São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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Eleição expõe fragilidade de partidos

DE BUENOS AIRES

Há um ano e meio, Cristina Kirchner era eleita presidente da Argentina com 45% dos votos, e iniciava sua gestão com aprovação de 60% dos argentinos.
Hoje a popularidade do governo ronda os 30%, atingida pelo conflito com os produtores rurais e pela crise que interrompeu seis anos de crescimento econômico. A bandeira da mudança passou às mãos da oposição, e a eleição de ontem será um termômetro do desgaste oficial.
Para analistas consultados pela reportagem, a mudança repentina do quadro é também consequência da crise de representação política no país, com perda do protagonismo dos partidos.
"Hoje há um cenário político hiperfragmentado, com lealdades e alianças que não duram duas eleições e uma ausência marcada de partidos políticos", afirma Fabian Perechodnik, da consultora Poliarquía.
Há 713 partidos na Argentina. Nas eleições de ontem, 186 siglas participaram individualmente, e 417, em alianças, num total de 98 frentes formadas para o pleito.
"Se você pergunta qual partido os candidatos representam, todos integram frentes. As siglas têm pouca importância ou desapareceram", afirma Perechodnik.
A dispersão é clara inclusive na maior força política do país, o Partido Justicialista (peronista), presidido pelo ex-presidente e candidato a deputado Néstor Kirchner. Como a sigla compete dividida em 15 dos 24 distritos eleitorais, com listas pró e contra o governo, a saída é a formação de frentes.
A Frente para a Vitória, aliança eleitoral do kirchnerismo, apresenta candidatos por fora do PJ em seis distritos. O único partido que se apresenta nos 24 distritos é a União Cívica Radical, mas com alianças diferentes.
"A crise da representação política no país ficou encapsulada a partir de 2003, com a eleição de Kirchner, mas o processo continuou e volta agora em evidência", diz a analista Graciela Römer.
Para Darío Rodriguez, do Instituto de Investigações Gino Germani, a crise dos partidos faz surgir lideranças políticas que interpelam o eleitorado sem mediações. "Estabelecem laços diretos com a cidadania, em autonomia da estrutura partidária."
Perechodnik afirma que a ascensão do empresário Francisco De Narváez, que cresceu na política impulsionado pela publicidade, é exemplo desse fenômeno.
"Diante da descrença nos partidos tradicionais, avançou uma candidatura construída com muitos recursos e quatro ou cinco slogans sem muita profundidade." (TG)


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