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DEMOCRACIA AMEAÇADA
É o que afirma diretor de missão de observação, que denuncia ações ilegais do governo Fujimori
Eleições no Peru estão "comprometidas"
LARISSA PURVINNI
da Redação
O processo eleitoral está "irremediavelmente comprometido"
no Peru, avalia missão de observação integrada pelo Centro Carter e o Instituto Nacional Democrático, com sede nos EUA.
A poucos dias da eleição presidencial, marcada para 9 de abril, o
presidente Alberto Fujimori, candidato à "re-reeleição" domina a
programação do canal estatal e
dos principais canais abertos.
Em entrevista à Folha, o diretor
do projeto de observação, Luis
Fernando Nunes, 42, afirma que
apenas medidas "heróicas" poderiam minimizar os danos.
Folha - Como a missão de observação analisa a campanha
eleitoral no Peru?
Luis Fernando Nunes - Quando
a primeira missão chegou ao Peru, em setembro, solicitamos que
todos os candidatos tivessem
acesso aos meios de comunicação. O segundo relatório foi o
mais grave. Denunciávamos a falta de objetividade na mídia, voltada para o governo. Aqui funcionam dois tipos de TV: a TV a cabo, que só consegue atingir umas
300 mil pessoas, e a aberta, com
canais que apóiam o governo.
Folha - Qual a relação do governo com a mídia na campanha?
Nunes - Os canais de sinal aberto estão em más condições financeiras e vivem da publicidade estatal. Calcula-se que o governo
gaste US$ 200 mil por dia em publicidade estatal, e as TVs estão
entre os principais beneficiários.
Folha - Que outros problemas
afetam a campanha?
Nunes - Candidatos opositores
apresentaram queixas de que,
quando faziam os comícios, de repente não havia luz elétrica, os telefones não funcionavam. Nas
praças onde faziam os atos, o governo aproveitava para fazer algum evento no mesmo local. Tudo "por acaso". Há demasiadas
"coincidências". Depois, começamos a descobrir o uso de recursos
públicos na campanha eleitoral.
Por exemplo, inaugurações de
obras públicas, em que apareciam
slogans de campanha.
Folha - Com todos esses questionamentos, é possível haver
eleições democráticas no Peru?
Nunes - Estas eleições estão sendo muito questionadas. Há manchas difíceis de limpar. O Onpe,
escritório responsável por organizar o pleito, demonstrou estar capacitado tecnicamente, mas há
um mês aconteceu algo muito
grave. Testemunhas vieram ao
nosso escritório confessando haver participado de falsificação de 1
milhão de assinaturas para aprovação da candidatura Fujimori.
Como uma coisa dessas é possível, se só o Onpe pode ter acesso a
assinaturas originais? O escritório
não abriu nem sequer um processo administrativo para investigar.
E esse é o órgão que continuará
conduzindo o processo eleitoral.
Nosso relatório diz que definitivamente não se estabeleceram as
condições para uma campanha
eleitoral justa e que, a essa altura,
o dano causado à integridade do
processo é irreparável.
Folha - Há algo que possa ser
feito para minimizar o dano?
Nunes - Como os outros candidatos ainda seguem em campanha, acreditamos que os resultados ainda não estão totalmente
comprometidos. Com base em
nossa experiência internacional,
pensamos que, se o governo tomasse algum tipo de medida extraordinária, heróica, poderia salvar o processo. Fizemos recomendações para que os meios de
comunicação fossem imparciais.
Acontece que a missão de observação foi embora e as coisas ainda
estão piores. No último fim-de-semana, o canal 7, que pertence
ao Estado, passou a mostrar informação eleitoral exclusivamente sobre o presidente, como se os
outros candidatos não existissem.
Folha - Mesmo com todas essas limitações, o candidato do
movimento Peru Posible, Alejandro Toledo, aparece nas pesquisas com chances de derrotar
Fujimori no segundo turno. Como se explica isso?
Nunes - Cada vez que um candidato começava a subir um pouco,
os jornais populares começavam
a atacá-lo. Como Toledo não aparecia com destaque nas pesquisas,
não sofreu ataques. Conseguiu
crescer porque não era alvo e depois já apareceu com uma boa
pontuação. O governo lançou
agora um contra-ataque, mas, parece, já é um pouco tarde.
Folha - É possível considerar
que o Peru seja hoje uma democracia?
Nunes - É difícil. Ninguém poderia dar uma opinião sincera sobre esse processo sem reconhecer
as enormes deficiências da democracia peruana.
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