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DIPLOMACIA
Inimigos da Guerra Fria se reúnem na Itália para selar participação de Moscou em órgão criado para conter soviéticos
Rússia entra na Otan, mas sem direito a voto
DAVID E. SANGER
DO ""THE NEW YORK TIMES"
A Otan deu as boas-vindas formais à Rússia ontem, aceitando-a
como participante, mas não
membro votante da organização
criada 53 anos atrás para conter o
poder e a expansão soviéticos.
Pelo acordo assinado ontem em
base militar perto de Roma
-num encontro extraordinário
dos líderes dos países-membros
da Otan organizado para coroar a
viagem de seis dias do presidente
dos EUA, George W. Bush, pela
Europa-, Moscou terá um papel
consultivo no traçado da estratégia da aliança militar ocidental
com relação à não proliferação
nuclear, a administração de crises, a defesa antimísseis e o contraterrorismo.
No entanto, num sinal de que os
membros da Otan ainda não estão completamente convencidos
do caráter irreversível da experiência russa com a democracia e
o capitalismo, Moscou não poderá participar da aliança militar
central da Otan, na qual todos os
membros juram proteger todos
os outros contra ataques. E a Rússia tampouco terá o direito de veto sobre as decisões da Otan, nem
de voto na questão da ampliação
de seus membros, incluindo os
planos da Otan de convidar novos
países para juntar-se a ela, convite
que deve ser formulado num encontro na República Tcheca, em
novembro.
Bush disse ontem que ""dois antigos inimigos agora se unem como parceiros, superando 50 anos
de divisões e uma década de incertezas". Segundo ele, o acordo
formal selado ontem para criar o
Conselho Otan-Rússia reflete o
cálculo de que a cooperação com
a segunda maior potência nuclear
do mundo ""poderá ser mais fácil
se recebermos a Rússia no Ocidente de braços abertos".
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, que acaba de receber
seu colega americano numa visita
de três dias a Moscou e São Petersburgo, não ocultou o prazer
que lhe proporciona a rapidez
com a qual tem podido negociar
tanto as reduções nucleares quanto uma posição de respeito, mesmo que não de poder, nos conselhos da Otan. ""Seria difícil superestimar o significado desse encontro", disse Putin, observando
que, há alguns anos, ""teria sido
simplesmente impensável" a Rússia ganhar tal papel na Otan.
Mas Putin -que, em seu primeiro encontro com Bush, há um
ano, mencionou publicamente a
possibilidade de a Rússia tornar-se membro pleno da Otan- também se mostrou cauteloso. ""Sendo realistas, devemos recordar
que, historicamente, as relações
entre a Rússia e a Aliança do Tratado do Atlântico Norte nunca foram simples e diretas", disse ele.
Em seguida, destacou que, embora a Rússia não tenha sido admitida como membro pleno e que,
possivelmente, nunca o seja, ""devemos manter em mente que a
Declaração de Roma [assinada
ontem" é só um começo".
O novo acordo entre a Rússia e a
aliança toma o lugar de um acordo negociado cinco anos atrás,
durante o governo Clinton, pelo
qual a Rússia podia tomar parte
em discussões com a Otan apenas
depois que todos os seus membros tivessem chegado a um acordo sobre uma posição unificada.
Com isso, restava à Rússia apenas reagir às ações da Otan. Moscou queixou-se de que o arranjo
era uma farsa e disse que os outros 19 membros da organização
reconheciam que ele fazia muito
pouco para refletir as preocupações e a influência russas.
Sob o novo arranjo, a Rússia
participará das discussões desde o
início, mas não terá direito a voto.
O secretário de Estado norte-americano, Colin L. Powell, concordou que, embora Rússia e
EUA estejam reduzindo seus arsenais nucleares de maneira dramática e cooperando no quadro
da Otan, cada país vai manter armas e distância suficiente para garantir sua proteção: ""Sempre teremos uma proteção contra incertezas no futuro, em nossas forças militares e nas armas nucleares."
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