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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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REINO UNIDO

Triunfo de protestantes e católicos de linha dura em disputa legislativa cria "cenário de pesadelo" e ameaça acordo de 98

Radicais vencem eleição na Irlanda do Norte

Darren Staples/Reuters
Gerry Adams, líder do Sinn Fein, espera resultados da eleição


ALEX RICHARDSON
DA REUTERS, EM BELFAST

Setores da linha dura protestante que se opõem ao acordo da Sexta-Feira Santa -assinado em 1998, que buscava pôr fim a três décadas de violência política e sectária que deixou mais de 3.600 mortos na Irlanda do Norte- venceram as eleições legislativas de quarta-feira, segundo projeções. Concretizou-se aquilo que autoridades britânicas chamavam, reservadamente, de "cenário de pesadelo".
Nesse quadro, o Partido Democrático Unionista, do pregador radical Ian Paisley, emerge como o maior grupo na Assembléia de 108 cadeiras. Entre o eleitorado católico, o Sinn Fein, aliado político do grupo terrorista IRA (Exército Republicano Irlandês), deixou para trás o partido moderado Social Democrata e Trabalhista, completando a polarização radical da paisagem política na Província sob governo britânico.
Londres e Dublin vinham torcendo por um bom resultado dos setores moderados, algo que pudesse conferir novo ímpeto às conversações sobre a retomada da Assembléia, suspensa desde outubro de 2002, quando alegações de espionagem do IRA derrubaram a frágil coalizão que dividia o poder com Londres.
Em lugar disso, os setores radicais do unionismo protestante, que querem preservar a união política da Irlanda do Norte com o Reino Unido, e do nacionalismo católico, que busca a reunificação da Irlanda do Norte com a Irlanda, estão ganhando força.
Ian Paisley se nega a trabalhar com o Sinn Fein, que descreve como sendo formado por terroristas, e quer renegociar o acordo de 1998 que, em sua visão, fez concessões demais aos católicos. "Precisamos voltar à mesa de redação. O acordo está defunto há muito tempo." Gerry Adams, líder do Sinn Fein, reagiu: ""Não sei de nada na filosofia cristã que não diga respeito ao diálogo e a tratar com pecadores. Como pecador, eu me ofereço para ser convertido por Paisley à sua visão do futuro".
O resultado foi uma derrota para o ex-premiê norte-irlandês David Trimble, líder do moderado Partido Unionista do Ulster e ganhador do Nobel da Paz por sua atuação na negociação de 1998.
Enquanto o premiê britânico, Tony Blair, e seu colega irlandês, Bertie Ahern, digeriam os resultados numa reunião, o governo Bush expressou preocupação. "É claro que todo mundo está preocupado", disse Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional da Casa Branca. "Acredito que, depois de ter sentido um pouco do gosto da paz, a população da Irlanda do Norte deseja a paz desesperadamente."
Até o fechamento desta edição, o Partido Democrático Unionista tinha obtido 28 cadeiras, o Partido Unionista do Ulster, 25, o Sinn Fein, 24, e o Partido Social Democrata e Trabalhista, 18. Analistas previam que o Partido Democrático Unionista terminaria com 29 ou 30 cadeiras, e o Unionista do Ulster, com 27 ou 28.

Tradução de Clara Allain


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