|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jogo do Brasil adiará início das eleições
DO ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Os bolivianos vão às urnas amanhã, mas só depois do jogo
do Brasil -do Brasil, não da Alemanha- pela final da Copa do
Mundo. A Corte Nacional Eleitoral (CNE) da Bolívia adiou a abertura das urnas para depois da partida decisiva. "Vamos também
encurtar a cerimônia de início do
pleito", disse Luis Ramiro Beltrán,
presidente do tribunal.
Uma piada que corre em La Paz,
capital do país, diz que o domingo
será de vitória para um milionário, muito rápido, com jeito de
vencedor e de grande agilidade
mental. "Manfred ou Goni?", pergunta um desavisado, referindo-se pelo nome e apelido dos dois
candidatos favoritos à Presidência da Bolívia. "Não! Não! Ronaldo!", responde outro boliviano.
Não é preciso procurar muito
para achar uma camisa da seleção
na avenida Arce, localizada na região central da capital boliviana.
"Vamos todos torcer pelo Brasil,
não há dúvida", diz Javier Moreira, 11. Mesmo depois de o Brasil
ter goleado a Bolívia nas eliminatórias? "Já não nos lembramos
disso. Agora o Brasil vai representar todos os sul-americanos", retruca o menino.
Javier mostra orgulhoso a camisa amarela debaixo do casaco,
mas sobre a blusa de lã -a temperatura em La Paz está registrando uma média de 11C.
Garoto moreno, de cabelos negros muito lisos e feições que denotam a ascendência indígena, ele
anda apressado para, apesar do
frio, assistir a uma partida de futebol amador num campo público
próximo. Lá, a opinião dos vendedores nas barraquinhas que circundam a arquibancada é unânime: vai dar Brasil na cabeça.
Unanimidade
"Só há duas unanimidades aqui na Bolívia: torcer pelo Brasil e torcer contra o Chile", afirma Armando Núñez, enquanto vendia um refrigerante para Javier.
A rivalidade com o Chile parece
ser levada a sério pelos pacenhos,
como são denominados os nascidos em La Paz. Uma derrota militar para os chilenos no fim do século 19 deixou a Bolívia sem saída
para o mar. Os chilenos, à época,
acabaram abocanhando o deserto
de Atacama. Hoje, Chile e Bolívia
não mantêm relações diplomáticas.
Mas, e o Acre, que era boliviano
e hoje é brasileiro? "Isso não importa mais", diz Núñez.
Um certo alvoroço acontece
quando outras pessoas se aproximam para falar da admiração pela
seleção canarinho. "Ronaldo, Ronaldo", repete um deles, quase como se repetisse um mantra. "Rivaldo!", diz outro, porém com
menos entusiasmo.
Antes do jogo, as caixas de som
tocam no limite de suas capacidades. Uma delas se destaca: "Tapinha não dói". A música faz sucesso em todo o país, afirma um dos
fãs do camisa 9 da seleção. "Vamos comemorar com ela a vitória
da seleção do Brasil", diz. "Ronaldo!", grita uma última vez, antes
de se afastar.
Estudantes universitários brasileiros em cidades como Santa
Cruz de La Sierra e Cochabamba prometeram fazer festa nas ruas.
Nem tudo é festa
O jogo, entretanto, não deve
desviar a atenção da CNE quanto
à segurança. Enquanto os cerca de
4 milhões de eleitores (a população total ultrapassa os 8 milhões)
estiverem indo às urnas, todas as
fronteiras da Bolívia estarão fechadas.
Apenas vôos internacionais
chegarão à capital. Cerca de 40 mil
policiais e soldados do Exército
patrulharão os locais de votação.
Durante todo o domingo vigora
também a lei seca.
A corte promete liberar o resultado final da apuração em 24 horas. Estarão em jogo, além da Presidência da República, 130 cadeiras na Câmara Baixa e 27 cadeiras no Senado.
Até ontem, o candidato populista Manfred Reyes Villa liderava
as pesquisas de opinião com 20%
das intenções de voto. Ele era seguido de perto pelo ex-presidente
Gonzalo Sánchez de Lozada, que
tinha cerca de 17% das intenções.
Os favoritos prometeram torcer pelo Brasil, hoje principal parceiro comercial dos bolivianos.
Texto Anterior: Eleições: Corte critica intervenção dos EUA na Bolívia Próximo Texto: Tribunal de Haia: Milosevic mostra sinais de desgaste Índice
|