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ORIENTE MÉDIO
Médicos afirmam que líder palestino está com anomalia sangüínea e que seu estado de saúde é grave, mas estável
Arafat aceita viajar a Paris para se tratar
DA REDAÇÃO
O presidente da Autoridade
Nacional Palestina (ANP), Iasser
Arafat, 75, concordou ontem em
ser levado para tratamento de
saúde em Paris. Com uma anomalia sangüínea, o líder palestino
corria o risco de morrer se permanecesse no seu QG (Muqata) em
Ramallah (Cisjordânia), onde está confinado por forças israelenses há dois anos e meio. Segundo
os seus médicos, o estado de saúde é grave, mas estável.
Um helicóptero o levaria na noite de ontem para Amã, capital da
Jordânia, onde embarcaria às
6h30 (1h30 no horário de Brasília)
em um avião enviado pelo governo francês especialmente para levá-lo para Paris.
O governo do premiê israelense,
Ariel Sharon, voltou atrás em decisão anterior e disse que Arafat
poderá retornar aos territórios
palestinos caso fique curado.
O líder palestino está doente há
alguns meses, mas o seu estado de
saúde se agravou nos últimos
dias. Anteontem, Arafat chegou a
vomitar durante jantar com o
premiê Ahmed Korei e com o antecessor no cargo Mahmoud Abbas (também conhecido como
Abu Mazen). Em seguida, desmaiou e ficou inconsciente por
pelo menos dez minutos.
Ao longo da noite de anteontem
e da madrugada de hoje, cresceu o
temor de que Arafat pudesse
morrer a qualquer momento.
Mas seus médicos disseram hoje
que, apesar de grave, o estado de
saúde do líder palestino é estável.
"Sua condição é boa, e sua moral está alta", disse o médico Ashraf Kurdi, que integra a equipe
que está tratando de Arafat.
O médico disse que "as células
sangüíneas que, normalmente,
deveriam destruir micróbios estão destruindo plaquetas sangüíneas. Essa desordem pode ter sido
causada por uma inflamação causada por um vírus, câncer ou sangue envenenado". Segundo ele,
testes mais específicos não podem
ser realizados no QG em Ramallah, sendo preciso removê-lo.
"Arafat tem de ser transferido para fazer novos exames e receber a
assistência necessária. Ele poderia
morrer se ficasse aqui".
A possibilidade de que o líder
palestino esteja com leucemia
também foi aventada. Até agora,
os sintomas apresentados por
Arafat são problemas estomacais,
vômitos e, segundo alguns relatos, desorientação e delírio. Ele
dorme a maior parte do tempo.
Ontem foi exibido um vídeo pela ANP no qual Arafat, vestindo
pijama e um gorro, aparece ao lado de autoridades palestinas. Sorridente, o líder palestino beija a
mão das pessoas ao redor. Sua
aparência é de abatimento.
A imprensa israelense especulou, ao longo da semana, que Arafat estivesse com câncer no estômago. Os médicos palestinos dizem ter feito uma endoscopia e
que ele não tem a doença.
Na viagem para Paris, Arafat deve ir acompanhado de 15 médicos, entre eles egípcios, tunisianos
e jordanianos, de sua mulher, Suha, e de sua filha, Zahwa, de nove
anos. Ele não vê as duas desde de
2001. Elas chegaram ontem a Ramallah vindas da capital francesa,
onde vivem. A viagem de Suha foi
um dos maiores sinais de que o
estado de Arafat é muito grave e
de que sua vida está em risco.
Israel já tem um plano de contingência para o dia da morte de
Arafat. Até mesmo o local do enterro do líder palestino foi definido -um subúrbio árabe de Jerusalém, sob controle palestino.
Permissão
A permissão para que Arafat
fosse viajar foi acertada em conversa entre Sharon e Korei na tarde de ontem. No dia anterior, Israel havia dito que permitiria a
saída de Arafat, mas não garantia
a sua volta.
A mudança de posição se deveu
ao temor de que, caso Arafat morra, Israel seja culpado por não ter
dado garantias de retorno ao líder
palestino.
Além disso, muitos palestinos
acusam os israelenses de serem os
responsáveis pelo estado de saúde
de Arafat por terem imposto o líder palestino a precárias condições na Muqata.
O diálogo entre Sharon e Korei
já dá indicações de que os israelenses poderiam concordar em
retomar as negociações de paz
com os palestinos caso Arafat
morresse ou fosse afastado do poder por incapacitação.
O chanceler israelense, Silvan
Shalom, afirmou que a morte de
Arafat pode reativar as negociações de paz entre israelenses e palestinos. Já Raanan Gissin, porta-voz de Sharon, disse que o estado
de saúde de Arafat "é assunto interno" dos palestinos.
Uma nova autoridade palestina
também tiraria de Sharon o seu
principal argumento para o plano
de retirada dos assentamentos da
faixa de Gaza. Segundo o premiê,
enquanto Arafat estiver no poder,
não haverá ninguém do outro lado para negociar.
O Hamas afirmou ontem, por
meio de porta-voz, que está orando pela recuperação de Arafat e
culpou Israel pela doença.
Com agências internacionais
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