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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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Irã na blogosfera


Internet vê explosão de sites pessoais de jovens iranianos, que também retornam ao centro das atenções ao realizar protestos em Teerã neste mês


MARIA BRANT
DA REDAÇÃO

"Os blogs nos abriram uma nova porta para o mundo: podemos não só ver, mas também falar sobre o que acontece -é um mundo no qual temos a liberdade que não temos no mundo real."
A frase acima, dita por uma estudante de 16 anos de Teerã (http://iraniangirl.blogspot.com), é uma das explicações possíveis para um dos mais comentados fenômenos da internet: a explosão de diários de iranianos.
Os blogs, ou weblogs, são uma espécie de diário na rede. Podem tratar de assuntos pessoais ou ser um "índice" de links e reflexões sobre um determinado assunto.
A popularização de ferramentas gratuitas -que permitem que qualquer um com uma conexão à rede crie páginas pessoais, facilmente atualizáveis- fez com que o número de blogs passasse de centenas para cerca de 2,6 milhões em cerca de três anos, diz o site especializado Blogcount.
Como em todo evento na internet, a presença americana é a mais sentida. Os brasileiros vêm em segundo lugar -em dezembro de 2002, segundo a revista "Wired", havia cerca de 200 mil blogs brasileiros. Mas o fenômeno mais inesperado foi mesmo a proliferação de blogs de jovens habitantes do Irã, que em menos de um ano se multiplicou por mil.
Segundo Hossein Derakhshan (http://hoder.com/weblog), iraniano que vive em Toronto e que possibilitou no ano passado o uso de caracteres em persa em ferramentas de blogs, há cerca de 12 mil blogs iranianos ativos hoje -sendo que 400 mil pessoas têm acesso à internet no país.
Em comparação, um estudo de maio das universidades de Granada e Zaragoza, na Espanha, estima que haja cerca de 2.000 blogs em língua espanhola.
Os estudantes iranianos também voltaram a ocupar o centro das atenções no Irã no início deste mês, quando realizaram protestos na região da Universidade de Teerã que tinham como alvo tanto os clérigos conservadores quanto o presidente moderado do Irã, Mohamad Khatami - eleito em 1997 com a promessa de introduzir reformas democráticas no país, mas, que, desde então, trava uma disputa com os clérigos.
A coincidência dos dois fenômenos - e é preciso lembrar que cerca de 70% da população do Irã (48 milhões de pessoas) têm menos de 30 anos e nasceram sob a República Islâmica, instaurada em 1979 pelo aiatolá Khomeini- chamou a atenção de articulistas europeus e principalmente americanos nos últimos meses .
Pois, para grande parte dos analistas estrangeiros, os protestos, aliados às opiniões críticas ao regime manifestadas em 10 entre 10 blogs iranianos, foram festejados como sinal de que os jovens queriam e instaurar uma democracia "American-style".
Mas não é bem assim: no último dia 15, Derakhshan provocou reações furiosas de americanos ao reagir a uma declaração de George W. Bush em que o presidente dos EUA classificava como "positiva" a onda de protestos, que teria como objetivo "um Irã livre". O iraniano respondeu em seu site: "Será que o sr. poderia calar a boca e nos deixar lidar com nossos próprios problemas?".
Para tentar entender um pouco mais sobre o que acham dos protestos universitários, o que fazem em seu dia-a-dia e o que querem do futuro, a Folha enviou perguntas a 30 autores de blogs iranianos em língua inglesa que figuram em uma lista compilada por Derakhshan. Dezessete responderam, sendo oito jovens iranianos no Irã e nove emigrados recentes a outros países.
A amostra, apesar de pequena, dá uma idéia do quão difícil é classificar as aspirações desses jovens.
Eles querem um regime mais aberto, mas não necessariamente secular. Desejam conhecer o mundo, e alguns até sonham em emigrar para outro país, mas admiram líderes nacionalistas.
Ouvem a mesma música que adolescentes no mundo inteiro, mas, escolados por 24 anos de censura, são extremamente desconfiados de qualquer órgão de mídia, incluindo as TVs por satélite iranianas com sede nos EUA.
Eles desprezam as restrições impostas pelo regime, mas dizem que os mulás devem ser respeitados quanto à sua fé religiosa.
Leia nesta página algumas das respostas enviadas à Folha.

Colaborou Otavio Dias


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