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Campo aceita trégua de Cristina
Entidades agrárias suspendem locaute para reabrir diálogo com o governo, como presidente pedira
Paralização na Argentina durou 16 dias e levou a falta de alimentos e panelaços nas ruas de Buenos Aires; negociação começou ontem
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Os produtores agropecuários
argentinos decidiram ontem
interromper temporariamente
o locaute que já durava 16 dias
para iniciar as negociações com
o governo. Logo após o anúncio, à noite, dirigentes rurais se
reuniram com representantes
do governo para negociar soluções para o setor -até o fechamento desta edição, eles ainda
estavam reunidos.
"O diálogo exige esforços",
anunciou comunicado das quatro principais entidades agropecuárias, que suspendeu os
bloqueios de diferentes estradas do país. A ação impedia a
passagem de caminhões com
alimentos, promovendo o desabastecimento nas cidades.
Os produtores, que decretaram o locaute como reação ao
aumento de impostos sobre a
exportação de grãos pelo governo, avisaram que manteriam "o
estado de alerta e mobilização à
beira das estradas".
A decisão ocorreu um dia
após a presidente da Argentina,
Cristina Fernández de Kirchner, ter pedido em discurso aos
produtores que interrompessem o locaute para que o diálogo pudesse ser retomado.
O efeito foi o contrário do
que teve o discurso anterior de
Cristina, na terça, quando ela
acusou os agropecuaristas de
fazerem "piquetes da abundância". A declaração levou a panelaços da classe média, que tomaram as ruas de Buenos Aires
durante três noites. Houve
conflitos entre os manifestantes e piqueteiros da base de
apoio ao governo.
Negociação
Ontem à noite, os dirigentes
das quatro principais entidades
agropecuárias da Argentina
reuniram-se com o chefe-de-gabinete de Cristina, Alberto
Fernández, o ministro da Economia, Martín Lousteau, e o secretário da Agricultura, Javier
de Urquiza, na Casa Rosada, sede do governo. Cristina manteve os compromissos que já tinha em sua agenda.
Na reunião, o governo ofereceria propostas como compensações de 1,5 bilhão de pesos
(R$ 820 milhões) para os pequenos produtores, um teto para as chamadas retenções móveis (nas quais o imposto aumenta quando preço do produto no mercado externo sobe) e a
criação de um organismo estatal voltado para os pequenos e
médios produtores.
Na manhã de ontem, o vice-presidente, Julio Cobos, fez a
primeira autocrítica do governo diante da crise. "Talvez tenha faltado uma melhor explicação do porquê, dos benefícios", disse Cobos em relação à
divulgação do aumento de impostos que provocou o locaute.
Ainda ontem, o ministro do
Interior, Florencio Randazzo,
afirmou que o aumento de impostos deveria ser seguido pelo
anúncio de outro pacote de medidas que "não teve tempo de
ser anunciado".
Ontem, apesar da liberação
de parte dos caminhões que estavam presos nas estradas e levavam alimentos, o desabastecimento nas cidades se intensificou. Além de carne, frango e
leite, que sumiram dos mercados nos últimos dias, começaram a faltar também verduras,
azeite, açúcar e polenta.
Segundo o vice-presidente,
após a liberação das estradas, a
situação do abastecimento deveria se normalizar em 48 horas. Enquanto isso, sugeriu à
população encontrar "substitutos" para os produtos faltantes.
Após a liberação de parte das
estradas, o mercado central de
Buenos Aires, que abastece estabelecimentos de toda a cidade, anunciou que abriria excepcionalmente hoje para garantir
a distribuição de alimentos.
Apesar das restrições, que já
atingiam o setor agropecuário
desde o governo de Néstor
Kirchner, o valor das exportações argentinas cresceu em fevereiro 45% em relação ao mesmo mês de 2007. O aumento se
deve, principalmente, à subida
do preço no mercado internacional de produtos que a Argentina exporta, como soja.
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