São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 1999

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KOSOVO
Sob ameaça militar dos EUA, Belgrado aceita negociar, mas não suspende repressão a separatistas; mais 24 são mortos
Potências dão ultimato à Iugoslávia

Associated Press
Um monitor da OSCE verifica o corpo de uma das 24 vítimas do ataque de ontem em Rogovo (Kosovo)


das agências internacionais

Ao menos 24 pessoas morreram ontem em Kosovo, Província da Iugoslávia abalada por um conflito separatista. Este novo episódio de violência ocorreu no dia em que as principais potências mundiais lançaram um ultimato pelo fim dos combates na região, sob ameaça de ataque militar feita pelos EUA.
Segundo fontes iugoslavas, forças de segurança do país mataram 23 rebeldes na cidade de Rogovo (sudoeste de Kosovo). O ataque teria sido represália à morte ontem de um policial iugoslavo.
Kosovo, que tem 90% da população de origem albanesa, tenta se separar da Iugoslávia, cuja população é majoritariamente sérvia.
A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que mantém equipes de monitoramento na região, identificou 23 vítimas de origem albanesa.
Há duas semanas, 45 habitantes de Kosovo já haviam sido mortos em outro cidade, Racak. À época, o governo iugoslavo, chefiado pelo presidente Slobodan Milosevic, foi acusado de promover um massacre de civis. Belgrado afirmou que os mortos eram separatistas da guerrilha Exército de Libertação de Kosovo (ELK).
As potências ocidentais exigem o fim dos conflitos e ameaçam atacar a região caso eles continuem.
Ontem, o Grupo de Contato, que monitora a Província e é composto por seis potências mundiais (EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Itália -todos da Otan- e Rússia), marcou para o dia 6, na França, o início de negociações de paz entre o governo iugoslavo e os separatistas. Um acordo deve ser obtido em três semanas.
Segundo comunicado divulgado ontem, as negociações devem garantir "uma substancial autonomia" -mas não independência- para a Província de Kosovo.
O grupo exige também que Belgrado suspenda as agressões aos separatistas. O comunicado, porém, não fez referência explícita ao uso da força.
A Rússia, com laços étnicos e culturais com os sérvios -os dois povos são eslavos e cristãos ortodoxas-, se opõe a uma ação militar.
Diversos líderes mundiais, porém, deram indícios de que as negociações convocadas ontem são a última chance de evitar um ataque, que seria conduzido pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental liderado pelos EUA).
O presidente norte-americano, Bill Clinton, disse que a Otan está "pronta para apoiar a estratégia com a ameaça da força".
Vuk Draskovic, vice-primeiro-ministro iugoslavo, disse que Belgrado está preparada para as negociações de paz.
O governo de Milosevic, porém, afirmou que não pode suspender as ações contra o ELK, visto pelas autoridades sérvias como uma organização terrorista.
O líder separatista de Kosovo, Ibrahim Rugova, também disse concordar com as negociações, mas ressaltou que elas seriam apenas um estágio preliminar na luta da Província pela independência.



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