São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

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Cuba atrasa pagamento de dívidas

Petroleira canadense e fornecedores japoneses são afetados; Japão suspende aval oficial a vendas à ilha

Brasil ainda não foi atingido; país sofre com alta mundial dos combustíveis e dos alimentos; crise atrasa as reformas econômicas


FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Acossado pela alta dos preços combustíveis e, em especial, pela inflação mundial dos alimentos, o governo cubano deixou de pagar parcelas devidas à petroleira canadense Pebercan e também a fornecedores japoneses, o que levou a agência exportadora do país oriental a interromper a emissão de seguros para vendas à ilha.
A decisão da agência japonesa é de 5 de agosto, mas só veio a público na semana passada. A da petroleira do Canadá, é do fim de junho. "Dada a difícil situação econômica e o contexto geral de aumento do preço de alimentos, a Cupet [a estatal cubana do petróleo] foi incapaz de fazer os pagamentos de abril e maio", diz o comunicado da Pebercan. A ilha deixou de repassar US$ 37 milhões à empresa, que disse estar em negociação com o governo cubano.
Os dois casos juntam-se aos reiterados discursos oficiais sobre austeridade e corte em investimentos -que visam baixar as expectativas da população quanto à velocidade das reformas econômicas prometidas por Raúl Castro- e têm espalhado um clima de incerteza entre os fornecedores.
Segundo reportagem da agência Reuters, em Havana, o governo Raúl Castro informou a ao menos dois países ocidentais que não teria fundos para honrar pagamentos a seus governos e empresas neste mês.
Os nomes dos países não foram revelados. Segundo a embaixada brasileira em Cuba, os negócios com o governo e empresas brasileiras correm sem maiores turbulências, inclusive a linha de crédito de US$ 150 milhões para a compra de alimentos recentemente ampliada -há atrasos de alguns dias, considerados rotineiros.
O Brasil, que quer ser "o sócio número 1 de Cuba", nas palavras do chanceler Celso Amorim, é o número oito no ranking mundial de intercâmbio comercial com a ilha, mas o número dois só na América Latina. Foram US$ 412 milhões negociados bilateralmente em 2007, muito atrás dos mais de US$ 2,6 bilhões da Venezuela.

Parceiros
Se Caracas salva Cuba e vários países do Caribe do colapso pela alta do petróleo vendendo combustível a prazos e taxas mais camaradas, a inflação dos alimentos é um tema diário da imprensa oficial. A ilha importa 84% dos itens da cesta básica, pesadamente subsidiada.
Segundo o vice-presidente Carlos Lage, que comanda a economia e faz a vezes de premiê, a ilha gastará pelo menos US$ 1 bilhão a mais importando comida neste ano. Mesmo a conta do petróleo deu um salto de 32%, segundo ele. A balança comercial teve déficit de US$ 6,3 bilhões no ano passado.
A comunista Cuba, sob embargo econômico dos EUA, não tem acesso a organismos multilaterais de crédito e não há notícia de que tenha recorrido ao venezuelano Hugo Chávez por socorro. Seu segundo maior parceiro, a China, é conhecida por não facilitar condições de crédito para a ilha.
Sua dívida externa total é de US$ 37 bilhões, segundo o economista Carmelo Mesa-Lago. E a ilha tem buscado renegociar parte dela nos últimos anos -outra parte, com a antiga União Soviética, não é reconhecida pelo governo.


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