São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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ÁSIA

EUA e Japão exortam Pyongyang a pôr fim a programa nuclear; Moscou acusa Washington de causar crise ao não cumprir acordo

Coréia do Norte expulsa inspetores da ONU

Yonhap/France Presse
O presidente eleito da Coréia do Sul, Roh Moo-hyun (à frente), durante visita a uma base militar do país


DA REDAÇÃO

O governo da Coréia do Norte anunciou ontem que estava expulsando do país os inspetores da ONU responsáveis pelo monitoramento de seu reator capaz de enriquecer plutônio para uso em armas nucleares e que continuaria a reativar suas instalações.
Estas começaram a ser desativadas em 1994, quando Pyongyang e Washington assinaram um acordo que previa, entre outros pontos, o congelamento do programa nuclear norte-coreano. Hoje esse acordo é considerado letra morta por ambas as partes.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que faz parte do sistema da ONU, expressou "preocupação" anteontem com a decisão da administração norte-coreana de reativar um reator nuclear do complexo de Yongbyon, localizado a 80 km da capital do país, Pyongyang.
A agência de notícias estatal norte-coreana, que já acusara os EUA de tentar depor o governo do Estado comunista, afirmou que os inspetores da AIEA não tinham mais o que fazer no país.
"Como o congelamento de nosso programa nuclear foi suspenso, a missão dos inspetores da AIEA, que estão em Yongbyon por conta do acordo de 1994 entre a Coréia do Norte e os EUA, chegou naturalmente a seu fim", disse a agência norte-coreana, citando uma carta enviada ao chefe da AIEA, Mohamed El Baradei. Este declarou anteontem que a atual posição norte-coreana "equivale a uma chantagem nuclear".
"Numa situação em que não há mais justificativa para a presença dos inspetores em nosso país, o governo decidiu mandá-los embora", disse a agência. A notícia é mais um capítulo da crise que, há dois meses, opõe Pyongyang à comunidade internacional.
A agência afirmou ainda que os EUA buscam dar início a um conflito com a Coréia do Norte ao exigir que o governo norte-coreano ponha fim a seu programa nuclear antes que os dois países comecem a negociar.

Reação internacional
Os EUA reagiram duramente ao anúncio de ontem, exigindo mais uma vez que a administração norte-coreana ponha fim a seu programa nuclear. De acordo com a Casa Branca, Washington não abrirá negociações com Pyongyang por causa de "ameaças ou de promessas não cumpridas".
Já o governo japonês exortou a Coréia do Norte a pôr fim a seu "programa de desenvolvimento de armas nucleares", a aceitar "negociar com a AIEA" e a não fazer nada que possa "bloquear uma solução pacífica" para a crise diplomático-estratégica atual.
Segundo especialistas e alguns funcionários do governo dos EUA, a atitude norte-coreana pode ser um blefe para tentar forçar Washington a retomar negociações com Pyongyang.
O presidente eleito da Coréia do Sul, Roh Moo-hyun, afirmou que a atitude de Pyongyang poderá impedi-lo de dar continuidade à política de reaproximação entre as duas Coréias -concebida pelo presidente Kim Dae-jung. Este é favorável a uma política construtiva em relação à Coréia do Norte.
Por outro lado, a Rússia acusou o consórcio internacional responsável por projetos de produção de energia na Coréia do Norte (que é liderado pelos EUA) de provocar a crise atual, pois ele não "cumpriu sua parte" no que se refere ao acordo de 1994.
O consórcio deveria fornecer petróleo à Coréia do Norte em troca do congelamento do programa nuclear do país. Moscou disse ainda que, atualmente, a Coréia do Norte "não tem como construir armas nucleares".

Com agências internacionais


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