoas em julho, a agentes do ISI,
serviço secreto paquistanês. O
episódio não foi esclarecido.
Relações turbulentas
Associado aos grupos separatistas que atuam na região da
Caxemira indiana, o Paquistão
tem adotado, nos últimos meses, uma retórica antiterrorismo mais dura para fortalecer a
desgastada aliança com os
EUA. Washington vê leniência
do país no combate ao extremismo e assinou, neste ano,
acordo nuclear civil com a Índia -o que irritou o Paquistão.
Há dois meses, em entrevista
ao "Washington Post", o premiê Zardari classificou pela
primeira ver como "terroristas" os "mujahedin", combatentes islâmicos da Caxemira.
A relação do governo paquistanês com extremistas, porém,
é complexa. O país, de maioria
muçulmana, tem dificuldade
em conter o radicalismo nas
áreas tribais próximas à fronteira afegã, onde a presença do
Estado é precária e há forte
atuação da milícia Taleban.
Já na militarizada fronteira
indiana a disseminação de doutrinas islamistas favorecem o
Paquistão. A Caxemira, estratégica por abarcar a nascente de
rios importantes, é habitada
majoritariamente por muçulmanos -e a maioria deles se
opõe ao domínio de Nova Déli.
A região -cujo território se
divide entre Índia (60%), Paquistão (30%) e China (10%)-
foi o estopim de 2 das 3 guerras
entre os vizinhos desde a partição e a independência de ambos do Reino Unido, em 1947.
A disputa pela aliança com os
EUA é um ponto a mais a agravar a já conturbada relação.
Ambos tentam firmar-se como
parceiros preferenciais de
Washington, que oscilou historicamente entre aproximações
com a Índia e o Paquistão.
Após o 11 de Setembro, o Paquistão, base de grupos radicais
e vital no combate ao terrorismo, reaproximou-se dos EUA e
recebeu de Washington US$ 10
bilhões pela cooperação.
Mas a derrocada do ex-ditador Pervez Musharraf e a incapacidade paquistanesa de conter os extremistas arrefeceram
a aliança no final de 2007. Politicamente moderada e economicamente mais importante, a
Índia está em vantagem no xadrez político regional.
Ao culpar o Paquistão por
atentados, o país se fortalece
como alternativa ao instável vizinho e ainda, internamente,
escamoteia o descontentamento de minorias indianas.
Com agências internacionais
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