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ANÁLISE REINO UNIDO
Trabalhista adota ambiguidade na estreia
Líder Ed Miliband faz acenos a bandeiras da esquerda, mas alerta os sindicatos contra greves irresponsáveis
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ed Miliband foi ontem ambíguo em seu primeiro discurso como líder da oposição
trabalhista do Reino Unido.
Deu piscadelas para a esquerda, como a proteção do
salário mínimo (R$ 19/hora)
ou a defesa dos imigrantes.
Mas, ao mesmo tempo,
tranquilizou dirigentes e filiados, durante a convenção
de Manchester, que julgam
anacrônico e politicamente
suicida o abandono de uma
linha mais ao centro, seguida
por Harold Wilson, duas vezes primeiro-ministro nos
anos 60 e 70, e pelos governos de Tony Blair e Gordon
Brown (1997-2010).
Foi assim que alertou os
sindicatos contra "greves irresponsáveis" em resposta
ao corte nos gastos públicos
para conter a crise fiscal.
Advertência bem recebida
pelos jornais conservadores
"Times" e "Daily Telegraph".
A BBC destacou que Miliband disse empunhar a bandeira do otimismo.
A verdade é que Miliband é
um espécime atraente aos
olhos dos socialistas europeus, interessados na renovação da imagem dessa corrente política que, de tanto
usar fermentos ortodoxos para administrar crises econômicas, acabou por mimetizar
seus adversários conservadores ou liberais.
No Reino Unido, a ideia de
renovação é meio confusa.
Os trabalhistas suprimiram
de seus estatutos há quase 30
anos a menção ao socialismo. O "Novo Trabalhismo"
de Blair é hoje confundido,
externamente, com o alinhamento aos EUA na invasão
do Iraque. "Um imenso erro", disse Miliband.
Mas inexistem na cartilha
as nacionalizações maciças
-siderurgia, eletricidade, telecomunicações ou transportes- adotadas no pós-Guerra
por Clement Attlee (1945-1951). E desmontadas, a partir de 1979, pela conservadora Margaret Thatcher.
Miliband disse em agosto
que, entre os quase 5 milhões
de eleitores que seu partido
perdeu, 5 a cada 6 pertenciam aos segmentos mais pobres. São os que se sentem
protegidos pelos sindicatos.
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