São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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AMÉRICA LATINA

Em crime sem precedentes no país, estudante de 15 anos pega a arma do pai e abre fogo em colégio público

Adolescente mata 3 em escola argentina

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Um adolescente de 15 anos atirou ontem contra seus companheiros de classe matando três e ferindo outros cinco na Argentina. Os assassinatos ocorreram na escola pública Ilhas Malvinas, em Carmen de Patagones, cidade a 957 km da capital, Buenos Aires.
O crime, sem precedentes na Argentina, ocorreu em um momento de intensa discussão no país sobre o aumento da violência e em que o Congresso debate a redução da imputabilidade penal para 14 anos. O presidente Néstor Kirchner decretou luto oficial de dois dias.
O adolescente R.S.J. usou uma pistola calibre 9 milímetros, para abrir fogo contra os companheiros dentro da sala de aula às 7h30, logo após a cerimônia de hasteamento da bandeira, que havia ocorrido no pátio da escola.
Todos os alunos já estavam sentados em suas cadeiras quando R.S.J. entrou por último, sacou a arma e começou a disparar contra as paredes. Os alunos começaram a gritar e a se esconder debaixo das carteiras, segundo testemunhas. Foi quando R.S.J. dirigiu os disparos contra os alunos indiscriminadamente.
Sandra Nuñes, Evangelina Miranda e Federico Ponce, todos de 15 anos, morreram na hora, e outros cinco adolescentes estão internados em estado grave nas unidades de terapia intensiva do Hospital de Carmen de Patagones e de Videma, cidade próxima, com ferimentos no tórax e no abdômen. Um deles, que levou dois tiros nos pulmões, respirava com ajuda de aparelhos.

Arma falha
Depois do tumulto e da correria que os disparos provocaram na sala de aula, R.S.J. saiu pelo corredor e continuou atirando. A tragédia da escola Ilhas Malvinas poderia ter sido pior se a arma não tivesse falhado. Além da pistola carregada com 13 balas, R.S.J. possuía mais dois cartuchos com capacidade para nove balas cada um. Depois de descarregar a arma, R.S.J. chegou a recarregá-la, mas, ao colocar o segundo cartucho, a pistola travou. Ele também portava uma faca.
Nesse momento, outro aluno, cuja identidade não foi divulgada, desarmou o agressor. A arma usada para efetuar os disparos pertence a um policial naval do município, de 44 anos, pai do estudante agressor. De acordo com a polícia, o menino pegou a arma sem autorização do pai.
Até a tarde de ontem, o estudante estava sendo mantido na delegacia de Carmen de Patagones, mas deveria ser encaminhado ao Juizado de Menores central, que fica no município de Bahia Blanca, na Província de Buenos Aires.
De acordo com a prefeitura de Carmen de Patagones, Ilhas Malvinas é uma escola freqüentada por 400 alunos de classe média baixa. A escola, localizada no centro da cidade, é conhecida como uma das mais tradicionais.
A polícia chegou ao local minutos depois e deteve R.S.J. no pátio, quando ele tentava escapar. Segundo o chefe de polícia do município, Daniel Fernandes, o estudante não resistiu à prisão. "Ele parecia estar em estado de choque. Não disse uma palavra."
De acordo o canal de televisão TN, desde 1996 houve 37 casos registrados no mundo de massacres com armas de fogo executados por jovens em escolas, que resultaram em 96 mortes. Das 37 tragédias, 28 aconteceram nos EUA.
O mais famosos foi o massacre da escola Columbine, em Littleton (Colorado), em 1999, quando dois estudantes mataram 13 alunos, feriram centenas e se suicidaram. A tragédia inspirou "Tiros em Columbine", com o qual o diretor Michel Moore ganhou o Oscar de melhor documentário em 2003, e o filme "Elefante", de Gus Van Sant, Palma de Ouro em Cannes no ano passado.
Na Argentina, os casos de agressões de alunos contra companheiros ou professores, principalmente em escolas públicas das periferias das grandes cidades, têm aumentado. Na segunda-feira, uma menina de nove anos feriu com uma faca um garoto de oito anos em uma escola no bairro de Palermo, em Buenos Aires.
Em junho, uma menina de 12 anos foi internada em La Plata depois de ter sido surrada por suas colegas e em novembro do ano passado, um menino de 17 anos foi internado depois de ter recebido uma punhalada de um companheiro de classe em Córdoba.


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