São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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Jogo do Brasil adiará início das eleições

DO ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Os bolivianos vão às urnas amanhã, mas só depois do jogo do Brasil -do Brasil, não da Alemanha- pela final da Copa do Mundo. A Corte Nacional Eleitoral (CNE) da Bolívia adiou a abertura das urnas para depois da partida decisiva. "Vamos também encurtar a cerimônia de início do pleito", disse Luis Ramiro Beltrán, presidente do tribunal.
Uma piada que corre em La Paz, capital do país, diz que o domingo será de vitória para um milionário, muito rápido, com jeito de vencedor e de grande agilidade mental. "Manfred ou Goni?", pergunta um desavisado, referindo-se pelo nome e apelido dos dois candidatos favoritos à Presidência da Bolívia. "Não! Não! Ronaldo!", responde outro boliviano.
Não é preciso procurar muito para achar uma camisa da seleção na avenida Arce, localizada na região central da capital boliviana. "Vamos todos torcer pelo Brasil, não há dúvida", diz Javier Moreira, 11. Mesmo depois de o Brasil ter goleado a Bolívia nas eliminatórias? "Já não nos lembramos disso. Agora o Brasil vai representar todos os sul-americanos", retruca o menino.
Javier mostra orgulhoso a camisa amarela debaixo do casaco, mas sobre a blusa de lã -a temperatura em La Paz está registrando uma média de 11C.
Garoto moreno, de cabelos negros muito lisos e feições que denotam a ascendência indígena, ele anda apressado para, apesar do frio, assistir a uma partida de futebol amador num campo público próximo. Lá, a opinião dos vendedores nas barraquinhas que circundam a arquibancada é unânime: vai dar Brasil na cabeça.

Unanimidade
"Só há duas unanimidades aqui na Bolívia: torcer pelo Brasil e torcer contra o Chile", afirma Armando Núñez, enquanto vendia um refrigerante para Javier.
A rivalidade com o Chile parece ser levada a sério pelos pacenhos, como são denominados os nascidos em La Paz. Uma derrota militar para os chilenos no fim do século 19 deixou a Bolívia sem saída para o mar. Os chilenos, à época, acabaram abocanhando o deserto de Atacama. Hoje, Chile e Bolívia não mantêm relações diplomáticas.
Mas, e o Acre, que era boliviano e hoje é brasileiro? "Isso não importa mais", diz Núñez.
Um certo alvoroço acontece quando outras pessoas se aproximam para falar da admiração pela seleção canarinho. "Ronaldo, Ronaldo", repete um deles, quase como se repetisse um mantra. "Rivaldo!", diz outro, porém com menos entusiasmo.
Antes do jogo, as caixas de som tocam no limite de suas capacidades. Uma delas se destaca: "Tapinha não dói". A música faz sucesso em todo o país, afirma um dos fãs do camisa 9 da seleção. "Vamos comemorar com ela a vitória da seleção do Brasil", diz. "Ronaldo!", grita uma última vez, antes de se afastar.
Estudantes universitários brasileiros em cidades como Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba prometeram fazer festa nas ruas.

Nem tudo é festa
O jogo, entretanto, não deve desviar a atenção da CNE quanto à segurança. Enquanto os cerca de 4 milhões de eleitores (a população total ultrapassa os 8 milhões) estiverem indo às urnas, todas as fronteiras da Bolívia estarão fechadas.
Apenas vôos internacionais chegarão à capital. Cerca de 40 mil policiais e soldados do Exército patrulharão os locais de votação. Durante todo o domingo vigora também a lei seca.
A corte promete liberar o resultado final da apuração em 24 horas. Estarão em jogo, além da Presidência da República, 130 cadeiras na Câmara Baixa e 27 cadeiras no Senado.
Até ontem, o candidato populista Manfred Reyes Villa liderava as pesquisas de opinião com 20% das intenções de voto. Ele era seguido de perto pelo ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que tinha cerca de 17% das intenções.
Os favoritos prometeram torcer pelo Brasil, hoje principal parceiro comercial dos bolivianos.



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