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"Eleição traz mais do mesmo", diz analista
DA REDAÇÃO
As eleições gerais de ontem em
Israel não devem trazer mudanças nas relações entre os palestinos e os israelenses, afirma Gershon Baskin, diretor do IPCRI (sigla em inglês para Centro Israel-Palestina para Pesquisa e Informação).
"Essa eleição só vai nos trazer
mais do mesmo", disse ele em entrevista à Folha, por telefone, de
Jerusalém. "Sharon manterá a
mesma política", afirmou.
Fundado em 1988 em Jerusalém, o IPCRI é o único instituto de
pesquisa de políticas públicas que
reúne especialistas israelenses e
palestinos, com o objetivo de analisar e apresentar soluções práticas para o conflito.
Leia a seguir trechos de sua entrevista:
(MS)
Folha - Que tipo de governo Ariel
Sharon deve compor após a esperada vitória do Likud?
Gershon Baskin - Acho que haverá muita pressão para que o Partido Trabalhista entre na coalizão.
Acredito que, ao final, os trabalhistas vão se aliar ao governo
Sharon, o que pode causar um racha dentro do partido.
O atual líder trabalhista, Amram Mitzna, talvez tenha de sair
do partido, provavelmente formando uma outra facção de centro-esquerda na oposição.
Folha - O fortalecimento do Shinui pode trazer alterações no formato da coalizão de governo?
Baskin - Não acredito na possibilidade de se estabelecer essa chamada coalizão secular de união
nacional. Penso que Sharon não
vai romper a sua tradicional
aliança com os partidos religiosos. Ele deve formar uma maioria
com o seu Likud, os trabalhistas, o
Shas [de judeus sefaraditas], o Judaísmo Unido da Torá [de ortodoxos ashkenazitas, oriundos do
Leste Europeu], o Partido Nacional Religioso [direita nacionalista], o Israel Bealiá [de judeus originários da ex-URSS] de Natan
Sharansky, entre outros.
Isso daria a Sharon mais estabilidade e condições de continuar
no governo. Deve contar com
uma maioria de pelo menos 68
dos 120 deputados. Nesse cenário,
o Shinui ficaria como o maior
partido da oposição.
Folha - Por que o sr. não acredita
na possibilidade de uma aliança secular entre o Likud, os trabalhistas
e o Shinui?
Baskin - O Shinui afirma que só
entra no governo se o Shas e o Judaísmo Unido da Torá ficarem de
fora. Não acho que Sharon esteja
pronto para romper com esses
partidos. Os políticos sempre
pensam nas próximas eleições.
Folha - O novo governo Sharon
terá uma política com relação aos
palestinos diferente daquela que
vimos nos últimos dois anos?
Baskin - Não. Será exatamente a
mesma política, não vejo nenhuma mudança pela frente. Sharon
vai continuar a falar sobre o "road
map" [mais recente proposta diplomática para a pacificação da
região, apresentada por EUA, Rússia, ONU e União Européia,
que prevê retiradas militares israelenses e a criação de um Estado
palestino interino], mas já vem
negociando com os EUA alterações nesse plano. Ele terá apoio de
Washington para não fazer nada.
Folha - O que muda, então, com
as eleições de hoje [ontem]?
Baskin - Essas eleições significam que, daqui a dois anos, teremos eleições novamente. Essa eleição de hoje só vai nos trazer
mais do mesmo.
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