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Crise pode contaminar região, diz analista
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Além de complicar a aliança
com os EUA, a morte de Benazir Bhutto pode se transformar
em tragédia regional. Para Vanda Felbab-Brown, especialista
em segurança internacional da
Universidade Georgetown
(EUA), o aumento da instabilidade após o atentado não apenas enfraquece Islamabad como ameaça contaminar vizinhos imediatos e mais distantes. Abaixo, trechos da entrevista que Felbab-Brown, ex-membro do Centro Belfer de
Relações Internacionais de
Harvard, concedeu à Folha.
FOLHA - Quem lucra com a morte
de Benazir?
VANDA FELBAB-BROWN - Não o
círculo próximo ao ditador Pervez Musharraf. A maior probabilidade é que tenha sido um
trabalho de grupos jihadistas.
Ela é alvo há tempos de radicais
islâmicos tanto do Paquistão
quanto do Afeganistão.
Benazir também já havia feito acusações contra os serviços
secretos do Paquistão e é possível que eles estejam envolvidos.
E há sempre a chance de que
seja obra de radicais sem ligação com grupos específicos.
FOLHA - Como fica o cenário político paquistanês agora?
FELBAB-BROWN - Este é um
acontecimento muito negativo
para o país, apesar de não ser
inesperado. A morte de Benazir
eleva muito a instabilidade em
um momento em que Musharraf é profundamente impopular e expõe a fragilidade do aparato de segurança.
A aliança com os EUA será
muito afetada. Washington sabe o quanto é precária a legitimidade de Musharraf. Os EUA
contavam inteiramente com a
divisão de poder entre Musharraf e Benazir. Agora os americanos estão encurralados. Eles vinham praticamente ignorando
Nawaz Sharif, que é agora praticamente o único político que
tem apoio significativo no país.
Mas Sharif tem péssimas relações com Musharraf, que o
derrubou em 1999. E Washington também nunca gostou dele,
um muçulmano menos ocidentalizado do que Benazir e que
não fala bem inglês. Quando ele
foi premiê, as relações entre os
dois países eram frias.
FOLHA - A instabilidade pode contaminar outros países da região?
FELBAB-BROWN - Certamente. O
Afeganistão já estava sendo
profundamente afetado pela
crise no Paquistão mesmo antes da morte de Benazir. A fronteira entre os dois países sabidamente abriga grupos radicais, não está sob o controle de
nenhum governo e a situação
vem piorando.
Em relação à Índia, apesar de
não haver ameaça iminente de
confronto, a crescente fragilidade de Islamabad não permite
que o Paquistão dedique energia para a resolução de disputas
sobre a região da Caxemira.
Há cerca de dois anos, quando Musharraf ainda estava forte, ele quis discutir acordos
com a Índia, e Nova Déli não estava interessada. Com o governo tão fraco, fica impossível
imaginar progresso.
Além disso, quanto mais instável fica o país, maior a chance
de seu arsenal nuclear cair nas
mãos de radicais islâmicos. A
instabilidade é prejudicial mesmo para países que não estão
na vizinhança imediata.
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