São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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Israel já discute eficácia das opções militares

DA REDAÇÃO

Os israelenses discutem, internamente, a eficácia das quase três semanas de operações militares no Líbano. Analistas assumem posições passionais. Mesmo se 82% das pessoas apóiam a iniciativa do primeiro-ministro Ehud Olmert -é pesquisa publicada anteontem pelo "Maariv"- a tentativa de destruir o Hizbollah é a essas alturas dos combates um tema bastante controvertido.
Yoel Marcus, jornalista e biógrafo do ex-premiê Ariel Sharon, diz ser evidente a suspeita de que o Estado-Maior israelense não está fazendo a melhor guerra de que seria capaz. "Os mísseis do Hizbollah atingem civis inocentes, o que nenhum país árabe jamais ousou fazer", diz ele, nos quase 60 anos de existência de Israel.
Ele acredita que toda a estratégia militar é anacrônica. Em lugar de ataques maciços sobre alvos inimigos identificados com precisão, há o bombardeio indiscriminado no Líbano, o que destrói a capacidade de dissuasão israelense -o grupo radical xiita ganha novos adeptos entre as numerosas vítimas-, em lugar de reforçá-la.
Para os israelenses a experiência também é traumática. No norte do país, um terço da população foi parar em abrigos. Há a ameaça de que os mísseis do Hizbollah atinjam as instalações nucleares de Dimona.
Marcus diz também que o Hizbollah se confunde de tal maneira com a população xiita que destruir o grupo é um objetivo praticamente impossível.
Avraham Tal diz no "Haaretz" que o Hizbollah acumulou ao sul do Líbano o maior estoque de mísseis por quilômetro quadrado para evitar que Israel se defenda no momento em que o Irã, que caminha para obter a bomba atômica, possa partir para uma ofensiva futura de controle da região.
Também argumenta ser ingênuo acreditar que uma troca de prisioneiros evitaria o atual conflito. Caso cedesse, Israel estaria submetido a uma escalada de exigências, entre as quais poderia constar até a devolução de aldeias da Alta Galiléia aos descendentes da população xiita desalojada em 1948.
Desse modo, ele conclui, "o governo fez a coisa certa no momento certo" ao tentar neutralizar a capacitação militar do grupo radical islâmico.
Zeev Sternhell, pacifista e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, diz que Israel nada aprendeu com a primeira guerra do Líbano e com as derrotas que o Exército americanos enfrenta no Iraque.
É ingênuo, argumenta, acreditar que o governo libanês retiraria do sul as forças do Hizbollah. Ele não desencadearia uma nova guerra civil apenas para satisfazer as exigências da segurança israelense.
Do mesmo modo, é ilusório acreditar que os 700 mil libaneses desalojados se voltarão contra o seu governo e exigirão o isolamento do Hizbollah. Em verdade, diz ele, é o grupo islâmico que sairá ganhando no plano político, na medida em que se acirra a revolta da população civil contra os bombardeios israelenses.
Afirma, por fim, que Israel sacrifica seus jovens soldados para cumprir uma agenda -a do antiterrorismo global- definida pelos Estados Unidos.
Em termos mais práticos, há indagações sobre a ineficiência dos serviços israelenses de inteligência, que não souberam indicar as posições do Hizbollah no sul do Líbano. O "Jerusalem Post" afirma que o grupo islâmico não utilizou ainda os mísseis capazes de atingir Tel Aviv. Mesmo assim, essa hipótese permanece uma ameaça em suspenso.


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