São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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Crise pode contaminar região, diz analista

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Além de complicar a aliança com os EUA, a morte de Benazir Bhutto pode se transformar em tragédia regional. Para Vanda Felbab-Brown, especialista em segurança internacional da Universidade Georgetown (EUA), o aumento da instabilidade após o atentado não apenas enfraquece Islamabad como ameaça contaminar vizinhos imediatos e mais distantes. Abaixo, trechos da entrevista que Felbab-Brown, ex-membro do Centro Belfer de Relações Internacionais de Harvard, concedeu à Folha.

 

FOLHA - Quem lucra com a morte de Benazir?
VANDA FELBAB-BROWN -
Não o círculo próximo ao ditador Pervez Musharraf. A maior probabilidade é que tenha sido um trabalho de grupos jihadistas. Ela é alvo há tempos de radicais islâmicos tanto do Paquistão quanto do Afeganistão.
Benazir também já havia feito acusações contra os serviços secretos do Paquistão e é possível que eles estejam envolvidos. E há sempre a chance de que seja obra de radicais sem ligação com grupos específicos.

FOLHA - Como fica o cenário político paquistanês agora?
FELBAB-BROWN -
Este é um acontecimento muito negativo para o país, apesar de não ser inesperado. A morte de Benazir eleva muito a instabilidade em um momento em que Musharraf é profundamente impopular e expõe a fragilidade do aparato de segurança. A aliança com os EUA será muito afetada. Washington sabe o quanto é precária a legitimidade de Musharraf. Os EUA contavam inteiramente com a divisão de poder entre Musharraf e Benazir. Agora os americanos estão encurralados. Eles vinham praticamente ignorando Nawaz Sharif, que é agora praticamente o único político que tem apoio significativo no país.
Mas Sharif tem péssimas relações com Musharraf, que o derrubou em 1999. E Washington também nunca gostou dele, um muçulmano menos ocidentalizado do que Benazir e que não fala bem inglês. Quando ele foi premiê, as relações entre os dois países eram frias.

FOLHA - A instabilidade pode contaminar outros países da região?
FELBAB-BROWN -
Certamente. O Afeganistão já estava sendo profundamente afetado pela crise no Paquistão mesmo antes da morte de Benazir. A fronteira entre os dois países sabidamente abriga grupos radicais, não está sob o controle de nenhum governo e a situação vem piorando.
Em relação à Índia, apesar de não haver ameaça iminente de confronto, a crescente fragilidade de Islamabad não permite que o Paquistão dedique energia para a resolução de disputas sobre a região da Caxemira.
Há cerca de dois anos, quando Musharraf ainda estava forte, ele quis discutir acordos com a Índia, e Nova Déli não estava interessada. Com o governo tão fraco, fica impossível imaginar progresso.
Além disso, quanto mais instável fica o país, maior a chance de seu arsenal nuclear cair nas mãos de radicais islâmicos. A instabilidade é prejudicial mesmo para países que não estão na vizinhança imediata.


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