São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Uribe faz oferta às Farc por Betancourt

Embora não atenda condições da guerrilha, Bogotá diz que soltará rebeldes presos se ex-candidata ou mais reféns forem libertados

Proposta, que aumenta a pressão sobre o grupo, vem depois de relatos da saúde deteriorada de seqüestrada; França elogia a iniciativa

John Vizcaino/Reuters
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, em discurso no qual cobrou que as Farc soltem os reféns doentes "se querem ter algum futuro"

DA REDAÇÃO

Diante de informações de que a refém Ingrid Betancourt está em condições de saúde muito delicadas, o governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe, baixou um decreto oferecendo às Farc a soltura imediata de um número ilimitado de guerrilheiros presos em troca da libertação da franco-colombiana ou de vários seqüestrados, com a única condição de que, fora da cadeia, os rebeldes "não voltem a delinqüir".
Uribe frisou que, ao lado do decreto lançado na noite de anteontem, continua a valer um fundo de recompensa de US$ 100 milhões para guerrilheiros que desertem e entreguem os reféns. Disse também que os militares estão empenhados em ações para a "localização humanitária dos reféns".
O decreto foi desenhado para Betancourt. O texto diz que o governo dará por fechado um acordo e libertará os rebeldes uma vez que as Farc soltem "a ou as pessoas seqüestradas". No entanto o procurador-geral da Colômbia, Mario Iguarán, declarou que a legislação do país não permite a libertação de guerrilheiros presos em troca apenas de Betancourt.
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) ainda não se pronunciaram. Mas a oferta de Uribe, ainda que tire restrições como a não-diferenciação de guerrilheiros condenados por crimes de lesa-humanidade, não atende exigências anteriores da guerrilha.
Depois das últimas libertações unilaterais de reféns em "desagravo" ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, em fevereiro, as Farc voltaram a exigir a desmilitarização das áreas dos municípios de Pradera e Florida (oeste) para libertar mais seqüestrados. Insistiram que, no grupo de presos "trocáveis", estão dois guerrilheiros condenados nos EUA.
A exigência, no decreto de anteontem, do compromisso dos libertados de não voltar às fileiras da guerrilha também alude a um ponto conflitivo das negociações, já que as Farc rejeitam a "desmobilização" de seus quadros intermediários.

França e família
A ofensiva de Uribe aconteceu horas depois de o próprio governo minimizar declarações do defensor público colombiano, Vólmar Pérez, de que a ex-candidata presidencial, seqüestrada há mais de seis anos, estava em estado de saúde "muito delicado" e que, sofrendo de leishmaniose e hepatite B, havia sido atendida em um posto de saúde do departamento de Guaviare (sul).
Relatos de ex-reféns, dando conta de que Betancourt está deprimida e recebe tratamento duro na selva, também aumentaram a pressão sobre Bogotá para uma "troca humanitária".
A morte de Betancourt seria um golpe duplo para as Farc, que perderiam seu mais forte trunfo para negociar e encerraria a tentativa de recompor sua imagem internacionalmente.
Com mais de 80% de aprovação interna, um desfecho trágico da situação seria um revés -sobretudo internacional- também para Uribe, por sua relutância em aceitar interlocutores externos no tema, como Chávez. A França, que havia criticado a ação que matou o porta-voz das Farc Raúl Reyes no Equador -apontado como interlocutor na troca- reagiu positivamente ao pacote, aumentando a pressão sobre a guerrilha. Argentina, Espanha e o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, também elogiaram a iniciativa.
Já os familiares e comitês pró-Betancourt reagiram com misto de esperança e ceticismo. O marido de Betancourt, Juan Carlos Lecompte, avaliou a proposta como confusa e disse preferir que ela contivesse "respostas concretas" às Farc.


Com agências internacionais


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