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Bachelet troca gabinete para tentar estancar crise
Presidente do Chile se desculpa por novo sistema de transportes de Santiago, que provocou caos; aprovação alcança o pior índice
DA REDAÇÃO
Pressionada pelos efeitos de
uma reforma desastrada no sistema de transportes de Santiago e exibindo o pior índice de
popularidade desde que assumiu, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, anunciou um
novo gabinete que já estreou
sob críticas de integrantes da
Concertação, a coalizão de centro-esquerda que a apóia.
Na segunda reforma ministerial em pouco mais de um ano
de governo, Bachelet trocou
quatro ministros -entre eles o
titular dos Transportes, no epicentro da crise recente- e
criou duas novas pastas.
A criação do Ministério de
Energia tenta debelar um problema estrutural, mas que,
além da indústria, já se reflete
na vida de consumidores comuns: há alta nas tarifas e descontinuidade no fornecimento
de energia elétrica e gás -este
fornecido pela Argentina.
Em discurso ao país, na segunda, a presidente anunciou
as mudanças e pediu desculpas
pelo novo sistema de transporte público de Santiago, o Transantiago: "As coisas não foram
bem feitas [...] Os habitantes de
Santiago, e os mais pobres em
particular, merecem um pedido de desculpas nosso".
Já era notório, então, o estrago que o sistema, que estreou
em 10 de fevereiro, havia causado nos índices de popularidade
da presidente. Na semana passada, uma pesquisa do jornal
chileno "La Tercera" mostrou
que a aprovação de Bachelet
caiu seis pontos em apenas três
semanas. Baixou a 45%, o pior
índice desde que tomou posse,
em 2006. A desaprovação subiu
oito pontos (chegou a 41%).
Caos na estréia
Projetado pelo governo anterior, do também socialista Ricardo Lagos, o Transantiago
deveria modernizar o transporte na capital chilena, mas as semanas de estréia foram de caos.
O número de ônibus, agora
integrados ao metrô por passe
com cartão magnético, foi reduzido de 8.000 para 5.600. As
linhas foram redefinidas e muitos bairros pobres de Santiago,
cidade de 6 milhões de habitantes, ficaram sem o serviço. Desenhado para modernizar a frota e diminuir a poluição teve
efeito contrário no trânsito:
quem podia saiu de carro.
Bachelet disse "assumir a
responsabilidade" pelas falhas
no Transantiago e, além de
apontar também os empresários como culpados, afirmou
que o sistema causou mais
transtornos que o "tolerável".
O discurso enfático de mea-culpa tem um pano de fundo: a
penalização dos mais pobres na
reforma fere bandeiras de campanha de Bachelet, como as de
combater a desigualdade e corrigir erros em políticas públicas
que deixavam de fora essa parcela da população.
Para Patricio Navia, analista
político do "La Tercera", um
dos erros de Bachelet é não
conseguir apontar o que é erro
próprio de sua gestão e os problemas herdados, inclusive do
governo Lagos, como é o caso
do Transantiago. O porta-voz
do governo é Ricardo Lagos
Weber, filho do ex-presidente.
Sem contar que a presidente
enfrenta o acúmulo de desgaste
-interno e externo- da Concertação, coalizão que comanda o país desde 1990. Esse desgaste aparece, por exemplo, nas
críticas dos democrata-cristãos
à reforma ministerial.
Hoje a extrema esquerda comemora o "Dia do jovem combatente" em Santiago. Protestos de grupos radicais e outros
descontentes são esperados.
Com "Le Monde" e agências internacionais
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