São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Em visita a Beirute, Annan pressiona Israel e Hizbollah

Secretário-geral da ONU pede libertação de soldados e fim do bloqueio israelense

No início de uma viagem a 9 países da região, Annan critica desrespeito ao cessar-fogo e é vaiado ao visitar subúrbio xiita de Beirute

DA REDAÇÃO

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, criticou Israel e o Hizbollah por desrespeitarem o cessar-fogo ao chegar ontem a Beirute, na primeira escala de uma viagem de 11 dias ao Oriente Médio. A presença de Annan na capital libanesa ocorreu em meio a uma intensa movimentação diplomática para definir a composição da missão de paz que será enviada ao sul do país.
As declarações de Annan alimentaram os rumores de que há uma negociação em andamento para a troca de prisioneiros entre Israel e o Hizbollah. Em entrevista no domingo, o líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah, disse que há contatos nesse sentido, mediados pela ONU e pela Itália, o que foi negado por Israel.
"Renovo meu apelo para que os soldados capturados sejam libertados e, como um primeiro passo, sejam transferidos, sob os auspícios da Cruz Vermelha, para o governo libanês ou para uma terceira parte", disse Annan após reunir-se com o gabinete libanês.

Aprovação turca
Com Annan em Beirute, sinais de avanço na consolidação da força multinacional vieram da Itália e da Turquia. O ministério da Defesa da Itália, país que dividirá com a França o comando da missão, anunciou que um contingente de 1.900 soldados deve chegar ao Líbano até sexta-feira.
O gabinete turco aprovou o envio de soldados à missão da ONU, mas a decisão ainda depende do aval do Parlamento, que deve ser dado na semana que vem. Se acontecer, será a primeira participação confirmada de um país muçulmano na missão da ONU. Israel rejeita países islâmicos com os quais não tem laços diplomáticos, o que não é o caso da Turquia, com a qual tem até um pacto militar.
Sentado ao lado do premiê libanês, Fouad Siniora, Annan criticou Israel e Hizbollah pelo desrespeito a alguns pontos da resolução 1.701 da ONU, que estabeleceu as bases do cessar-fogo após 34 dias de combates. Além de exigir que o grupo xiita liberte os dois soldados que seqüestrou no dia 12 de julho, exortou Israel a levantar o bloqueio naval e aéreo sobre o país. "O menu é fixo. Não é um bufê ou um menu a la carte em que se pode escolher o que pegar. Temos que implementar [a resolução 1.701] em sua totalidade", disse Annan.
Israel respondeu rapidamente, reiterando que o bloqueio será mantido até que os capacetes azuis assumam posição. "Uma vez que a força internacional esteja totalmente posicionada e em condições de evitar o tráfico de armas para o Hizbollah, não haverá necessidade para o bloqueio aéreo e marítimo", disse David Baker, assessor do governo israelense.
Sem citar os países pelo nome, Annan fez uma referência indireta a Irã e Síria. "Todas as nações devem respeitar o embargo de armas", disse. "É importante que as fronteiras sejam protegidas e que não haja tentativas de rearmamento."
Annan sentiu de perto o apoio ao grupo xiita em sua visita a um subúrbio do sul de Beirute, duramente castigado pela ofensiva de Israel. Vaiado por algumas das centenas de pessoas que cercaram sua comitiva, muitas com cartazes de Nasrallah, Annan preferiu encurtar a visita.

Investigação em Israel
Hoje Annan estará em Israel, onde deverá discutir com o governo formas de negociar a troca de prisioneiros com o Hizbollah. Sua viagem incluirá ainda os territórios palestinos, Jordânia, Síria, Qatar, Irã, Arábia Saudita, Egito e Turquia.
Pressionado por uma crescente onda de insatisfação popular com o desfecho da guerra contra o Hizbollah, o premiê israelense, Ehud Olmert, anunciou ontem a abertura de uma investigação oficial para apurar possíveis erros na condução do conflito.


Com agências internacionais


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