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Assombrada pela confusão de 2000, Flórida teme voto eletrônico
Em Palm Beach, celebrizado na primeira eleição de Bush, há receio da imprensa
DO ENVIADO A WEST PALM BEACH
Um clima de desconfiança
pairou ontem sobre o Condado
de Palm Beach, reduto de milionários aposentados dos EUA
famoso pela confusão das eleições presidenciais de 2000. Naquele ano, a disposição dos nomes dos candidatos nas cédulas
confundiu eleitores que queriam votar no democrata Al Gore, o que ajudou na vitória do
republicano George W. Bush.
A votação atualmente é feita
em urnas eletrônicas, o que
tem motivado receios de fraude. "Minha preferência seria
por escrever meu voto. Não
confio na máquina. Tenho o
sentimento de que alguém pode apertar um botão e mudar
meu voto", diz o holandês Herman Hopian, 75, radicado nos
EUA há quatro décadas.
Como Hopian, grande parte
dos eleitores locais disseram à
Folha que temem que seus votos sejam alterados em favor de
outro candidato e também que
o sistema seja menos eficiente
que o de papel.
As desconfianças ganharam
corpo ao longo do dia, com os
relatos de problemas em urnas
de cidades do Condado. Em um
distrito de Kings Point, o mesário desligou acidentalmente
uma das máquinas, o que paralisou a votação em toda a sala ao
longo do dia, enquanto técnicos
tentavam resolver o problema.
A urna eletrônica da Flórida
é mais complicada que a brasileira. Aqui, o eleitor, após apresentar documento com foto ao
fiscal, recebe um cartucho (semelhante a um de videogame),
que deve ser encaixado para
ativar o equipamento. Vota-se
tocando a tela, pelo nome (e
não pela foto) do candidato.
Dono de um escritório de design, Phil Polete, 52, não gostou
da novidade. "Fico pensando
que deve ser fácil alguém mudar meu voto. Eu vim votar na
esperança de que isso não vai
acontecer, mas, você sabe, aqui
as coisas são complicadas", diz
Polete, evocando a confusão de
2000, quando falhas nas cédulas -que eram perfuradas para
assinalar o candidato escolhido- fizeram com que muitos
votos fossem anulados.
A memória de 2000 alimentou também uma desconfiança
da imprensa. Jornalistas só podem entrevistar eleitores atrás
de uma faixa azul a cerca de 20
metros da seção eleitoral.
O cuidado contrasta com o
resto do país: em Iowa, jornalistas podiam entrar nas prévias sem credencial. Na Flórida, o silêncio é regra. No clube
Westgate Park Recreation,
uma mesária foi repreendida
pela supervisora por falar com
a Folha. "Você não entendeu?
Não é para falar com a imprensa. Mesmo do Brasil", disse,
chamando um segurança.
(D.B.)
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