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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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A GUERRA CONTINUA

Pior choque em dez meses entre tropas americanas e rebeldes afegãos mata 18 e mostra que situação é instável

EUA travam violenta batalha no Afeganistão

DA REDAÇÃO

Soldados americanos e forças aliadas empreendiam ontem a mais violenta batalha dos últimos dez meses no Afeganistão, contra um grupo de cerca de 80 combatentes supostamente alinhados com o chefe rebelde Gulbuddin Hekmatyar, adversário do atual presidente Hamid Karzai (apoiado pelos EUA). Pelo menos 18 rebeldes teriam morrido. Não haveria baixas entre os aliados ou civis.
À medida que os EUA concentram seus esforços militares para um provável ataque ao Iraque, as forças americanas em ação no Afeganistão continuam sofrendo ataques localizados, num sinal de que, 15 meses após o início da intervenção americana (outubro de 2001), a situação no país é instável.
O conflito começou anteontem numa região montanhosa e repleta de cavernas ao sul do Afeganistão, a 25 km de Spin Boldak (fronteira com Paquistão). Nos últimos meses, diversos ataques menores contra tropas americanas têm ocorrido na fronteira entre os dois países. Um sargento da Força Aérea morreu na região.
Após o período mais intenso de bombardeio americano (entre o final de 2001 e o início de 2002), militantes do regime extremista do Taleban, deposto pelos EUA, e da Al Qaeda fugiram para o vizinho Paquistão. Militares americanos estão preocupados com a possibilidade de eles estarem de novo treinando no sul do Afeganistão, em aliança com grupos descontentes com Karzai.
"É a maior concentração de forças inimigas desde a Operação Anaconda", disse o porta-voz da base aérea americana de Bagram, Roger King. A referida operação aconteceu em março de 2002 e teve como alvo membros do Taleban e da Al Qaeda refugiados na região montanhosa de Tora Bora.
Segundo King, mais de 350 militares estariam participando da luta do lado americano, além de aliados afegãos. Os combatentes em terra receberam apoio aéreo de bombardeiros americanos B-1, que jogaram 19 bombas de 900 kg sobre posições inimigas.
Também houve participação de aviões F-16 de países europeus aliados dos EUA, entre eles a Noruega -que, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45), participou de um ataque-, e de helicópteros Apache, dos EUA.
"O número de cavernas é bem maior do que esperávamos. Não será algo que superaremos rapidamente", disse o tenente-coronel Mike Shields.
Segundo o porta-voz americano, os rebeldes estariam ligados ao líder afegão Gulbuddin Hekmatyar, 52. Ele foi um dos principais líderes da resistência à ocupação soviética do Afeganistão (1979-89) e recebeu milhões de dólares de ajuda dos EUA. Entre 1989 e 92, continuou a lutar, assim como outros grupos apoiados pelos EUA, para derrotar o regime afegão pró-Moscou.
Entre 1992 e 1996, período em que o Afeganistão estava praticamente sem governo, participou de um cerco a Cabul (capital) que resultou na destruição de 70% da cidade e na morte de 50 mil pessoas. Finalmente, quando a milícia extremista islâmica Taleban tomou a capital, Hekmatyar se exilou no Irã.
Em 2001, após a queda do Taleban, ele rejeitou o acordo patrocinado pela ONU que resultou na formação de um novo governo, liderado pelo presidente Harmid Karzai. Segundo ele, a nova administração foi imposta pelos EUA.
Acredita-se que ele tenha deixado o Irã em 2002 e voltado para o Afeganistão, onde é visto pelo governo como um criminoso de guerra. Ele é suspeito de estar por trás de tentativa de assassinato de Karzai, em setembro último.
Nos últimos meses, o líder rebelde teria proposto uma aliança com remanescentes do Taleban para lutar contra as forças americanas. Também teria oferecido uma recompensa para quem conseguir matar soldados dos EUA.


Com agências internacionais


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