São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Índice

Quênia chega a acordo que divide poder entre facções

DA REDAÇÃO

Para conciliar as partes envolvidas num embrião de guerra civil que em dois meses matou mais de mil pessoas, o Quênia passará a adotar o parlamentarismo. Com isso, o poder estará dividido entre o presidente, Mwai Kibaki, e o líder da oposição, Raila Odinga, a ser indicado para primeiro-ministro.
O acordo, arbitrado por Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, foi anunciado ontem à tarde em Nairóbi, a capital queniana. Annan reuniu-se por seis horas com os dois adversários para os acertos finais do documento de duas páginas, assinado com transmissão por rede de TV.
Os Estados Unidos e a União Européia temiam que o Quênia se transformasse num segundo grande conflito africano, ao lado de Darfur, no Sudão, e pressionaram para que os beligerantes se entendessem.
Ainda na quarta-feira a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, ameaçou "tirar as conclusões necessárias" caso as negociações não saíssem do impasse.
O governo britânico, do qual o Quênia foi colônia até 1963, também exerceu forte pressão. O primeiro-ministro, Gordon Brown, cumprimentou os quenianos pelo acordo e disse que "o trabalho deve continuar" e que apenas "liderança verdadeira, paciência e tolerância" permitirão o sucesso da fórmula conciliatória adotada.

Estopim eleitoral
A crise teve como estopim as eleições presidenciais de 27 de dezembro. Kibaki, que disputava a reeleição, derrotou Odinga, que -a exemplo de observadores internacionais- acusou o governo de patrocinar uma grosseira fraude eleitoral.
No dia 30 Kibaki foi empossado para um novo mandato, quando os protestos degeneraram em carnificina, com motivações étnicas que não haviam sido alimentadas durante a campanha eleitoral.
As grandes vítimas foram de início os kikuyus, etnia do presidente. Mas foram também mortos luos, etnia do opositor Odinga, e também integrantes da etnia kalenjin.
A tensão permanece elevada no Quênia, país por décadas considerado exemplar para os parâmetros de democracia na África. Ainda ontem a polícia reprimiu com gás lacrimogêneo, sem que se saiba a razão, as manifestações de grupos que comemoravam com dança e batucada a assinatura do acordo.
Pela fórmula de reconciliação, o primeiro-ministro só poderá ser demitido pelo Parlamento, e não pelo presidente. O premiê terá dois adjuntos, um de cada grupo. Os cargos ministeriais serão também divididos. O Legislativo se reunirá em uma semana para votar a emenda constitucional com o novo modelo político.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Andinos: EUA estendem preferências tarifárias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.