São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

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MOISÉS NAÍM

A Venezuela sem Chávez


Chávez não abriu espaço para outros líderes; assim, as disputas entre os muito diversos e divididos grupos chavistas serão ferrenhas


Metade da população venezuelana tem menos de 25 anos. Isso significa que metade do país não conheceu outro líder senão Hugo Chávez. Chávez não é apenas o presidente que está no poder há mais tempo nas Américas: 12 anos. Na Venezuela, ele é onipresente e onipotente.
O comandante anunciou que será candidato nas eleições presidenciais de 2012 e já disse que deseja ficar no poder até 2031.
O câncer está atrapalhando esses planos. A natureza exata da doença de Chávez é um segredo, embora o próprio presidente tenha dado a entender que é grave.
Esse fato desencadeou um forte conflito político. Surpreendentemente, não entre seus partidários e a oposição, mas entre as facções do chavismo que rivalizam para suceder o mandatário.
Chávez concentrou todo o poder, não abriu espaço para outros líderes nem preparou um sucessor ou instituições que possam organizar uma transição. Assim, as disputas entre os muito diversos e divididos grupos chavistas serão ferrenhas. Alguns deles estão armados, e todos têm muito dinheiro.
A mais importante destas facções é formada pelos militares, que, por sua vez, estão internamente divididos. Um dos oficiais favoritos do presidente é o general-chefe Henry Rangel Silva, que declarou que os militares não vão tolerar um governo de oposição, mesmo se vencer em 2012.
Em 2008, o governo dos EUA acusou Rangel de dar "apoio material ao tráfico de drogas".
A Venezuela é um centro muito importante de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, armas e pessoas. O volume de tráfico é tão grande que seria impossível sem a cumplicidade de alguns militares.
Por essa razão, é provável que uma das facções que tentará influir sobre a sucessão seja formada por oficiais ligados a organizações criminosas globais, que precisem de um governo tolerante com eles.
Outra facção é formada por militares vinculados à inteligência cubana. Chávez dá a Cuba US$ 5 bilhões ao ano em ajuda, incluindo 60% do petróleo que a ilha consome. Cuba não pode se dar ao luxo de ter em Caracas um governo que não mantenha este arranjo. Os militares não são o único grupo armado. Chávez criou milícias, grupos paramilitares e outras organizações obscuras que participarão em qualquer luta pelo poder.
E não são apenas as armas. O dinheiro também conta. Há um grupo de ricos vinculados ao governo que acumularam fortunas imensas na era Chávez. Também eles vão exercer um papel importante.
E a oposição? Hoje ela está mais forte e mais bem organizada, mas não tem nem grupos armados, nem muito dinheiro. Finalmente, há a família Chávez, especialmente um irmão do presidente, Adán. Este afirmou que "seria imperdoável limitar-se ao âmbito eleitoral e não enxergar outros métodos de luta, incluindo a armada".
É prematuro supor que Chávez seja carta fora do baralho. Mas é revelador que ele tenha trocado seu slogan obsessivo "pátria, socialismo ou morte" por "viveremos e venceremos". Ou que repita sem parar "unidade, unidade, unidade!".

@moisesnaim

Tradução de CLARA ALLAIN

AMANHÃ EM MUNDO
Paul Krugman


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