São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

Próximo Texto | Índice

PF ajudou a investigar guerrilha paraguaia

Colaboração, a pedido de Assunção, ocorreu entre dezembro e janeiro e teve como objetivo localização de fazendeiro sequestrado

EPP, objetivo de operação conjunta entre os países, é o mesmo grupo acusado de chacina que levou a estado de exceção no norte do Paraguai


Jorge Adorno/Reuter
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, se reúne com militares durante visita a Concepción, 1 dos 5 departamentos sob exceção

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa operação coberta por sigilo, o governo brasileiro ajudou o Paraguai a investigar as movimentações de integrantes do grupo armado de esquerda EPP (Exército do Povo Paraguaio) -o grupo que motivou na semana passada a decretação de um estado de exceção em cinco departamentos paraguaios- por ocasião do sequestro do fazendeiro Fidel Zavala, um proeminente líder ruralista paraguaio. Ele foi raptado em outubro de 2009 e libertado em janeiro passado, após o pagamento do resgate.
A pedido do governo de Fernando Lugo e com autorização da Justiça paraguaia, o Brasil aceitou enviar na época homens e equipamentos ao Paraguai com o objetivo de rastrear e localizar o local do cativeiro e os responsáveis pelo sequestro.
Um grupo formado por investigadores da Polícia Federal de Brasília e técnicos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) atuou em território paraguaio por cerca de 40 dias, entre dezembro de 2009 e janeiro passado.
A presença dos policiais federais no Paraguai foi revelada pela imprensa de Assunção no início de abril, e confirmada à Folha pela direção-geral da PF, em Brasília, e por fontes diplomáticas. A ajuda brasileira surgiu num momento em que Lugo era acusado pela oposição de ser leniente em relação às ações do EPP, por supostas afinidades ideológicas.
A atividade dos brasileiros consistiu em monitorar as comunicações de radiofrequência (ondas de rádio) de integrantes do EPP. Num primeiro momento, antenas da Anatel dispostas ao longo da faixa de fronteira Brasil-Paraguai foram direcionadas para o território paraguaio, de modo a captar sinais clandestinos de comunicação -o Paraguai sabia que os membros do EPP usavam equipamento de radiofrequência. O procedimento foi o mesmo que já é adotado em todo o Brasil pela Anatel para localizar rádios piratas.
As antenas integram o SGME (Sistema de Gestão e Monitoramento do Espectro), formado por 56 estações remotas, 28 unidades móveis, 27 centros regionais e um centro nacional de controle, localizado em Brasília. "O sistema não só identifica a exata localização da fonte emissora do sinal, como também se sua irradiação está dentro das especificações técnicas e legais", informa relatório de gestão da Anatel.
Os policiais federais também fizeram trabalhos de campo para melhor definir as exatas origens dos sinais. Segundo a PF, o trabalho teve sucesso, mas o resto da operação foi tocado pelo Ministério de Interior do Paraguai, responsável pela investigação sobre o sequestro. Embora a imprensa paraguaia diga o contrário, a PF negou ter realizado interceptações de conversas telefônicas ou por rádio.
Os policiais brasileiros vieram da Divisão de Repressão a Crimes contra o Patrimônio, em Brasília, subordinada à DCOR (Diretoria de Combate ao Crime Organizado), vinculada ao gabinete do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa.
A Polícia Federal assim definiu à Folha as atividades do EPP: "É uma quadrilha rural, violenta, mas ainda sem atividade transnacional". Ou seja, ainda não há registro de atividades do EPP no Brasil.

Estrutura
Com base em informações obtidas de fontes da polícia paraguaia, a área diplomática brasileira considera que o EPP pode ser dividido em três cinturões. O primeiro tem por tarefa executar as operações militares de campo, como sequestros e ataques a unidades do Estado, e tem de 10 a 15 militantes. O segundo grupo, formado por algo entre 20 e 30 militantes, tem por objetivo fornecer estrutura e alimentação para a ação do primeiro grupo. O terceiro é formado por simpatizantes nas zonas rural e urbana. O número de integrantes deste grupo é incerto, mas não passaria de cinco dezenas.
Com base em manuscritos apreendidos em operações anteriores na região de Horqueta, palco da chacina que motivou o estado de exceção, os investigadores paraguaios consideram que o EPP é um grupo extremista de tendência marxista-leninista, que pretende tomar o governo paraguaio pelas armas, lançando mão de sequestros e assassinatos.


Próximo Texto: Documento do EPP prevê "linhas de retaguarda" em solo brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.