São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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ONU pede mais tropas para conter violência no Timor

Mortos são 27; gangues aterrorizam a capital

DA REDAÇÃO

O representante especial da ONU no Timor Leste, Sukehiro Hasegawa, afirmou ontem que são necessárias mais forças de paz para restaurar a ordem na capital, Dili. Ele fez um apelo aos líderes do país para que não deixem aumentar as hostilidades. "Eles têm pontos de vista diferentes sobre como administrar o país, e a (situação) é muito, muito frágil", disse.
Cerca de 300 funcionários da organização já foram retirados do país.
Ontem, enquanto gangues rivais aterrorizavam a capital sem praticamente encontrar resistência, dezenas de milhares de moradores de Dili buscaram refúgio em igrejas, embaixadas e no aeroporto. Pelo menos 27 pessoas já morreram.
Pelo terceiro dia seguido, gangues incendiaram casas e entraram em confronto, portando machetes e facas. Soldados australianos dispersaram alguns deles, que, porém, rapidamente se reagruparam.
Os incêndios enchiam de fumaça preta o céu da capital, além de provocarem explosões nas tubulações de gás. As ruas estão repletas de destroços.
Ontem à noite, Dili ainda estava em chamas, enquanto helicópteros levando soldados armados sobrevoavam a cidade.
Um encontro do gabinete foi agendado para hoje, em meio a especulações de que o governo pode entrar em colapso e de que o o Parlamento será dissolvido. O primeiro-ministro, Mari Alkatiri, havia dito que a violência é resultado de um complô para tirá-lo do poder.

Condições precárias
Cerca de 27 mil timorenses buscaram abrigo em campos de refugiados, afirmou Robert Ashe, representante regional do Alto Comissariado da ONU para Refugiados. Mas as condições nas barracas de campanha são precárias.
Crianças se lavam em poças poluídas por excrementos humanos, e muitos não têm acesso a comida ou água potável.
Entre eles está Aquilino Soares Torres, 34, que se refugiou no aeroporto de Dili com a mulher e oito filhos. Ele lamenta que as forças estrangeiras não estejam conseguindo dar um fim ao conflito. "Eles não vão à periferia, onde ocorre a violência. Acho que a situação irá piorar. Estou pronto para deixar o país apenas com a roupa do meu corpo", afirmou.
O Japão, assim como a Austrália, os EUA e outros países, manteve no Timor apenas suas equipes de emergência.
Cerca de 200 chineses procuraram abrigo na embaixada de seu país. O governo da China afirmou que irá enviar um avião ainda hoje para retirar seus cidadãos.
Os conflitos no Timor Leste tiveram início com a demissão de 591 militares das Forças Armadas que haviam entrado em greve, reclamando de discriminação e das precárias condições de trabalho. Segundo o governo, a onda de violência teve início depois que alguns dos homens desligados do Exército tentaram emboscar tropas oficiais. Nova Zelândia e Austrália ofereceram ajuda militar.
Ex-colônia portuguesa, em 1975 Timor Leste foi ocupado pela Indonésia. Em 1999, um referendo decidiu pela independência e deu início a uma guerra civil que destruiu o pequeno país, com território menor que Sergipe. Cerca de 5% da população fala português.


Com agências internacionais

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