São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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Bachelet troca gabinete para tentar estancar crise

Presidente do Chile se desculpa por novo sistema de transportes de Santiago, que provocou caos; aprovação alcança o pior índice

DA REDAÇÃO

Pressionada pelos efeitos de uma reforma desastrada no sistema de transportes de Santiago e exibindo o pior índice de popularidade desde que assumiu, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, anunciou um novo gabinete que já estreou sob críticas de integrantes da Concertação, a coalizão de centro-esquerda que a apóia.
Na segunda reforma ministerial em pouco mais de um ano de governo, Bachelet trocou quatro ministros -entre eles o titular dos Transportes, no epicentro da crise recente- e criou duas novas pastas.
A criação do Ministério de Energia tenta debelar um problema estrutural, mas que, além da indústria, já se reflete na vida de consumidores comuns: há alta nas tarifas e descontinuidade no fornecimento de energia elétrica e gás -este fornecido pela Argentina.
Em discurso ao país, na segunda, a presidente anunciou as mudanças e pediu desculpas pelo novo sistema de transporte público de Santiago, o Transantiago: "As coisas não foram bem feitas [...] Os habitantes de Santiago, e os mais pobres em particular, merecem um pedido de desculpas nosso".
Já era notório, então, o estrago que o sistema, que estreou em 10 de fevereiro, havia causado nos índices de popularidade da presidente. Na semana passada, uma pesquisa do jornal chileno "La Tercera" mostrou que a aprovação de Bachelet caiu seis pontos em apenas três semanas. Baixou a 45%, o pior índice desde que tomou posse, em 2006. A desaprovação subiu oito pontos (chegou a 41%).

Caos na estréia
Projetado pelo governo anterior, do também socialista Ricardo Lagos, o Transantiago deveria modernizar o transporte na capital chilena, mas as semanas de estréia foram de caos.
O número de ônibus, agora integrados ao metrô por passe com cartão magnético, foi reduzido de 8.000 para 5.600. As linhas foram redefinidas e muitos bairros pobres de Santiago, cidade de 6 milhões de habitantes, ficaram sem o serviço. Desenhado para modernizar a frota e diminuir a poluição teve efeito contrário no trânsito: quem podia saiu de carro.
Bachelet disse "assumir a responsabilidade" pelas falhas no Transantiago e, além de apontar também os empresários como culpados, afirmou que o sistema causou mais transtornos que o "tolerável".
O discurso enfático de mea-culpa tem um pano de fundo: a penalização dos mais pobres na reforma fere bandeiras de campanha de Bachelet, como as de combater a desigualdade e corrigir erros em políticas públicas que deixavam de fora essa parcela da população.
Para Patricio Navia, analista político do "La Tercera", um dos erros de Bachelet é não conseguir apontar o que é erro próprio de sua gestão e os problemas herdados, inclusive do governo Lagos, como é o caso do Transantiago. O porta-voz do governo é Ricardo Lagos Weber, filho do ex-presidente.
Sem contar que a presidente enfrenta o acúmulo de desgaste -interno e externo- da Concertação, coalizão que comanda o país desde 1990. Esse desgaste aparece, por exemplo, nas críticas dos democrata-cristãos à reforma ministerial.
Hoje a extrema esquerda comemora o "Dia do jovem combatente" em Santiago. Protestos de grupos radicais e outros descontentes são esperados.


Com "Le Monde" e agências internacionais


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