São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2011

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Europa eleva punição a países endividados

Parlamento do bloco aprovou ontem aplicação de multa de 0,2% do PIB para quem descumprir limite do deficit

Nova legislação valerá a partir de janeiro de 2012, a menos que uma maioria entre 27 países se negue a ratificá-la

Petros Giannakouris/Associated Press
Em Atenas, manifestantes põem fogo em avisos de cobrança de impostos, em protesto contramedidas de austeridade impostas pelo governo grego

CAROLINA VILA-NOVA
EM BERLIM

Após um ano de debates, o Parlamento Europeu aprovou ontem um conjunto de medidas com a meta de desestimular o endividamento excessivo de países da zona do euro, além de aumentar a coordenação econômica entre eles.
A peça central do pacote de seis medidas é a aplicação mais rápida de sanções contra países que violem as regras do bloco, que preveem um deficit orçamentário de não mais que 3% do PIB e um endividamento de no máximo 60% do PIB.
Os violadores terão de fazer um depósito equivalente a 0,2% de seu PIB em uma conta bancária que não acumule juros. Caso o país persista na violação, esse valor se transforma automaticamente em multa paga.
As sanções entram em vigor uma vez recomendadas pela Comissão Europeia, a menos que uma maioria dos países-membros decida derrubá-las. Esse foi um dos pontos que barrava um acordo.
A França pressionava para que governos nacionais mantivessem a prerrogativa de bloquear as penalidades individualmente. Já a Alemanha defendia nos bastidores que casos de violação sistemática das regras pudessem ser punidas, em último caso, com a "expulsão" do bloco, o que terminou fora da legislação.
Outra novidade é que países com alto nível de endividamento, ainda que não superiores ao permitido pelo bloco, também estarão sujeitos a uma multa equivalente a 0,1% do PIB, caso reiteradamente falhem em adotar medidas para reduzi-lo a determinados patamares.
Essa medida tem capacidade de atingir particularmente a Itália, que deve cerca do dobro permitido. Além disso, foi criado um novo mecanismo de monitoramento dos Orçamentos nacionais, com um sistema de alerta para detectar e informar problemas iminentes, como as bolhas imobiliárias -base da crise na Irlanda.
A nova legislação será implementada escalonadamente a partir de janeiro de 2012. As metas são válidas para todos os 27 países do bloco; porém as penalidades serão aplicadas apenas entre os 17 membros da zona do euro.
Antes da votação, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, disse que a nova legislação "dará mecanismos de controle muito mais fortes".
Ele afirmou que agora será possível "discutir os planos orçamentários dos Estados-membros antes que decisões sejam tomadas em nível nacional".
A maior dúvida é se a legislação sobreviverá à pressão política. "No papel, as medidas parecem sólidas. Mas já vimos essa história. O Pacto de Crescimento e Estabilidade era para ser um forte mecanismo de proteção, mas foi 'assassinado' cerca de uma década atrás", disse à Folha Piotr Kaczynski, do Centro de Estudos de Política Europeia, em Bruxelas.
O pacto "morreu" quando Berlim e Paris extrapolaram os limites de deficit fixados e, para evitar sanções, usaram seu poder político para substituir o texto por outro mais diluído, em 2005.


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