|
Próximo Texto | Índice
Assentamentos expõem tensão EUA-Israel
Obama cobra congelamento da expansão de colônias na Cisjordânia; governo Netanyahu diz que "crescimento natural" continuará
Americano recebeu ontem na Casa Branca o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, e reafirmou seu compromisso com solução de dois Estados
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
As relações entre o governo
dos EUA e o gabinete israelense
atingiram ontem seu patamar
mais baixo desde a posse do democrata Barack Obama, em janeiro, e da volta do linha-dura
Binyamin Netanyahu ao posto
de premiê, em março.
A Casa Branca obamista vem
pedindo com vigor o congelamento da expansão dos assentamentos judaicos em territórios palestinos e a solução de
dois Estados, Israel e Palestina,
como condições básicas para
que as negociações de paz sejam retomadas com um mínimo de chance de sucesso, ambos argumentos rejeitados pelo
governo de Netanyahu.
Ontem, em entrevista conjunta após encontro com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud
Abbas, em Washington, Obama
voltou a defender essas posições, explicitadas quando da visita do líder israelense, dez dias
antes. O plano de paz, disse,
prevê "o fim dos assentamentos e a garantia de que haja um
Estado palestino viável".
No dia anterior, a secretária
de Estado, Hillary Clinton, havia sido ainda mais direta, no
que analistas consideraram a
retórica mais dura entre os dois
aliados em mais de duas décadas. O presidente foi "muito
claro", afirmou a chanceler então, sobre o congelamento geral
e irrestrito: "Não alguns assentamentos, não postos avançados, sem exceção para crescimento natural".
Há hoje quase 500 mil pessoas vivendo nesses encraves,
considerados um obstáculo para o estabelecimento de um futuro Estado palestino. Netanyahu prometeu a remoção de
26 dos 121 assentamentos, localizados na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, mas afirmou
que há que se respeitar a expansão natural dos já existentes.
"Israel vai respeitar seu compromisso de não construir novos assentamentos e destruir
postos avançados", disse o porta-voz do governo israelense,
Mark Regev. "Quanto aos já
existentes, seu destino vai ser
determinado nas negociações
finais entre Israel e os palestinos. Neste ínterim, deve-se
permitir que a vida normal siga
nessas comunidades."
Desde que assumiu a Casa
Branca, em janeiro, Obama se
empenha na solução do conflito israelo-palestino como uma
das bases para seu plano de estabilização do Oriente Médio e
de contenção da influência iraniana na região. Ontem, voltou
a dizer que não pretende criar
um "cronograma artificial" para a criação de um Estado palestino, mas que também não
quer desperdiçar tempo.
Obama embarca na semana
que vem para o Egito, de onde
fará seu primeiro discurso dirigido inteiramente aos muçulmanos, cumprindo uma promessa de campanha. Ele terá
lugar provavelmente na Universidade do Cairo, num momento simbolicamente importante na relação dos EUA com o
mundo islâmico pós-ataque de
11 de Setembro.
Sem margem de manobra
No encontro com Abbas,
Obama disse que os palestinos
também deveriam fazer sua
parte, garantindo segurança na
Cisjordânia e diminuindo o
sentimento anti-israelense reinante em mesquitas e escolas.
O presidente da ANP concordou com ambos os pedidos.
O problema é que ele promete o que provavelmente não poderá cumprir: o líder palestino
não tem comando sobre Gaza,
há dois anos governada pelo
grupo radical Hamas, que não
reconhece sua autoridade e que
chegou ao poder após vencer
eleições legislativas.
Com população de 1,5 milhão
de pessoas, a maioria vivendo
em condições abaixo da linha
de pobreza, aquela porção litorânea de terra foi palco de ofensiva das tropas de Israel quatro
meses atrás, em retaliação pelo
lançamento de foguetes patrocinado pelo Hamas.
É esse ciclo vicioso que Obama busca romper, algo que seus
antecessores tentaram sem sucesso. A diferença é a retórica.
"A surpresa não é a posição de
Israel, mas a assertividade da
americana", disse Robert Maley, assistente especial para assuntos árabe-israelenses sob
Bill Clinton (1993-2001).
"Raramente nós vimos esse
ritmo, com essa intensidade e
clareza", afirmou. "Os EUA tomaram uma posição que não
deixa muita margem de manobra para o governo de Israel."
Próximo Texto: Taleban ameaça novos atentados em grandes cidades paquistanesas Índice
|