São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Haiti vai às urnas sob suspeita de fraude

Eleição para presidente, que poderá ter 2º turno pela 1ª vez, irá ocorrer em meio à violência e ao surto de cólera

Ex-primeira-dama Maniga tem 36% e governista Célestin, 20%; oposicionista teria sofrido atentado

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Em meio à desconfiança de fraude e atribulado pelo surto de cólera e por episódios de violência, o Haiti vota hoje para escolher o sucessor do presidente René Préval, em disputa que, pela primeira vez, pode ser decidida no segundo turno desde o fim da ditadura Duvalier (1987).
Na sexta, o candidato oposicionista Michel Martelly teria sido alvo de uma emboscada em Cayes, que terminou em um morto e quatro feridos
A Missão de Estabilização da ONU para o Haiti, Minustah, hoje sob comando militar do Brasil, é a principal fiadora da votação que ocorre passados 11 meses do devastador terremoto que matou estimadas 300 mil pessoas.
As eleições de hoje também renovarão um terço do Senado e as 99 cadeiras da Câmara dos Deputados. As legislativas, previstas para fevereiro, foram adiadas por causa da catástrofe.
ONU, União Europeia, Brasil, Organização dos Estados Americanos e a caribenha Caricom insistem que a votação ocorre em melhores condições do que as presidenciais de 2006, adiadas cinco vezes devido à violência. Naquele ano, o país mais pobre da América Latina realizava as primeiras eleições desde a deposição de Jean Bertrand Aristide em 2004.
A votação foi organizada pela CPE (Comissão Provisória Eleitoral), cuja independência em relação ao governo Préval é questionada. Anteontem, dois dos três principais candidatos à Presidência -os opositores Mirlande Manigat e Martelly- acusaram o governo de preparar fraude para favorecer o oficialista Jude Célestin.
A OEA afirma que o sistema eleitoral evoluiu, mas diz que o momento de contagem bruta, no próprio centro de votação, é "delicado", dada a vulnerabilidade à corrupção.

FUTURO SUSPENSO
Anteontem, a campanha de Martelly divulgou que homens armados atiraram contra simpatizantes do candidato num comício em Aux Cayes, no sul. Uma pessoa teria morrido. A informação não havia sido confirmada pelas forças de segurança até o fechamento desta edição.
O temor de novos confrontos entre grupos rivais e a perspectiva de questionamento dos resultados provocam clima de ansiedade, que só deve se dissolver em 7/12, com a divulgação dos primeiros dados da apuração.
Mas o resultado final, para presidente e para o legislativo, deverá ficar para o segundo turno, em 16/1 -deputados e senadores também disputarão segunda votação caso não consigam maioria simples em seus distritos.
As pesquisas de opinião no Haiti são vistas com reserva. Mas o parâmetro mais citado é o levantamento da Brides, o fórum empresarial haitiano. Pelo estudo, a ex-primeira-dama Manigat, com 36% das intenções de votos, é a mais bem colocada, seguida do governista Célestin (20%) e de Martelly (14%), o mais popular cantor do país.
Em 2006, ONU e aliados, incluindo Brasília, acordaram mecanismo que deu vitória majoritária a Préval na primeira votação (obteve 48,8% dos votos), temendo mais caos e enfrentamento.
O Haiti está preparado para um segundo turno desta vez? "Eles não estão acostumados. Mas acho que sim", diz o general brasileiro Paul Cruz, comandante do braço militar da Minustah, que reúne mais de 8.000 homens.


Próximo Texto: Governista defende volta de líder deposto
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.