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The Independent
de Londres
Pobreza
atinge branco
sul-africano
MARY BRAID
da Cidade do Cabo
Kitty van Zyl joga mais um punhado de salsichas caseiras na frigideira. Perto do final de mais
uma noite cozinhando para centenas de crianças e adultos do bairro, ela reclama amargamente em
seu africâner nativo da indiferença
diante da miséria humana.
"Eu pedi os restos de comida ao
Kentucky Fried Chicken", diz Van
Zyl, 42, voluntária de Sandrift
East, um conjunto habitacional
decadente da Cidade do Cabo.
"Mas o gerente disse que prefere
dar os restos aos favelados negros
do bairro."
Na nova África do Sul, poucos
foram tão afetados pelas mudanças quanto o crescente contingente de brancos pobres.
Nos velhos tempos do apartheid
(regime de segregação racial), os
brancos menos favorecidos e menos educados eram apadrinhados
pelo Partido Nacional.
Empresas estatais, como as ferrovias e os serviços postais, operavam como criadoras de empregos.
Hoje, embora os brancos ricos reclamem das transformações, suas
vidas mudaram muito pouco.
Mas os que estavam nas últimas
camadas da outrora privilegiada
minoria branca agora sofrem por
causa da escassez de empregos e
dos programas de ação afirmativa
criados para contrabalançar décadas de racismo.
Nas ruas, pobres brancos lutam
com os negros por espaço para
mendigar nos cruzamentos. E em
lugares como Sandrift East, um
dos últimos conjuntos habitacionais construídos exclusivamente
para brancos pelo Partido Nacional, todo dia é uma batalha pela
sobrevivência.
Para muitos, a refeição comunitária gratuita é a única do dia. Alguns se sentem resignados com a
nova África do Sul, mas outros estão revoltados e ansiosos para
apontar bodes expiatórios: "Ninguém quer empregar um homem
branco hoje em dia", diz Ian Reid,
32, pai de dois filhos.
Reid afirma que nunca apoiou o
regime racista, mas argumenta
que o novo governo discrimina os
brancos em favor dos negros.
Estatísticas sobre a pobreza
branca são escassas, mas todos
que trabalham com os pobres admitem que ela está crescendo. A
Arca, projeto assistencial ligado a
instituições religiosas, dá abrigo a
cerca de mil pobres sem-teto.
Há dois anos, 40% das pessoas
atendidas eram brancas. Hoje, o
número dobrou. Yolande Blom,
da organização de assistência
Communicare, diz que os pobres
brancos atraem pouca simpatia,
mas vê pelo menos um sinal positivo em sua pobreza: "Alguns
brancos e negros pobres se uniram na luta pela sobrevivência".
Tradução de Sérgio Malbergier
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