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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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DIREITOS HUMANOS

Ex-militar Cavallo é acusado de tortura durante ditadura e será julgado em corte espanhola

México extradita argentino à Espanha

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O ex-militar argentino Ricardo Cavallo foi extraditado ontem para a Espanha. Será julgado por violação aos direitos humanos contra cidadãos espanhóis que viviam na Argentina durante o último governo militar (1976-1983). Cavallo é ex-oficial da Esma (Escola Mecânica Armada), que foi um campo de tortura da última ditadura argentina.
O ex-militar foi detido pela Justiça mexicana em agosto de 2000. Ele vivia no México com outro nome para fugir dos diversos processos contra ele. É acusado por prática de tortura e genocídio enquanto trabalhou na Esma, entre novembro de 1979 e maio de 1980.
O pedido de extradição foi encaminhado ao governo mexicano pelo juiz espanhol Baltazar Garzón, que julga casos de violação aos direitos humanos contra cidadãos espanhóis durante os governos militares da América Latina e ficou célebre ao pedir a extradição do ex-ditador chileno Augusto Pinochet.
A autorização para a extradição foi concedida pela Justiça mexicana, que tem um tratado bilateral para esses casos com a Espanha, e não teve interferência do governo argentino, apesar das críticas de setores ligados aos militares dentro do país. Esses segmentos alegam que a decisão "atenta contra a soberania nacional". O governo Kirchner, por sua vez, preferiu não interferir e até deu sinais de que irá facilitar novos pedidos. Só da Espanha, são 98.
O julgamento do ex-militar é visto como o primeiro passo para que outros casos como o dele sejam analisados e punidos. Na Argentina, há centenas de outros pedidos de extradição que foram negados durante os últimos governos. O atual presidente, Néstor Kirchner, já sinalizou que pretende facilitar o julgamento e a punição de militares que estiveram envolvidos com tortura.
O advogado de Cavallo, Manuel Plata García, tentou adiar ao máximo a conclusão de sua extradição. Mas, ontem, informou que, neste momento, "a extradição é a melhor opção para que Cavallo tenha direito a se defender".

Lembrança
Vítimas do ex-torturador foram as responsáveis pela sua prisão no México. Cavallo participava como palestrante de um seminário, quando ex-presos políticos argentinos que estavam ou viviam no país o reconheceram.
"Nunca vou me esquecer da voz dele durante as torturas", disse um deles. Dois dos sobreviventes das torturas de Cavallo são Ana Testa e Victor Lordkipanise, testemunhas de acusação.
Em entrevista a uma agência de notícias argentina, Testa disse lembrar de todos os detalhes das práticas de tortura utilizadas por Cavallo. "Não posso esquecer essa voz, me dá calafrios, e a reconheceria mesmo daqui a cem anos; isso me incomoda porque quero apagar essas cenas da memória."


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