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Quênia chega a acordo que divide poder entre facções
DA REDAÇÃO
Para conciliar as partes envolvidas num embrião de guerra civil que em dois meses matou mais de mil pessoas, o Quênia passará a adotar o parlamentarismo. Com isso, o poder
estará dividido entre o presidente, Mwai Kibaki, e o líder da
oposição, Raila Odinga, a ser indicado para primeiro-ministro.
O acordo, arbitrado por Kofi
Annan, ex-secretário-geral das
Nações Unidas, foi anunciado
ontem à tarde em Nairóbi, a capital queniana. Annan reuniu-se por seis horas com os dois
adversários para os acertos finais do documento de duas páginas, assinado com transmissão por rede de TV.
Os Estados Unidos e a União
Européia temiam que o Quênia
se transformasse num segundo
grande conflito africano, ao lado de Darfur, no Sudão, e pressionaram para que os beligerantes se entendessem.
Ainda na quarta-feira a secretária de Estado americana,
Condoleezza Rice, ameaçou
"tirar as conclusões necessárias" caso as negociações não
saíssem do impasse.
O governo britânico, do qual
o Quênia foi colônia até 1963,
também exerceu forte pressão.
O primeiro-ministro, Gordon
Brown, cumprimentou os quenianos pelo acordo e disse que
"o trabalho deve continuar" e
que apenas "liderança verdadeira, paciência e tolerância"
permitirão o sucesso da fórmula conciliatória adotada.
Estopim eleitoral
A crise teve como estopim as
eleições presidenciais de 27 de
dezembro. Kibaki, que disputava a reeleição, derrotou Odinga,
que -a exemplo de observadores internacionais- acusou o
governo de patrocinar uma
grosseira fraude eleitoral.
No dia 30 Kibaki foi empossado para um novo mandato,
quando os protestos degeneraram em carnificina, com motivações étnicas que não haviam
sido alimentadas durante a
campanha eleitoral.
As grandes vítimas foram de
início os kikuyus, etnia do presidente. Mas foram também
mortos luos, etnia do opositor
Odinga, e também integrantes
da etnia kalenjin.
A tensão permanece elevada
no Quênia, país por décadas
considerado exemplar para os
parâmetros de democracia na
África. Ainda ontem a polícia
reprimiu com gás lacrimogêneo, sem que se saiba a razão, as
manifestações de grupos que
comemoravam com dança e batucada a assinatura do acordo.
Pela fórmula de reconciliação, o primeiro-ministro só poderá ser demitido pelo Parlamento, e não pelo presidente. O
premiê terá dois adjuntos, um
de cada grupo. Os cargos ministeriais serão também divididos.
O Legislativo se reunirá em
uma semana para votar a
emenda constitucional com o
novo modelo político.
Com agências internacionais
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