|
Próximo Texto | Índice
IMPASSE NO IMPÉRIO
Democrata volta à TV, propõe que todos os votos da Flórida sejam recontados até o dia 6 e diz não ligar para pesquisas
Gore pede recontagem em uma semana
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O candidato democrata à Presidência dos EUA, Al Gore, disse
ontem que propôs à Justiça da
Flórida uma recontagem total dos
votos da Flórida, no prazo de uma
semana, a contar de hoje.
"Deixem-me repetir o essencial
de nossa proposta: sete dias, a
partir de amanhã (hoje), para realizar uma contagem completa e
exata de todos os votos", disse o
vice-presidente.
Em seu segundo pronunciamento em dois dias, Gore reiterou
que "todos os votos devem ser levados em conta", o que já se tornou o slogan democrata na batalha legal para saber quem será o
sucessor de Bill Clinton.
Ao ir novamente à TV, Gore
tentou convencer uma opinião
pública cada vez mais impaciente
com sua insistência em brigar pela vitória nas eleições realizadas
em 7 de novembro.
Segundo Gore, recontar manualmente todos os votos na Flórida "é necessário para que não
existam dúvidas sobre a legitimidade de quem ganhou as eleições." Ele mesmo emendou que
os republicanos já haviam recusado sua proposta.
Anteontem, Gore disse que concluir as eleições sem recontar os
votos duvidosos traria grande risco ao novo presidente, já que "algum professor, usando lei que garante livre acesso à informação,
poderia descobrir, três ou quatro
meses depois da posse, que o resultado real não foi o oficial".
Com a disputa pós-eleitoral entrando em sua quarta semana, os
advogados de Gore pediram à
Justiça da Flórida ontem que ordene uma retomada imediata da
contagem manual de votos nos
condados de Miami-Dade e Palm
Beach e que as ações sobre a eleição sejam julgadas com urgência.
Gore disse ontem que não se
importa com as pesquisas de opinião indicando que cerca de 60%
dos norte-americanos querem
que ele desista e reconheça a vitória de seu adversário republicano,
George W. Bush, declarado, no
último domingo, o vencedor oficial das eleições na Flórida com
uma vantagem de 537 votos num
universo de quase 6 milhões.
"Já dizia antes das eleições que
as pesquisas não importam. Contrariamente ao que elas diziam,
ganhamos no voto popular no
país por uma diferença de 300 mil
votos. Agora, novamente, pesquisas não importam. É uma questão
legal", disse ele em Washington.
O resultado na Flórida definirá
o próximo presidente dos EUA.
Os dois candidatos precisam dos
25 delegados do Estado para atingir a maioria de 270 necessária para vencer no Colégio Eleitoral. Se
a vitória de Bush no Estado for
mantida pela Justiça, o republicano teria 271 votos. Gore teria 267.
A decisão do democrata de falar
à nação pelo segundo dia seguido
foi vista por analistas como um
sintoma de nervosismo do candidato, que estaria vendo suas chances reduzidas a cada dia.
Gore moveu na segunda-feira
uma ação numa corte na Flórida
para contestar o resultado das
eleições no Estado sob o argumento de que mais milhares de
cédulas nunca foram contadas
porque as máquinas de apuração
não teriam sido capazes de identificar a intenção do eleitor.
Gore pede ainda que sejam
computados, no resultado oficial
da Flórida, os votos recontados
manualmente nos condados de
Palm Beach e Miami-Dade, desprezados pela secretária de Estado da Flórida, a republicana Katherine Harris. O candidato também contesta a decisão do condado de Nassau de desprezar uma
segunda contagem mecânica, o
que lhe tirou 52 votos.
Mas o espaço de manobra de
Gore diminui a cada dia. Seu problema é que ninguém acredita ser
possível que todos os pedidos de
Gore sejam debatidos, aprovados
e executados até o dia 12 de dezembro, prazo que a Flórida tem
para indicar seus 25 delegados ao
Colégio Eleitoral, que escolherá o
presidente no dia 18. O eleito toma posse em 20 de janeiro.
Além dos candidatos democrata e republicano, a ação movida
por Gore tem outras seis partes
envolvidas (incluindo o governo
da Flórida, os condados e eleitores), peritos e testemunhas.
O juiz, ligado a republicanos,
aceitou incluir no processo como
partes interessadas grupos de
eleitores que, segundo os democratas, tornarão o processo ainda
mais demorado.
Para complicar, o Legislativo
(de maioria republicana) e o governador da Flórida, Jeb Bush (irmão do candidato republicano),
estudam aprovar lei decretando a
vitória de Bush. Isso causaria novo impasse, com o Estado enviando dois grupos de delegados ao
Colégio Eleitoral. Um saído de
ação legal vitoriosa de Gore e outro apontado pelo governo e pelo
Legislativo da Flórida. Caberia então ao Congresso, muito dividido,
decidir quais delegados aceitar.
O caso também pode passar à
esfera federal. A Suprema Corte
dos EUA ouve argumentos dos
dois lados na sexta para decidir se
aceita julgar ação republicana
contra a recontagem manual.
Apesar de ter se declarado eleito
no domingo, Bush ainda não nomeou seu gabinete, apenas o chefe de Gabinete. E anunciou ontem
que está aumentando a sua equipe de advogados.
Próximo Texto: "Post" critica Gore, e o "Times" apóia Índice
|