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Baixas no ministério de Abe incluem suicídios
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de Shinzo Abe,
embora ainda tenha pouco
tempo de existência, já foi marcado por baixas no alto escalão.
Algumas traumáticas.
Devido a gafes e escândalos
de corrupção, dois ministros se
demitiram, um terceiro se suicidou e há ainda um outro na
corda bamba.
Renunciaram Genichiro Sata, da Administração, por receber doações ilegais, e Fumio
Kyma, da pasta da Defesa, por
declarar que as bombas atômicas que os EUA lançaram sobre
o Japão em 1945 foram um
evento inevitável.
Também renunciou Masaari
Homma, chefe da Receita Federal, que morava com a amante num apartamento funcional.
O suicida foi o ministro da
Agricultura, Toshikatsu Matsuoka. Ele se matou em razão
da descoberta de caixa dois em
sua vida parlamentar. Seu sucessor, Norihiko Akagi, sempre
apresenta duas notas fiscais
com a mesma despesa, uma original e outra xerografada, segundo reportagem de anteontem no "Asahi Shimbun".
A reputação pessoal de Abe
não foi atingida por nenhum
desses casos. Ele foi criticado,
no entanto, por não usar uma
peneira ética para a seleção de
seus auxiliares e por reagir invariavelmente depois de muita
hesitação. Cada um desses episódios se traduziu em queda de
popularidade. Só com o escândalo na Seguridade Social, ele
perdeu 12 pontos.
Paradoxalmente, Shinzo Abe
não teve sua imagem sensivelmente afetada por questões
controversas para o público externo. Por exemplo, os primeiros passos para reformar o artigo 9 da Constituição, promulgada em novembro de 1946,
ainda sob a ocupação americana, pela qual o Japão renuncia
às guerras e se conforma em
não constituir Forças Armadas
-o país tem uma simples agência de defesa.
Para os nacionalistas, a iniciativa faz sentido, em razão do
crescente rearmamento da
China e das ameaças da Coréia
do Norte -com a qual o Japão
tem como grande litígio o seqüestro de 13 supostos "espiões
japoneses", há três décadas,
ainda hoje desaparecidos.
O projeto chamado de "O Belo País" procura, controvertidamente, eliminar a baixa auto-estima nacional, provocada
pela consciência sobre as atrocidades cometidas durante a
expansão territorial na Ásia e a
Segunda Guerra Mundial.
Exército e prostituição
Shinzo Abe levou adiante
uma reforma dos livros didáticos, com a supressão ou uma
versão revisionista de fatos como o massacre de chineses em
Nanquim (1937) ou o suicídio
forçado de civis em Okinawa
(1945). Entrou em atrito com o
sindicato dos professores, cujos
contratos passaram a ser renovados a cada dez anos.
Nada tão chocante, no entanto, quanto a visão do premiê sobre as 50 mil ou 200 mil mulheres -o número exato jamais será conhecido- que os soldados
japoneses seqüestraram na
China e na Coréia, durante a
Segunda Guerra, para as escravizarem como prostitutas.
Abe afirmou não estar historicamente comprovado que o
Exército imperial estivesse por
detrás disso, maneira de dizer
que as vítimas podem ter prestado seus serviços sexuais por
voluntarismo desinteressado
ou patriotismo pró-nipônico.
Uma comissão do Congresso
americano pediu que Abe se retratasse. Ele não o fez.
O premiê foi nessa questão
truculento. Agiu por convicção
-faz parte de seu histórico parlamentar-, mas também para
agradar uma parcela da população japonesa que passou a se
encantar com filmes de guerra
em que os soldados locais são
heróis e a sentir uma nostalgia
difusa dos tempos em que a
Ásia tremia ao pensar nos generais de Hiroito.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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