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EUA anulam vistos diplomáticos de golpistas
Chancelaria diz que suspensão de quatro vistos é coerente com o fato de Washington não reconhecer governo Micheletti
Entre os afetados por sanção estão o juiz que ordenou a prisão do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o chefe do Congresso
Esteban Felix/Associated Press
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Partidários de Manuel Zelaya descansam na arquibancada de ginásio em Ocotal, onde estão os manifestantes que cruzaram a fronteira com a Nicarágua para retornar a Honduras como líder deposto
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
No dia em que a queda do
presidente hondurenho Manuel Zelaya completou um
mês, o Departamento de Estado americano anunciou ontem
que anulou os vistos diplomáticos de quatro ex-membros do
governo de Zelaya que continuaram a servir o regime golpista que se instalou sob Roberto Micheletti.
Os nomes e cargos dos atingidos pela medida não foram revelados ou confirmados por
Washington, mas a vice-chanceler do governo golpista, Martha Lorena Alvarado, relatou
que um deles é o juiz da Suprema Corte de Honduras Tomás
Arita, que assinou a ordem de
prisão de Zelaya que legitimou
o golpe de Estado.
Outro é o atual chefe do Parlamento, Alfredo Saavedra, que
assumiu o cargo no lugar de Micheletti. Alvarado, que não revelou os dois outros afetados
pela medida, qualificou o procedimento de "natural, em vista da situação que estamos vivendo neste momento em
Honduras". A suspensão foi
efetivada pela embaixada dos
EUA em Tegucigalpa.
A decisão de revogar os vistos
foi tomada entre segunda-feira
à noite e ontem, segundo a
Chancelaria americana. Embora o porta-voz tenha tentado
diminuir a importância da
coincidência, a escalada diplomática ocorre exatamente no
momento em que o Congresso
hondurenho discute os pontos
do Acordo de San José.
O plano, do mediador costa-riquenho Óscar Arias com a
bênção do governo de Barack
Obama, prevê a volta de Zelaya
ao cargo com poderes limitados, antecipação para outubro
das eleições presidenciais e
anistia legal para os membros
do regime golpista e o grupo em
torno do líder deposto.
Alguns aspectos encontram
resistência dos políticos hondurenhos anti-Zelaya. Outros
são refutados pelo próprio presidente deposto, exilado na vizinha Nicarágua. De lá ele mantém contato com o governo
americano. Zelaya era esperado na capital dos EUA ontem,
viagem que cancelou depois de
tentar entrar em Honduras
duas vezes.
Segundo o porta-voz Ian
Kelly, o Escritório de Aconselhamento Legal do Departamento de Estado ainda avalia
se o ocorrido em Honduras se
enquadra na definição de golpe
de Estado da lei americana. Em
caso positivo, o governo teria
de tomar uma série de medidas
que vem evitando, como ordenar a retirada do embaixador
do país e o bloqueio de bens de
hondurenhos ligados à ação.
O funcionário do governo
evitou ligar a escalada diplomática à votação do plano. "Nós
não reconhecemos Roberto
Micheletti como presidente de
Honduras, e sim Manuel Zelaya", disse. "Assim, coerentes
com essa política de não reconhecimento, decidimos revogar os vistos diplomáticos de
quatro membros do regime de
Micheletti."
Indagado se isso não representava uma maneira de pressionar os golpistas a aceitar o
plano de Arias, já que o cancelamento dos vistos poderia ter
ocorrido já na manhã do dia seguinte ao golpe, há um mês,
Kelly saiu-se pela tangente.
"Estamos fazendo tudo o que
podemos para apoiar esse processo que começou com o presidente Óscar Arias e seus esforços de negociação."
No que seria o próximo passo
na pressão, o porta-voz confirmou que os EUA podem reavaliar sua decisão inicial de suspender apenas parcialmente os
programas bilaterais entre os
dois países -a economia hondurenha depende pesadamente da injeção de dólares americanos para sobreviver.
Indagado sobre a incoerência
de os EUA manterem aberta
uma embaixada num país cujo
governo eles não reconhecem
como legítimos, o porta-voz
ressaltou as ações importante
do posto diplomático norte-americano nesse momento.
Entre elas, disse Kelly, está esse
"forte sinal" enviado ao Congresso hondurenho.
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