São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2011

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Para crítico, rapidez de processo estabelece precedente perigoso

DO ENVIADO A ROMA

O padre jesuíta americano Thomas J. Reese foi uma das primeiras vozes no coro dos contrários após a eleição de Bento 16 e agora é voz dissonante na aprovação generalizada ao processo que levará João Paulo 2º eventualmente à condição de santo.
Como editor da prestigiosa revista "America" por sete anos, ele era crítico das políticas conservadoras do então cardeal Joseph Ratzinger, responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé.
Ele trazia na revista debates sobre assuntos sensíveis ao Vaticano, como a supremacia da Igreja Católica sobre outras denominações cristãs, casamento gay e pesquisa com células-tronco.
Logo que Ratzinger foi eleito papa (Bento 16), em maio de 2005, Reese foi forçado a deixar seu posto, assunto que evita comentar. Hoje trabalhando no Centro Teológico Woodstock (EUA), o padre vê o processo rápido de beatificação como arriscado, por politizar o procedimento e dobrar-se à pressão dos fiéis. (IG)


 


Folha - O sr. vem dizendo que há o risco de estabelecer um precedente perigoso com esse processo rápido rumo à santidade, de criar injustiças. Mas o sr. acredita que há espaço para tal questionamento, dado o controle do Vaticano sobre o processo? Thomas J. Reese - Nem o Vaticano nem os fiéis estão preocupados com procedimentos. Quando eles querem algo, eles querem agora. Só advogados canônicos e especialistas se preocupam.

O sr. vê a velocidade do processo como um fator político? Bento 16 está se aproveitando da popularidade do antecessor ou a beatificação é um processo lógico, dada que os fiéis querem Wojtyla santo?
Ambas as coisas são verdade. Os fiéis admiravam João Paulo 2º, então o querem beatificado. As autoridades do Vaticano querem a beatificação porque esperam que irá fortalecer o papado.

O processo reafirma a política de João Paulo 2º de fortalecer tradições como santos e milagres para evitar pressões modernas sobre a igreja?
O lado positivo da enxurrada de santos canonizados por João Paulo é que muitos são de países de fora da Europa, que nunca tiveram santos antes. O lado negativo é que a maioria deles só é conhecida pelos apoiadores.
Bento 16, contudo, cortou o número de beatificações e canonizações e tirou um pouco de sua importância. Por exemplo, ele normalmente não preside pessoalmente cerimônias de beatificação. Agora é uma exceção.


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