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Desafio é gestão ortodoxa com face social
HAL WEITZMAN
DO "FINANCIAL TIMES", EM LIMA
Quando o arcebispo de Lima, cardeal Juan Luis Cipriani, repreendeu publicamente a administração peruana em final de mandato,
na semana passada, ele
ecoou um tema que há tempos é objeto de comentários
políticos na capital peruana.
Cipriani atacou o governo
de Alejandro Toledo por passar suas derradeiras semanas no poder promovendo
festas lautas, brindando suas
conquistas econômicas e entregando medalhas de honra
a seus funcionários. O Peru
melhorou, disse o clérigo,
"mas não podemos afirmar
que esteja muito melhor do
que antes, em vista das disparidades sociais abismais
ainda presentes".
Alguns meses atrás, Toledo temia que seu legado econômico pudesse ser desperdiçado pelo candidato nacionalista Ollanta Humala, que
prometia nacionalizar setores estratégicos e elevar os
impostos sobre os investimentos externos. Em lugar
disso, Alan García toma posse agora dando todos os indicativos de que vai garantir a
permanência das conquistas
econômicas da era Toledo.
García -que, quando ocupou a Presidência pela primeira vez, entre 1985 e 1990,
reduziu os pagamentos da
dívida externa e desencadeou uma crise econômica
aguda- foi eleito com base
numa plataforma de "mudança responsável", mas parece cada vez mais provável
que seu governo seja marcado pela continuidade em relação ao regime anterior.
Sob a Presidência de Toledo, o Peru desfrutou avanços
econômicos inegáveis: o PIB
cresceu 6,7% em 2005, a inflação está baixa, a moeda
peruana se encontra estável,
e o governo pode ter um pequeno superávit neste ano.
Mas García e outros já chamaram a atenção para o fato
de que os benefícios dessa riqueza não foram largamente
distribuídos. De modo geral,
o subemprego é grande, os
indicadores sociais não tiveram melhoras substanciais, e
a maioria dos peruanos vive
com menos de US$ 2 por dia.
A pobreza persistente
-especialmente nas regiões
montanhosas, onde comunidades que praticam a agricultura de subsistência vivem em condições pré-industriais que desmentem o
progresso macroeconômico
do país- está por trás da
frustração, da revolta com as
elites políticas e econômicas
e do desejo por reformas fundamentais no modo de operação do Estado.
Na formação de seu gabinete, porém, García optou
mais pela meta pessoal de
mostrar que, desta vez, fará
jus ao crédito depositado nele com sua eleição. Montou
uma equipe sólida, sensata e
competente, apontando para
a probabilidade de a "responsabilidade" ter prioridade sobre as "mudanças". Isso
ficou claro quando García escolheu Luis Carranza, um
banqueiro fiscalmente ortodoxo, para chefiar o Ministério da Fazenda.
A questão agora é se essa
prudência vai proporcionar a
García um espaço de manobra suficiente para garantir
alguma melhora palpável na
vida cotidiana da maioria da
população peruana.
Tradução de CLARA ALLAIN
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