São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Em 2001, Brasil quis importar em sigilo remédio contra antraz

DE BRASÍLIA

Depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, a Embaixada do Brasil em Washington tentou levar sigilosamente para os EUA uma carga de 10 mil comprimidos de antibiótico destinado ao combate da bactéria causadora do antraz, que matou cinco pessoas entre outubro e dezembro daquele ano nos EUA.
O corpo diplomático do Brasil nos EUA queria evitar pânico na comunidade brasileira.
No final de outubro, o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, agradeceu ao Itamaraty o envio do medicamento, a ser usado, se necessário, pelos funcionários da missão diplomática ou a integrantes da comunidade brasileira, em caso de ataque terrorista.
O embaixador propôs enviar o medicamento como "mala diplomática" no Escalão Avançado que iria preparar uma visita do presidente Fernando Henrique Cardoso aos EUA.
O cônsul-geral do Brasil em Nova York (EUA), Flavio Perri, ficou incomodado ao saber que a Presidência da República estava prestes a embarcar o medicamento; ele disse ter dúvidas sobre a utilidade da medida.
Em telegrama, disse ao Itamaraty que, caso a carga fosse mesmo enviada, "talvez não devesse ser de conhecimento generalizado" por causa do "grau de inquietude que causaria na opinião pública brasileira".
Em outras mensagens, Perri ponderou que o sistema de saúde norte-americano seria capaz de dar assistência aos brasileiros em caso de contaminação e informou que havia restrições de entrada de medicamentos nos EUA.
Dez anos depois, em entrevista à Folha, o embaixador aposentado explicou que tinha receio de que a medida atendesse apenas o corpo diplomático ou um pequeno grupo de brasileiros.
"Embora muitos, os comprimidos não eram suficientes [para atender a toda a comunidade brasileira]", diz, afirmando que o Itamaraty acatou o parecer dele e não mandou o remédio.
Telegramas de Perri narram outras providências que o Brasil tomou no período de incertezas e temores que marcou os meses após o ataque terrorista, como a compra de detector de metais e o acionamento da polícia técnica norte-americana com suas roupas "siderais" para averiguar o que se imaginava ser uma brincadeira de mau gosto.
Alguém espalhou um pó branco, provavelmente de uma lâmpada estourada, em cima da mesa de um funcionário do consulado. (FO E RV)


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