São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

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Canadá vê ameaça no extremismo islâmico

Informe sobre o órgão de inteligência diz que foram identificados "diversos" desses extremistas; muçulmanos são 2% da população

País investigou 274 pessoas e 31 grupos por suspeitas de vínculo com terrorismo; para analistas, preocupação é que comércio seja mantido

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A OTTAWA

Apesar de os muçulmanos representarem apenas 2% da população canadense, um relatório recente do governo do Canadá aponta o extremismo islâmico como a maior ameaça enfrentada pelo país.
O documento, divulgado pelo órgão independente encarregado de monitorar os trabalhos do Serviço de Inteligência e Segurança do Canadá (CSIS, na sigla em inglês), diz que 274 pessoas suspeitas de envolvimento com terrorismo foram espionadas, além de 31 organizações, entre 2005 e 2006.
Outras 55 pessoas e seis organizações foram investigadas ainda em operações antiproliferação -que buscam identificar o tráfico de materiais de podem ser usados para produzir armas químicas, biológicas ou nucleares.
Segundo o documento, cujas conclusões foram publicadas pelo diário canadense "The Globe and Mail", extremistas islâmicos "inspirados por ou relacionados à Al Qaeda" são a principal ameaça ao país - e "diversos" desses extremistas "antes desconhecidos" foram identificados pelo CSIS .
O governo afirma que 17 indivíduos foram indiciados no país por "conspiração para cometer terrorismo", mas nenhum enfrentou julgamento ainda.
Em pelo menos um caso, o relatório diz que o CSIS recebeu e usou informações "que podem ter sido obtidas sob pressão" por um governo estrangeiro. Além disso, forneceu a um governo estrangeiro com histórico de abuso de direitos humanos informações que podem ter levado à prisão de um canadense naquele país.

Questionamento
O caso mais notório em que a política antiterror canadense foi alvo de críticas foi o do sírio canadense Maher Arar, erroneamente tomado por extremista islâmico pela polícia canadense, deportado por agentes americanos para a Síria, e, segundo ele, torturado. Em setembro, inquérito oficial concluiu que ele é inocente.
"Isso nos levou a questionar se estamos tendo um equilíbrio entre nossos esforços antiterroristas e a proteção dos direitos", disse uma alta fonte do governo em Ottawa. "Mas ao mesmo tempo, temos consciência de nosso relacionamento com os EUA."
De acordo com analistas canadenses, a política antiterror do governo do premiê Stephen Harper se preocupa, de um lado, com que a porosidade da fronteira, combinada a uma população etnicamente variada, gere uma percepção de insegurança ou de ameaça.
O próprio Harper lembrou, em discurso em Nova York em setembro, que 300 mil cidadãos americanos e canadenses e mais de US$ 1,5 bilhões de dólares em bens e serviços cruzam a fronteira diariamente.
"Desde o 11 de Setembro, fizemos nossos esforços de segurança doméstica para assegurar que terroristas não venham ao Canadá, não se refugiem no Canadá e não passem pelo Canadá, disse ele na ocasião.
"A preocupação do governo é manter a fronteira com os EUA aberta", explica o comentarista político canadense Paul Wells, da revista "MacLean's". "Melhorar a segurança nas fronteiras é um pré-requisito para a maior parte da atividade comercial canadense", diz. Segundo ele, cerca de 40% do PIB do Canadá vem do comércio.
Um alto funcionário do governo canadense vai mais além: "Nossas economias [EUA e Canadá] são muito integradas em termos de comércio e de investimentos. Nossa preocupação é que os EUA não vejam sua fronteira norte como vê sua fronteira sul".


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