São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

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ANÁLISE

Ao contrário do Brasil recebido por Lula, peruano encontra herança "bendita"

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Todas as análises sobre Ollanta Humala indicam que ele se transformou de um protótipo de Hugo Chávez em uma imitação quase perfeita de Luiz Inácio Lula da Silva, se se aceitar que o venezuelano é um radical de esquerda e, o brasileiro, um moderado pragmático.
Há no entanto uma diferença essencial: se José Dirceu, então "capitão" do time de Lula, dizia que o governo petista recebera uma "herança maldita", Humala, se for sincero, terá que reconhecer que sua herança, ao contrário, é bendita.
Para começar, o Peru cresceu formidáveis 7,5% no primeiro semestre deste ano, o que significa que o novo presidente começa surfando uma onda de prosperidade, ao contrário do que aconteceu com Lula em 2003.
A herança é tão bendita que, também ao contrário do que ocorreu no Brasil, a vitória de Humala não foi precedida por uma onda de especulação, que o governo Fernando Henrique Cardoso atribuiu, à época, ao medo que Lula despertava nos mercados.
Humala conjurou o medo com a designação de uma equipe econômica de absoluta confiança dos agentes econômicos, a ponto de ter elevado a ministro da Economia Luis Miguel Castilla, que era o vice-ministro no governo Alan García, que o novo presidente não se cansou de criticar.
Mais ou menos o mesmo que Lula nomear Pedro Malan para seu ministro da Fazenda.
Sem contar que Humala tem o seu próprio Henrique Meirelles, na figura de Julio Velarde, mantido na presidência do Banco Central, um conservador militante do Partido Popular Cristão.
Com essa equipe, fica assegurada, aos olhos do mercado, a estabilidade macro-econômica. chaga aberta
É pouco, porém: para que Humala não tenha que fazer como Alan García -que nem foi ao Congresso, para não ser vaiado- terá que, ao menos, dar passos para realizar a promessa do discurso de posse de erradicar a pobreza, uma chaga aberta na sociedade peruana.
O governo Alan García até caminhou um pouco nessa direção, mas muito pouco: a pobreza caiu de 55% da população para 39,6%. E o então presidente nem conseguiu ter candidato à sua sucessão.


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