São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Médicos afirmam que líder palestino está com anomalia sangüínea e que seu estado de saúde é grave, mas estável

Arafat aceita viajar a Paris para se tratar

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, 75, concordou ontem em ser levado para tratamento de saúde em Paris. Com uma anomalia sangüínea, o líder palestino corria o risco de morrer se permanecesse no seu QG (Muqata) em Ramallah (Cisjordânia), onde está confinado por forças israelenses há dois anos e meio. Segundo os seus médicos, o estado de saúde é grave, mas estável.
Um helicóptero o levaria na noite de ontem para Amã, capital da Jordânia, onde embarcaria às 6h30 (1h30 no horário de Brasília) em um avião enviado pelo governo francês especialmente para levá-lo para Paris.
O governo do premiê israelense, Ariel Sharon, voltou atrás em decisão anterior e disse que Arafat poderá retornar aos territórios palestinos caso fique curado.
O líder palestino está doente há alguns meses, mas o seu estado de saúde se agravou nos últimos dias. Anteontem, Arafat chegou a vomitar durante jantar com o premiê Ahmed Korei e com o antecessor no cargo Mahmoud Abbas (também conhecido como Abu Mazen). Em seguida, desmaiou e ficou inconsciente por pelo menos dez minutos.
Ao longo da noite de anteontem e da madrugada de hoje, cresceu o temor de que Arafat pudesse morrer a qualquer momento. Mas seus médicos disseram hoje que, apesar de grave, o estado de saúde do líder palestino é estável.
"Sua condição é boa, e sua moral está alta", disse o médico Ashraf Kurdi, que integra a equipe que está tratando de Arafat.
O médico disse que "as células sangüíneas que, normalmente, deveriam destruir micróbios estão destruindo plaquetas sangüíneas. Essa desordem pode ter sido causada por uma inflamação causada por um vírus, câncer ou sangue envenenado". Segundo ele, testes mais específicos não podem ser realizados no QG em Ramallah, sendo preciso removê-lo. "Arafat tem de ser transferido para fazer novos exames e receber a assistência necessária. Ele poderia morrer se ficasse aqui".
A possibilidade de que o líder palestino esteja com leucemia também foi aventada. Até agora, os sintomas apresentados por Arafat são problemas estomacais, vômitos e, segundo alguns relatos, desorientação e delírio. Ele dorme a maior parte do tempo.
Ontem foi exibido um vídeo pela ANP no qual Arafat, vestindo pijama e um gorro, aparece ao lado de autoridades palestinas. Sorridente, o líder palestino beija a mão das pessoas ao redor. Sua aparência é de abatimento.
A imprensa israelense especulou, ao longo da semana, que Arafat estivesse com câncer no estômago. Os médicos palestinos dizem ter feito uma endoscopia e que ele não tem a doença.
Na viagem para Paris, Arafat deve ir acompanhado de 15 médicos, entre eles egípcios, tunisianos e jordanianos, de sua mulher, Suha, e de sua filha, Zahwa, de nove anos. Ele não vê as duas desde de 2001. Elas chegaram ontem a Ramallah vindas da capital francesa, onde vivem. A viagem de Suha foi um dos maiores sinais de que o estado de Arafat é muito grave e de que sua vida está em risco.
Israel já tem um plano de contingência para o dia da morte de Arafat. Até mesmo o local do enterro do líder palestino foi definido -um subúrbio árabe de Jerusalém, sob controle palestino.

Permissão
A permissão para que Arafat fosse viajar foi acertada em conversa entre Sharon e Korei na tarde de ontem. No dia anterior, Israel havia dito que permitiria a saída de Arafat, mas não garantia a sua volta.
A mudança de posição se deveu ao temor de que, caso Arafat morra, Israel seja culpado por não ter dado garantias de retorno ao líder palestino.
Além disso, muitos palestinos acusam os israelenses de serem os responsáveis pelo estado de saúde de Arafat por terem imposto o líder palestino a precárias condições na Muqata.
O diálogo entre Sharon e Korei já dá indicações de que os israelenses poderiam concordar em retomar as negociações de paz com os palestinos caso Arafat morresse ou fosse afastado do poder por incapacitação.
O chanceler israelense, Silvan Shalom, afirmou que a morte de Arafat pode reativar as negociações de paz entre israelenses e palestinos. Já Raanan Gissin, porta-voz de Sharon, disse que o estado de saúde de Arafat "é assunto interno" dos palestinos.
Uma nova autoridade palestina também tiraria de Sharon o seu principal argumento para o plano de retirada dos assentamentos da faixa de Gaza. Segundo o premiê, enquanto Arafat estiver no poder, não haverá ninguém do outro lado para negociar.
O Hamas afirmou ontem, por meio de porta-voz, que está orando pela recuperação de Arafat e culpou Israel pela doença.


Com agências internacionais
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