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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA

Mesmo atrás, ex-presidente está em situação melhor do que antes do primeiro turno, segundo pesquisa

Rejeição a Menem põe Kirchner na frente

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A primeira medição sobre o turno final na Argentina, feita pela consultoria Econline, dá a vitória ao governador de Santa Cruz, o "desenvolvimentista" Néstor Kirchner, por 54%, contra 46% do ex-presidente Carlos Menem.
É uma diferença pequena, até muito pequena, se se considerar todos os fatores e pesquisas anteriores ao primeiro turno, que mostram fortíssima rejeição do eleitorado a Menem.
Outro levantamento, embora não tenha o menor caráter científico, foi feito na versão on-line do jornal "La Nación". Deu 63% para Kirchner e 22,5% para Menem.
A enquete do jornal se aproxima muito mais de pesquisas prévias ao pleito de domingo, que mediam a intenção de voto para um eventual segundo turno. Em todas elas, a vantagem de Kirchner sobre Menem era substancial.
Para Graciela Römer, a pesquisadora que mais se aproximou do resultado do turno inicial, Kirchner venceria por 44% a 22%.
Para a "Equis", a vantagem seria ainda maior: 53,8% contra 24,5%.
Para Ricardo Rouvier, Menem teria apenas 20,4%, enquanto Kirchner ficaria com 52%.
Tudo somado, conclui Fernando Laborda, do "La Nación": "Se nos deixarmos guiar por todas as pesquisas que mediram a rejeição a Menem, poderíamos concluir que muito dificilmente o ex-presidente pode chegar pela terceira vez à Casa Rosada".
De fato, a rejeição oscilou entre 52% e 65% na campanha, já reduzida em relação aos 75% alcançados quando, há um ano e meio, Menem saiu da prisão domiciliar, acusado de formação de quadrilha pelo caso da venda irregular de armas a Equador e Croácia.
Ontem, o ex-presidente festejou como uma vitória o fato de ter saído da cadeia para um segundo turno que pode levá-lo outra vez à Casa Rosada. É uma maneira de ver as coisas, mas há outra, obviamente a preferida pelos seus adversários: Menem reelegeu-se em 1995 com 51,8%. Obter agora menos da metade dessa cifra não seria proeza alguma, se se considerar que seu sucessor, Fernando de la Rúa, foi o maior fracasso da história administrativa argentina.
Como diz Roberto Bacman (Centro de Estudos de Opinião Pública), "Menem sai com vantagem no primeiro turno, mas é provável que perca no segundo". "É estatístico. Ele pode perder por até 15 pontos de diferença."
A pesquisa da Econline só vê uma chance de Menem mudar o cenário aparentemente negativo: um aliança completa e formal com o único peronista que ficou fora do páreo, o ex-governador de San Luis Adolfo Rodríguez Saá.
Somar os cerca de 14% de Rodríguez Saá aos seus votos já levaria Menem para perto de 40%.
Nenhum dos derrotados anunciou, por enquanto, quem apoiará no segundo turno. Dois deles (Elisa Carrió e Ricardo López Murphy) já insinuaram que ficarão neutros, embora Carrió tenha dito que em Menem não vota.
O problema é que todas as pesquisas prévias ao primeiro turno mostravam que, entre os eleitores de Carrió, López Murphy e mesmo Rodríguez Saá, havia forte preferência por Kirchner contra Menem, caso o candidato preferido ficasse fora do turno final.
De cada 100 eleitores de Carrió, 19 votariam em Kirchner e 3 em Menem. Com os votantes de López Murphy, a diferença é menor, mas também expressiva (16 para Kirchner, 2 para Menem).
Embora López Murphy e Menem tenham certa identificação, pelo fato de apoiarem projetos liberais, o que os distingue é o capítulo ético: o ex-ministro da Economia apresenta-se como homem de "mãos limpas", imagem exatamente oposta à de Menem.
No caso de Rodríguez Saá, a identidade peronista que Menem também cultiva não impede que a pesquisa mostre que 22% de seus eleitores preferem Kirchner, contra 13% que votariam em Menem.
Embora toda a numerologia disponível favoreça Kirchner, é sempre bom levar em conta que ele está longe de ser um líder carismático. Sandra Russo, colunista do jornal de esquerda "Página 12", chega a ironizar, ao dizer que os milhões de eleitores de Kirchner votaram por ele "com o mesmo entusiasmo que alguém possa ter por uma saída de emergência em caso de acidente".


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