São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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Multidão mostra força do casal Kirchner

Apoiadores tomam centro de Buenos Aires, caminham horas e enfrentam fila para se despedir de ex-presidente

Presidente Cristina Kirchner passa o dia ao lado do caixão fechado do marido; Maradona e líderes comparecem

JuanMabromata/France Presse
Portão principal da Casa Rosada, sede do governo da Argentina, antes do início do velório do ex-presidente Néstor Kirchner, morto anteontem, vítima de duas paradas cardíacas

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

O ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007) foi velado ontem por uma multidão de militantes que tomou o centro de Buenos Aires e transformou sua morte em uma demonstração de força da coalizão governista.
Kirchner morreu anteontem, aos 60 anos, vítima de um duplo infarto enquanto descansava na Província de Santa Cruz, no extremo sul, junto da mulher e atual presidente, Cristina Kirchner.
Ele foi velado na Casa Rosada, sede do Executivo, com o caixão fechado e coberto pela bandeira argentina.
Não foram divulgadas as razões para a quebra de protocolo, que sugere o velório de ex-presidentes com o caixão aberto, no Congresso.
A cerimônia terminaria na manhã de hoje. O corpo será trasladado para enterro em Río Gallegos, onde está enterrado o pai e mora a mãe de Kirchner.
Cristina esteve ao lado do caixão a maior parte do dia, com os filhos Máximo, 32, e Florência, 19. De óculos escuros, a presidente chorou intensamente pela manhã e, à tarde, expressava alguns sorrisos e retribuía acenos de quem passava pelo salão.
Segundo o chanceler Héctor Timerman, a presidente "está destruída com a perda, mas continuará governando pelo mesmo caminho".
A ausência mais notada foi a do vice-presidente, Julio Cobos, ex-aliado que abandonou o kirchnerismo e se tornou símbolo da oposição.
Funcionários do governo pediram a Cobos e ao ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) que não fossem ao velório para evitar constrangimentos.
Também estiveram na Casa Rosada os presidentes da Bolívia, Chile, Equador, Uruguai, Colômbia, Paraguai e Venezuela.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Buenos Aires pouco antes das 21h (22h em Brasília) e seguiu para o velório, onde abraçou e ofereceu suas condolências à Cristina.
O ídolo do futebol argentino Diego Maradona e opositores políticos de Kirchner também foram ao velório e lamentaram publicamente a morte do ex-presidente.
Para Maradona, Kirchner era um "gladiador", que "tinha muito do [militante esquerdista argentino Ernesto] Che Guevara".

TRÊS HORAS ANDANDO
A concentração de militantes e admiradores políticos de Kirchner na Praça de Maio -em frente à sede do Executivo- começou logo após sua morte. Ontem a multidão já ocupava uma área de dez quadras.
As ruas de Buenos Aires amanheceram tomadas por cartazes que diziam "Néstor para sempre" e "Força Cristina" sobre uma foto do casal presidencial abraçado.
A Casa Rosada ficou quase encoberta pelas faixas e mensagens penduradas nas grades que circundam a sede do Executivo. O metrô funcionou gratuitamente.
A população pôde se despedir de Kirchner passando ao lado do caixão depois de enfrentar uma fila que, na tarde de ontem, se estendia por 13 quadras.
Quando chegavam perto do caixão, muitos aplaudiam e gritavam palavras de força para a presidente.
Norma Mendez, 39, caminhou por três horas desde Avellaneda, na região metropolitana da capital, até a praça. Teve de esperar sete horas para deixar flores e uma bandeira ao lado do caixão.
Pia Paz, 49, veio de ônibus desde a Província de Santiago del Estero, a mais de 1.000 km. "Nunca o povo pobre teve tanto como agora e não queremos retrocesso", disse.
Último da fila por volta das 15h, o advogado Claudio Frai, 45, não tinha ideia de quanto tempo levaria para entrar na Casa Rosada.
"Para a minha geração, não há uma referência maior que Kirchner. Ele transformou a economia e a sociedade desse país. Não saio daqui até me despedir."


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