São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 2002

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País é aliado dos EUA e de Israel

JEAN-PHILIPPE RÉMI
DO "LE MONDE", EM NAIRÓBI

Se a intenção era encontrar um alvo simbólico para um atentado, o Quênia deve ter sido uma das primeiras opções. Aliado tradicional dos EUA na África oriental desde a Guerra Fria, o país já tinha sido atingido, em 1998, por um atentado a bomba contra a Embaixada dos EUA em Nairóbi.
Após o ataque, um escritório permanente de investigadores americanos foi instalado na capital queniana, encarregado justamente de prevenir novos ataques.
Desta vez, os alvos não são americanos, mas israelenses. Mais uma vez, a intenção é claramente desferir um golpe simbólico. Os passageiros do vôo fretado e os turistas de férias no Hotel Paradise foram alvejados primeiramente como turistas -o turismo é a terceira mais importante atividade econômica do país. Mas eles foram alvejados também porque quase todos eram israelenses -o Quênia mantém relações excelentes com Israel.
Os mísseis erraram seu alvo, mas deixaram claro que o Quênia é vulnerável. O ataque constitui uma humilhação para a coalizão chefiada pelos EUA, que fez do Quênia uma plataforma regional.
Além de seus vínculos estreitos com EUA e Israel, o país tem a vantagem de dispor de aeroportos civis internacionais, bases aéreas e um porto de águas profundas, Mombaça, já utilizado pelos navios de guerra americanos durante a Guerra do Golfo.
Mombaça fica perto da Somália, não muito longe de uma região sem controle onde, segundo especialistas, a bomba usada no atentado de 1998 teria sido montada. Essa região é um dos redutos do grupo somali Al Itihad Al Islami, suspeito de elo com a Al Qaeda.
A hipótese de que os militantes da organização islâmica possam, desde o 11 de setembro, continuar a manter campos de treinamento que poderiam servir de base para o reagrupamento dos membros da Al Qaeda que fugiram do Afeganistão levou os EUA a criar um plano de intervenção na Somália, que acabou sendo abandonado por falta de evidências precisas. Em todo caso, a costa do Quênia é uma área onde a religião muçulmana é majoritária, apesar de o país ser mais cristão do que islâmico. Essa região é vista por especialistas como território favorável para o desenvolvimento de redes terroristas "adormecidas".


Tradução de Clara Allain


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