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Eleição expõe fragilidade de partidos
DE BUENOS AIRES
Há um ano e meio, Cristina Kirchner era eleita presidente da Argentina com 45%
dos votos, e iniciava sua gestão com aprovação de 60%
dos argentinos.
Hoje a popularidade do governo ronda os 30%, atingida
pelo conflito com os produtores rurais e pela crise que
interrompeu seis anos de
crescimento econômico. A
bandeira da mudança passou
às mãos da oposição, e a eleição de ontem será um termômetro do desgaste oficial.
Para analistas consultados
pela reportagem, a mudança
repentina do quadro é também consequência da crise
de representação política no
país, com perda do protagonismo dos partidos.
"Hoje há um cenário político hiperfragmentado, com
lealdades e alianças que não
duram duas eleições e uma
ausência marcada de partidos políticos", afirma Fabian
Perechodnik, da consultora
Poliarquía.
Há 713 partidos na Argentina. Nas eleições de ontem,
186 siglas participaram individualmente, e 417, em alianças, num total de 98 frentes
formadas para o pleito.
"Se você pergunta qual
partido os candidatos representam, todos integram
frentes. As siglas têm pouca
importância ou desapareceram", afirma Perechodnik.
A dispersão é clara inclusive na maior força política do
país, o Partido Justicialista
(peronista), presidido pelo
ex-presidente e candidato a
deputado Néstor Kirchner.
Como a sigla compete dividida em 15 dos 24 distritos eleitorais, com listas pró e contra o governo, a saída é a formação de frentes.
A Frente para a Vitória,
aliança eleitoral do kirchnerismo, apresenta candidatos
por fora do PJ em seis distritos. O único partido que se
apresenta nos 24 distritos é a
União Cívica Radical, mas
com alianças diferentes.
"A crise da representação
política no país ficou encapsulada a partir de 2003, com
a eleição de Kirchner, mas o
processo continuou e volta
agora em evidência", diz a
analista Graciela Römer.
Para Darío Rodriguez, do
Instituto de Investigações
Gino Germani, a crise dos
partidos faz surgir lideranças
políticas que interpelam o
eleitorado sem mediações.
"Estabelecem laços diretos
com a cidadania, em autonomia da estrutura partidária."
Perechodnik afirma que a
ascensão do empresário
Francisco De Narváez, que
cresceu na política impulsionado pela publicidade, é
exemplo desse fenômeno.
"Diante da descrença nos
partidos tradicionais, avançou uma candidatura construída com muitos recursos e
quatro ou cinco slogans sem
muita profundidade."
(TG)
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