São Paulo, quarta, 29 de abril de 1998

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POLÍTICA EM QUADRINHOS
Criador do personagem barra uso do herói gaulês em propaganda do partido do presidente Jacques Chirac
Asterix "nega' apoio à direita francesa

RODRIGO AMARAL
de Paris

A crise da direita francesa anda tão forte que a RPR, partido do presidente Jacques Chirac, pensou em apelar para os extraordinários poderes de Asterix, Obelix e os outros resistentes gauleses das histórias em quadrinhos.
Mas, ao contrário dos modelos escolhidos para sua nova campanha publicitária, que não tiravam jamais uma idéia da cabeça, a RPR teve que modificar seus planos -graças à pressão de Albert Uderzo, 71, co-criador de Asterix.
O plano de uma campanha na mídia baseada em Asterix & cia. foi apresentado no último sábado pela direção da RPR.
Segundo a assessoria do partido, os dois personagens principais (Asterix e Obelix) não seriam utilizados, mas apenas desenhos inspirados nos personagens que o desenhista Uderzo criou nos anos 60, junto com o argumentista René Gosciny, morto em 1977.
Ontem, Uderzo se encontrou com o secretário-geral do partido, Nicolas Sarkozy, com quem acertou que a campanha do partido "neogaullista" não teria relação com seus desenhos.
"Não tenho nada contra a RPR, mas não permitiria a utilização de Asterix para fins políticos, assim como em propaganda de bebidas alcoólicas ou cigarros", afirmou Uderzo após o encontro.
Mas a RPR vai manter a campanha segundo os planos originais, utilizando os gauleses como mote para tentar reconquistar o apoio do eleitorado.
Poção mágica
A recuperação da direita deverá exigir mesmo algo muito próximo à poção mágica fabricada pelo druida Panoramix, que Asterix utilizou tantas vezes para humilhar o imperialismo romano.
Um ano atrás, os dois principais partidos conservadores, RPR e UDF, dominavam mais de 80% da Assembléia Nacional. Hoje, após as eleições de maio de 97, são minoria no órgão e têm de se resignar a fazer oposição ao governo socialista de Lionel Jospin.
Sinal de que algo anda mesmo errado, a fragilidade desses dois partidos está dando espaço aos avanços da extrema direita, encabeçada pela FN (Frente Nacional), comandada pelo eurodeputado Jean-Marie Le Pen.
Os sintomas não param de surgir. No domingo, por exemplo, quem venceu o primeiro turno das eleições legislativas extraordinárias de Toulon, no sul do país, foi a candidata da FN, Cendrine Le Chevalier, com 39,55% dos votos.
Ela vai disputar, como favorita, o segundo turno contra a socialista Odette Casanova, que teve 31,69%. O candidato da chamada "direita republicana", Daniel Colin, da UDF, teve só 22,3%.



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