São Paulo, sábado, 29 de novembro de 1997.




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Há meio século a ONU aprovava a criação do Estado de Israel
Partilha da Palestina completa 50 anos sem mapa definitivo

SÉRGIO MALBERGIER
da Redação

Israel e ONU são um caso típico de depressão pós-parto. O Estado judeu teve um nascimento trau mático no ventre da organização, a Assembléia Geral, há 50 anos.
Um brasileiro, Osvaldo Aranha, que presidiu a sessão, pode ser considerado o parteiro.
Aranha, depois descobriu-se, era um dos centros anti-semitas do governo Vargas. Já a ONU, nesses 50 anos, teve como principal alvo de moções de censura o seu filho recém-nascido, Israel.
A ONU criou, na mesma data da aprovação da partilha, o Dia Inter nacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Israel, até hoje, é o único país a não fazer parte de nenhum de seus grupos geopolíticos regio nais, por ser boicotado pelos vizi nhos árabes.
Sem fazer parte dos grupos, Is rael fica impedido de ser eleito ou eleger membros para os organis mos da ONU, como o Conselho de Segurança.

Colônia britânica
A primeira grande conquista ju daica na batalha pela Palestina foi a Declaração Balfour (do chanceler britânico Arthur James Balfour), de 1919.
Ela reconheceu o direito dos ju deus de retornarem à Palestina, "ficando claro que não se fará na da que possa prejudicar as comu nidades não-judaicas".
A declaração deu grande impul so à imigração judaica. De 1918 a 1939, o número de judeus na Pales tina passou de 55 mil para 450 mil.
O crescimento da comunidade judaica despertou o nacionalismo árabe-palestino. Nas décadas de 20 e 30, os árabes se rebelaram.
Ao final da Segunda Guerra (1939-45), os judeus da Palestina estavam bem organizados, sob a li derança da Agência Judaica, mas as lideranças árabes discordavam entre si.
O presidente dos EUA, Harry Truman, se declarou favorável à causa sionista. Grupos terroristas judeus começaram uma campa nha contra alvos britânicos. Em 1946, explodiram a sede da admi nistração britânica em Jerusalém.
Em 2 de abril de 1947, sob pres são dos EUA e obrigado a manter um custoso aparato militar na re gião, o Reino Unido pediu que as Nações Unidas discutissem a ques tão da Palestina.
Delegados da ONU enviados à região recomendaram o fim do mandato britânico e a criação de dois Estados. Segundo números dos mandatários britânicos, a po pulação da Palestina em 1947 era de 1,2 milhão de árabes, 650 mil ju deus e 150 mil "outros".
A partilha da Palestina britânica, pela resolução 181 da Assembléia Geral -aprovada por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções-, deu aos judeus mais de 50% do ter ritório disputado, incluindo quase todo o litoral, e colocou árabes e israelenses em lados opostos, de uma maneira quase irreconciliá vel.
Desde então, foram cinco gran des guerras (1948, 56, 67, 73 e 82), dezenas de incidentes graves e cen tenas de escaramuças.
A antiga Palestina parece peque na para acomodar israelenses e pa lestinos. Há milhões de refugiados palestinos espalhados pelo mun do, muitos sonhando em voltar para as suas casas -hoje no cora ção de cidades israelenses. Como os judeus durante séculos sonha ram em voltar.
O território equivale à área do Estado de Sergipe. O mapa da re gião está em constante ebulição. Planos para redesenhá-lo surgem quase toda semana. Depois de 50 anos, a partilha definitiva da Pales tina parece ainda distante.



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