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Canadá vê ameaça no extremismo islâmico
Informe sobre o órgão de inteligência diz que foram identificados
"diversos" desses extremistas; muçulmanos são 2% da população
País investigou 274 pessoas
e 31 grupos por suspeitas de
vínculo com terrorismo;
para analistas, preocupação
é que comércio seja mantido
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A OTTAWA
Apesar de os muçulmanos
representarem apenas 2% da
população canadense, um relatório recente do governo do Canadá aponta o extremismo islâmico como a maior ameaça enfrentada pelo país.
O documento, divulgado pelo
órgão independente encarregado de monitorar os trabalhos
do Serviço de Inteligência e Segurança do Canadá (CSIS, na
sigla em inglês), diz que 274
pessoas suspeitas de envolvimento com terrorismo foram
espionadas, além de 31 organizações, entre 2005 e 2006.
Outras 55 pessoas e seis organizações foram investigadas
ainda em operações antiproliferação -que buscam identificar o tráfico de materiais de podem ser usados para produzir
armas químicas, biológicas ou
nucleares.
Segundo o documento, cujas
conclusões foram publicadas
pelo diário canadense "The
Globe and Mail", extremistas
islâmicos "inspirados por ou
relacionados à Al Qaeda" são a
principal ameaça ao país - e
"diversos" desses extremistas
"antes desconhecidos" foram
identificados pelo CSIS .
O governo afirma que 17 indivíduos foram indiciados no país
por "conspiração para cometer
terrorismo", mas nenhum enfrentou julgamento ainda.
Em pelo menos um caso, o
relatório diz que o CSIS recebeu e usou informações "que
podem ter sido obtidas sob
pressão" por um governo estrangeiro. Além disso, forneceu
a um governo estrangeiro com
histórico de abuso de direitos
humanos informações que podem ter levado à prisão de um
canadense naquele país.
Questionamento
O caso mais notório em que a
política antiterror canadense
foi alvo de críticas foi o do sírio
canadense Maher Arar, erroneamente tomado por extremista islâmico pela polícia canadense, deportado por agentes americanos para a Síria, e,
segundo ele, torturado. Em setembro, inquérito oficial concluiu que ele é inocente.
"Isso nos levou a questionar
se estamos tendo um equilíbrio
entre nossos esforços antiterroristas e a proteção dos direitos", disse uma alta fonte do governo em Ottawa. "Mas ao
mesmo tempo, temos consciência de nosso relacionamento com os EUA."
De acordo com analistas canadenses, a política antiterror
do governo do premiê Stephen
Harper se preocupa, de um lado, com que a porosidade da
fronteira, combinada a uma população etnicamente variada,
gere uma percepção de insegurança ou de ameaça.
O próprio Harper lembrou,
em discurso em Nova York em
setembro, que 300 mil cidadãos americanos e canadenses
e mais de US$ 1,5 bilhões de dólares em bens e serviços cruzam a fronteira diariamente.
"Desde o 11 de Setembro, fizemos nossos esforços de segurança doméstica para assegurar que terroristas não venham
ao Canadá, não se refugiem no
Canadá e não passem pelo Canadá, disse ele na ocasião.
"A preocupação do governo é
manter a fronteira com os EUA
aberta", explica o comentarista
político canadense Paul Wells,
da revista "MacLean's". "Melhorar a segurança nas fronteiras é um pré-requisito para a
maior parte da atividade comercial canadense", diz. Segundo ele, cerca de 40% do PIB
do Canadá vem do comércio.
Um alto funcionário do governo canadense vai mais além:
"Nossas economias [EUA e Canadá] são muito integradas em
termos de comércio e de investimentos. Nossa preocupação é
que os EUA não vejam sua
fronteira norte como vê sua
fronteira sul".
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