São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Após comissão derrubar pontos defendidos por conservadores, legisladores discutem proposta de Bush

Senado dos EUA se divide sobre lei que beneficia ilegais

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Senado dos EUA começou ontem a debater uma lei que pode beneficiar mais de 12 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país, dando início a uma negociação que deve se alongar por duas semanas. Na véspera, o texto havia sido aprovado pela Comissão de Justiça da Casa após algumas mudanças.
As alterações defendem o aumento da vigilância nas fronteiras e aceleram os trâmites para a deportação de ilegais, mas facilitam a legalização dos sem-papéis, desde que paguem uma multa e impostos atrasados, tenham trabalho fixo e estejam aprendendo inglês. Depois de seis anos, teriam a residência permanente. O projeto também prevê programas para imigrantes temporários "convidados" ("guest workers").
Essa é a maior vitória dos movimentos de imigrantes desde o 11 de Setembro, quando aumentaram os controles de fronteiras e qualquer programa de legalização ou anistia a ilegais se tornou hipotético. Antes da aprovação, passeatas em defesa da lei reuniram milhares de pessoas em algumas das principais cidades do país.
Ainda assim, republicanos e democratas estão divididos. Republicanos conservadores apelidaram as alterações no projeto de "anistia disfarçada".
O projeto de lei aprovado em dezembro pela Câmara previa criminalizar a imigração ilegal. Não só com punições aos sem-papéis, que seriam criminosos em vez de contraventores, mas também aos empresários e até organizações religiosas que contratassem ou abrigassem imigrantes ilegais.
A nova lei também determinava a ampliação do muro que divide trechos da Califórnia com o México, dos atuais 180 quilômetros de extensão para mais de mil (um terço da fronteira), além de criar um "muro virtual" com sensores e câmeras de vigilância.
Esses pontos mais polêmicos devem ser a tônica dos debates no Senado. O assunto será um dos grandes temas das próximas eleições legislativas, em novembro. Há pressões de vários Estados americanos que acusam os imigrantes de tomarem empregos de americanos para frear os fluxos imigratórios.
Ao saber das mudanças aprovadas pela comissão, o presidente americano, George W. Bush, afirmou que um programa de vistos temporários "é vital para a segurança de nossas fronteiras, uma via legal para aqueles que vêm trabalhar e que reduz o número dos que entram clandestinamente".
Bush está em situação desconfortável. Por um lado, não pode parecer "fraco" ou muito permissivo diante de um tema tão caro a e ele como a segurança das fronteiras. Por outro, teme ser alvo da fúria dos latinos, já a maior minoria do país, com 35 milhões de pessoas -44% deles votaram por sua reeleição.
Para o diretor-executivo da organização não-governamental Latino Issues Forum, Luis Arteaga, filho de mexicanos nascido em San Francisco, houve uma mobilização sem precedentes da comunidade latino-americana nos Estados Unidos. "A nova lei pode criar imigrantes de primeira e segunda-classe na mesma família. Trabalhadores mais velhos e com salários baixos dificilmente terão tempo, dinheiro ou possibilidade de aprender inglês. É discriminatória", acusa.
"Coisas nada elegantes ou diplomáticas têm sido ditas sobre os imigrantes nas últimas semanas. Só que o presidente vai precisar dos latinos se quiser continuar viável ou recuperar sua popularidade". Em vários Estados americanos, novas leis foram aprovadas recentemente negando acesso à educação, à saúde e até a carteira de habilitação para os imigrantes sem papéis e seus descendentes.


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