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ELEIÇÕES NA ARGENTINA
Mesmo atrás, ex-presidente está em situação melhor do que antes do primeiro turno, segundo pesquisa
Rejeição a Menem põe Kirchner na frente
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
A primeira medição sobre o turno final na Argentina, feita pela
consultoria Econline, dá a vitória
ao governador de Santa Cruz, o
"desenvolvimentista" Néstor
Kirchner, por 54%, contra 46% do
ex-presidente Carlos Menem.
É uma diferença pequena, até
muito pequena, se se considerar
todos os fatores e pesquisas anteriores ao primeiro turno, que
mostram fortíssima rejeição do
eleitorado a Menem.
Outro levantamento, embora
não tenha o menor caráter científico, foi feito na versão on-line do
jornal "La Nación". Deu 63% para
Kirchner e 22,5% para Menem.
A enquete do jornal se aproxima muito mais de pesquisas prévias ao pleito de domingo, que
mediam a intenção de voto para
um eventual segundo turno. Em
todas elas, a vantagem de Kirchner sobre Menem era substancial.
Para Graciela Römer, a pesquisadora que mais se aproximou do
resultado do turno inicial, Kirchner venceria por 44% a 22%.
Para a "Equis", a vantagem seria
ainda maior: 53,8% contra 24,5%.
Para Ricardo Rouvier, Menem
teria apenas 20,4%, enquanto
Kirchner ficaria com 52%.
Tudo somado, conclui Fernando Laborda, do "La Nación": "Se
nos deixarmos guiar por todas as
pesquisas que mediram a rejeição
a Menem, poderíamos concluir
que muito dificilmente o ex-presidente pode chegar pela terceira
vez à Casa Rosada".
De fato, a rejeição oscilou entre
52% e 65% na campanha, já reduzida em relação aos 75% alcançados quando, há um ano e meio, Menem saiu da prisão domiciliar,
acusado de formação de quadrilha pelo caso da venda irregular
de armas a Equador e Croácia.
Ontem, o ex-presidente festejou
como uma vitória o fato de ter saído da cadeia para um segundo
turno que pode levá-lo outra vez à
Casa Rosada. É uma maneira de
ver as coisas, mas há outra, obviamente a preferida pelos seus adversários: Menem reelegeu-se em 1995 com 51,8%. Obter agora menos da metade dessa cifra não seria proeza alguma, se se considerar que seu sucessor, Fernando de
la Rúa, foi o maior fracasso da história administrativa argentina.
Como diz Roberto Bacman (Centro de Estudos de Opinião
Pública), "Menem sai com vantagem no primeiro turno, mas é
provável que perca no segundo".
"É estatístico. Ele pode perder por até 15 pontos de diferença."
A pesquisa da Econline só vê uma chance de Menem mudar o
cenário aparentemente negativo: um aliança completa e formal
com o único peronista que ficou fora do páreo, o ex-governador de
San Luis Adolfo Rodríguez Saá.
Somar os cerca de 14% de Rodríguez Saá aos seus votos já levaria Menem para perto de 40%.
Nenhum dos derrotados anunciou, por enquanto, quem apoiará
no segundo turno. Dois deles (Elisa Carrió e Ricardo López
Murphy) já insinuaram que ficarão neutros, embora Carrió tenha
dito que em Menem não vota.
O problema é que todas as pesquisas prévias ao primeiro turno
mostravam que, entre os eleitores
de Carrió, López Murphy e mesmo Rodríguez Saá, havia forte
preferência por Kirchner contra
Menem, caso o candidato preferido ficasse fora do turno final.
De cada 100 eleitores de Carrió,
19 votariam em Kirchner e 3 em
Menem. Com os votantes de López Murphy, a diferença é menor,
mas também expressiva (16 para Kirchner, 2 para Menem).
Embora López Murphy e Menem tenham certa identificação,
pelo fato de apoiarem projetos liberais, o que os distingue é o capítulo ético: o ex-ministro da Economia apresenta-se como homem de "mãos limpas", imagem
exatamente oposta à de Menem.
No caso de Rodríguez Saá, a
identidade peronista que Menem
também cultiva não impede que a
pesquisa mostre que 22% de seus
eleitores preferem Kirchner, contra 13% que votariam em Menem.
Embora toda a numerologia
disponível favoreça Kirchner, é
sempre bom levar em conta que
ele está longe de ser um líder carismático. Sandra Russo, colunista do jornal de esquerda "Página 12", chega a ironizar, ao dizer que
os milhões de eleitores de Kirchner votaram por ele "com o mesmo entusiasmo que alguém possa ter por uma saída de emergência
em caso de acidente".
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