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Haiti vai às urnas sob suspeita de fraude
Eleição para presidente, que poderá ter 2º turno pela 1ª vez, irá ocorrer em meio à violência e ao surto de cólera
Ex-primeira-dama
Maniga tem 36% e
governista Célestin,
20%; oposicionista
teria sofrido atentado
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
Em meio à desconfiança
de fraude e atribulado pelo
surto de cólera e por episódios de violência, o Haiti vota
hoje para escolher o sucessor
do presidente René Préval,
em disputa que, pela primeira vez, pode ser decidida no
segundo turno desde o fim
da ditadura Duvalier (1987).
Na sexta, o candidato oposicionista Michel Martelly teria sido alvo de uma emboscada em Cayes, que terminou
em um morto e quatro feridos
A Missão de Estabilização
da ONU para o Haiti, Minustah, hoje sob comando militar do Brasil, é a principal fiadora da votação que ocorre
passados 11 meses do devastador terremoto que matou
estimadas 300 mil pessoas.
As eleições de hoje também renovarão um terço do
Senado e as 99 cadeiras da
Câmara dos Deputados. As
legislativas, previstas para
fevereiro, foram adiadas por
causa da catástrofe.
ONU, União Europeia,
Brasil, Organização dos Estados Americanos e a caribenha Caricom insistem que a
votação ocorre em melhores
condições do que as presidenciais de 2006, adiadas
cinco vezes devido à violência. Naquele ano, o país mais
pobre da América Latina realizava as primeiras eleições
desde a deposição de Jean
Bertrand Aristide em 2004.
A votação foi organizada
pela CPE (Comissão Provisória Eleitoral), cuja independência em relação ao governo Préval é questionada. Anteontem, dois dos três principais candidatos à Presidência -os opositores Mirlande
Manigat e Martelly- acusaram o governo de preparar
fraude para favorecer o oficialista Jude Célestin.
A OEA afirma que o sistema eleitoral evoluiu, mas diz
que o momento de contagem
bruta, no próprio centro de
votação, é "delicado", dada a
vulnerabilidade à corrupção.
FUTURO SUSPENSO
Anteontem, a campanha
de Martelly divulgou que homens armados atiraram contra simpatizantes do candidato num comício em Aux
Cayes, no sul. Uma pessoa teria morrido. A informação
não havia sido confirmada
pelas forças de segurança até
o fechamento desta edição.
O temor de novos confrontos entre grupos rivais e a
perspectiva de questionamento dos resultados provocam clima de ansiedade, que
só deve se dissolver em 7/12,
com a divulgação dos primeiros dados da apuração.
Mas o resultado final, para
presidente e para o legislativo, deverá ficar para o segundo turno, em 16/1 -deputados e senadores também disputarão segunda votação caso não consigam maioria
simples em seus distritos.
As pesquisas de opinião
no Haiti são vistas com reserva. Mas o parâmetro mais citado é o levantamento da Brides, o fórum empresarial haitiano. Pelo estudo, a ex-primeira-dama Manigat, com
36% das intenções de votos,
é a mais bem colocada, seguida do governista Célestin
(20%) e de Martelly (14%), o
mais popular cantor do país.
Em 2006, ONU e aliados,
incluindo Brasília, acordaram mecanismo que deu vitória majoritária a Préval na
primeira votação (obteve
48,8% dos votos), temendo
mais caos e enfrentamento.
O Haiti está preparado para um segundo turno desta
vez? "Eles não estão acostumados. Mas acho que sim",
diz o general brasileiro Paul
Cruz, comandante do braço
militar da Minustah, que reúne mais de 8.000 homens.
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