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Multidão mostra força do casal Kirchner
Apoiadores tomam centro de Buenos Aires, caminham horas e enfrentam fila para se despedir de ex-presidente
Presidente Cristina Kirchner passa o dia ao lado do caixão fechado do marido; Maradona e líderes comparecem
JuanMabromata/France Presse
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Portão principal da Casa Rosada, sede do governo da Argentina, antes do início do velório do ex-presidente Néstor Kirchner, morto anteontem, vítima de duas paradas cardíacas
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
O ex-presidente argentino
Néstor Kirchner (2003-2007)
foi velado ontem por uma
multidão de militantes que
tomou o centro de Buenos Aires e transformou sua morte
em uma demonstração de
força da coalizão governista.
Kirchner morreu anteontem, aos 60 anos, vítima de
um duplo infarto enquanto
descansava na Província de
Santa Cruz, no extremo sul,
junto da mulher e atual presidente, Cristina Kirchner.
Ele foi velado na Casa Rosada, sede do Executivo, com
o caixão fechado e coberto
pela bandeira argentina.
Não foram divulgadas as
razões para a quebra de protocolo, que sugere o velório
de ex-presidentes com o caixão aberto, no Congresso.
A cerimônia terminaria na
manhã de hoje. O corpo será
trasladado para enterro em
Río Gallegos, onde está enterrado o pai e mora a mãe de
Kirchner.
Cristina esteve ao lado do
caixão a maior parte do dia,
com os filhos Máximo, 32, e
Florência, 19. De óculos escuros, a presidente chorou intensamente pela manhã e, à
tarde, expressava alguns sorrisos e retribuía acenos de
quem passava pelo salão.
Segundo o chanceler Héctor Timerman, a presidente
"está destruída com a perda,
mas continuará governando
pelo mesmo caminho".
A ausência mais notada foi
a do vice-presidente, Julio
Cobos, ex-aliado que abandonou o kirchnerismo e se
tornou símbolo da oposição.
Funcionários do governo
pediram a Cobos e ao ex-presidente Eduardo Duhalde
(2002-2003) que não fossem
ao velório para evitar constrangimentos.
Também estiveram na Casa Rosada os presidentes da
Bolívia, Chile, Equador, Uruguai, Colômbia, Paraguai e
Venezuela.
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva chegou a Buenos Aires pouco antes das
21h (22h em Brasília) e seguiu
para o velório, onde abraçou
e ofereceu suas condolências
à Cristina.
O ídolo do futebol argentino Diego Maradona e opositores políticos de Kirchner
também foram ao velório e
lamentaram publicamente a
morte do ex-presidente.
Para Maradona, Kirchner
era um "gladiador", que "tinha muito do [militante esquerdista argentino Ernesto]
Che Guevara".
TRÊS HORAS ANDANDO
A concentração de militantes e admiradores políticos de Kirchner na Praça de
Maio -em frente à sede do
Executivo- começou logo
após sua morte. Ontem a
multidão já ocupava uma
área de dez quadras.
As ruas de Buenos Aires
amanheceram tomadas por
cartazes que diziam "Néstor
para sempre" e "Força Cristina" sobre uma foto do casal
presidencial abraçado.
A Casa Rosada ficou quase
encoberta pelas faixas e
mensagens penduradas nas
grades que circundam a sede
do Executivo. O metrô funcionou gratuitamente.
A população pôde se despedir de Kirchner passando
ao lado do caixão depois de
enfrentar uma fila que, na
tarde de ontem, se estendia
por 13 quadras.
Quando chegavam perto
do caixão, muitos aplaudiam
e gritavam palavras de força
para a presidente.
Norma Mendez, 39, caminhou por três horas desde
Avellaneda, na região metropolitana da capital, até a praça. Teve de esperar sete horas
para deixar flores e uma bandeira ao lado do caixão.
Pia Paz, 49, veio de ônibus
desde a Província de Santiago del Estero, a mais de 1.000
km. "Nunca o povo pobre teve tanto como agora e não
queremos retrocesso", disse.
Último da fila por volta das
15h, o advogado Claudio
Frai, 45, não tinha ideia de
quanto tempo levaria para
entrar na Casa Rosada.
"Para a minha geração,
não há uma referência maior
que Kirchner. Ele transformou a economia e a sociedade desse país. Não saio daqui
até me despedir."
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